Ufal celebra a história de mulheres negras na luta por direitos e equidade
Data comemorativa discute conquistas e a importância da representação feminina negra na universidade
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“Quando disser que vi Deus, ela é uma mulher preta...”. É dessa forma que o cantor Emicida, em sua canção “Mãe”, exalta o poder das mulheres negras e evidencia suas singulares potencialidades. Nesta quinta-feira (25), é comemorado o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, uma data que traz consigo a reflexão sobre ser uma mulher negra na sociedade e evidencia suas lutas diárias por um presente mais justo e equitativo.
A data foi instituída há 32 anos, no 1º Encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, realizado na capital da República Dominicana, com o objetivo de denunciar e discutir as opressões, o racismo e o machismo sofridos pelas mulheres negras na sociedade. Já no Brasil, o dia também é conhecido pelo Dia Nacional de Tereza de Benguela, data instituída em 2014 através da lei 12.987. Tereza foi uma importante líder quilombola do século XVIII, símbolo de força e resistência por ter liderado o Quilombo Quariterê, com mais de 100 pessoas, e resistido à escravidão por mais de duas décadas.
Regla Toujaguez ressalta a importância desta data na sociedade brasileira. Ela que é cubana, engenheira geóloga, faz parte do corpo docente da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), e atualmente ocupa o cargo de coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) no Campus de Engenharia e Ciências Agrárias (Ceca). “Apesar de termos um racismo ainda muito enraizado na nossa sociedade, eu prefiro me referir à data de hoje como um dia de celebração de conquistas. No decorrer dos séculos muitas mulheres passaram por momentos de violência e direitos negados, mas, figuras como Tereza de Benguela, por exemplo, lutaram fortemente para que hoje as mulheres negras tivessem a oportunidade de fazer e ser o que quiserem. Isso significa muito para mim”, compartilha a professora.
Pretas nas Ciências
A Ufal celebra o dia 25 de julho com um evento realizado em parceria com os Neabis da Uncisal, da Uneal e do Ifal, na próxima segunda-feira (29). O evento intitulado Pretas nas Ciências acontecerá no auditório Oscar Sátiro, localizado no Campus Maceió, no Ifal. A participação é gratuita e aberta para estudantes universitários, de ensino médio e sociedade em geral, e integra a programação oficial do Julho das Pretas, organizado pela Rede de Mulheres Negras do Nordeste. Para saber mais sobre o evento, clique aqui.
No perfil oficial da Ufal no Instagram é possível conferir a campanha que o Neabi preparou em comemoração ao Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha.
Mulheres no Neabi da Ufal
Para Regla, a Universidade tem um papel importante na inserção de mulheres negras na pesquisa, ensino e extensão, através das ações afirmativas e tendo o Neabi como forte aliado. Além de Regla, o Neabi da Ufal é composto por mais duas mulheres negras: Rosa Correia, vice-coordenadora, e Marli Araújo, coordenadora do Neabi no Campus Arapiraca.
Toujaguez recorda de importantes nomes femininos do movimento negro que fizeram história na Universidade. “A professora Ângela Bahia, meteorologista aposentada, foi diretora do Neab da Ufal nos anos 90 e até hoje segue participando ativamente das atividades que envolvem a temática da negritude. Uma verdadeira inspiração! Outra mulher que eu não poderia deixar de citar é a Lígia Ferreira, professora da Faculdade de Letras (Fale), que coordenou o Neabi na gestão anterior e deixou um grande legado para que pudéssemos dar continuidade”, relembra a coordenadora.
“A partir das articulações do movimento negro, meus votos para o futuro são que as mulheres negras tenham oportunidades de ocupar espaços importantes em todos os âmbitos profissionais, que tenham liberdade de fazer o que quiserem e que sejam libertas das estatísticas relacionadas à violência. Além disso, penso também numa perspectiva de mais cuidado e acolhimento por parte da sociedade”, complementa.
Mulheres no Movimento Negro
Uma das figuras femininas de renome nacional e que tem significativa importância no Movimento Negro no Brasil é Zezé Motta, atriz e cantora, que participou do I Simpósio Nacional sobre o Quilombo dos Palmares, em 1981, com outras mulheres, como Lélia Gonzalez, Vera Triunfo, Dulce Pereira, Wanda Chase, Vanda Menezes, Socorro França e Angela Bahia.
O evento debateu sobre a questão do negro no Brasil, assim como levantou discussões sobre qual o papel de mulheres negras na sociedade brasileira. Zezé finalizou uma das mesas cantando a música “Senhora Liberdade”, de Wilson Moreira e Nei Lopes, no auditório da Reitoria da Ufal, na época, localizada na praça Sinimbu.
A artista retorna à Alagoas nesta sexta-feira (26), com o show “Coração Vagabundo - Zezé canta Caetano”, que acontecerá no teatro Gustavo Leite, no Jaraguá.