De aluna à professora: como a Ufal Arapiraca transformou a vida de uma egressa

Conheça a história de Patrícia Ferreira, aluna da primeira turma do curso de Agronomia

Por Manuella Soares - jornalista

Há 13 anos o curso de Agronomia da Ufal formou a primeira turma no Campus Arapiraca. Foi lá no interior de Alagoas, ocupando o lugar de estudante cotista, negra e em vulnerabilidade social, que personificava a aluna Patrícia Ferreira da Silva. Conseguir o diploma de agrônoma transformou o percurso da vida dela, levando por caminhos que chegaram hoje à sua posse como professora efetiva da primeira turma de Agronomia da Universidade Federal de Rondonópolis (MT). De estudante à docente, sempre desbravando com pioneirismo. Mas na janela de tempo da graduação em 2011 até a docência em 2024 ela precisou ter algo comum aos que escolhem pela educação: dedicação e perseverança.

“Entrar e fazer o curso de Agronomia na Ufal foi desafiador e, ao mesmo tempo, transformador, mudou a realidade não só minha, mas de toda minha família. Houve muitos desafios ao longo do processo, não foi fácil, mas com apoio, determinação, persistência e perseverança as coisas vão fluindo. Meus pais sempre disseram que a educação era o único meio de conseguir mudar a realidade. Apesar de serem semianalfabetos, sempre apoiaram e incentivaram que todos os filhos estudassem, buscando mudar a realidade por meio de oportunidades que o estudo oferece”, comentou Patrícia, que entendeu a sabedoria na simplicidade dos pais de cinco filhos.

E a Ufal fora de sede sempre acreditou no potencial da educação de qualidade como proposta para os estudantes do interior e abraçou o projeto que já está consolidado. “Os professores da Ufal foram e são inspiração para mim de como ser uma boa profissional e, antes de tudo, humana, pois me acolheram e ofertaram o que tinha de melhor. Me fizeram acreditar que eu podia antes mesmo de eu acreditar”, lembrou. A comunidade acadêmica comemora coletivamente cada conquista individual, porque, muitas vezes, precisou crescer junto para se tornar forte. O professor Allan Cunha é um exemplo disso. Ele orientou Patrícia quando era recém-chegado à Ufal em Arapiraca e conta como a parceria foi importante para ambos.

“Cheguei em 2009 na Ufal e já assumi a turma de Hidráulica, uma disciplina difícil, professor sem experiência... Usava minhas aulas do mestrado na USP como referência, mas as aulas não eram suficientes para Patrícia. Ela vivia na porta da minha sala para tirar dúvida sobre os exercícios. Foi minha primeira orientada de pesquisa e tornou minha transição de aluno de doutorado para professor muito mais fácil”, relatou Allan

Frutos colhidos

O curso de Agronomia do Campus Arapiraca oferta anualmente 50 vagas para novos estudantes. As oportunidades chegam os resultados aparecem, especialmente quando há o que o professor Allan descreve sobre a então aluna Patrícia: “Gana, garra, determinação, inteligência, positividade... com essa combinação eu só podia esperar o melhor dela!”. E isso não foi de uma hora para outra. “Participei de congressos técnicos científicos junto com professores, fiz estágio em instituições de renome e oportunidades que os professores que me orientaram abriram, isso é fundamental para qualquer jovem graduando. Tive bolsa durante todo o curso, foi isso que me fez conseguir concluir. Sem as bolsas e o apoio dos professores e colegas da turma, teria sido bem mais difícil. Agradeço a todos”, ressaltou Patrícia.

Voar com as próprias asas foi a direção natural. Ela fez mestrado e doutorado em Engenharia Agrícola na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), pós-doutorado em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais na Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat), onde assumiu o cargo de professora substituta e, depois, professora visitante na Universidade Federal de Rondonópolis, onde prestou concurso para professor efetivo para a primeira turma de Agronomia do Campus e foi recentemente nomeada.

“Foram muitos desafios, mas sempre buscando levar um pouco do que aprendi com os profissionais que me ensinaram o melhor. Ser professor, antes de tudo, é ser humano, observar e visualizar o que de melhor o aluno tem e tentar fazê-lo enxergar isso. Foi isso que os meus professores da Ufal e das demais instituições em que passei fizeram. Agora, tenho a oportunidade de fazer pelos meus alunos o que fizeram por mim”, reforçou com alegria.

As marcas positivas da graduação na Ufal permaneceram, como destaca o professor Allan: “Sempre digo em reuniões e a uso em meus exemplos em sala de aula. Mulher, negra, simples e com um potencial imenso. Fico feliz por fazer parte da mudança que a educação proporcionou a ela e a outras tantas Patrícias que passaram por aqui”.