Servidor técnico conclui doutorado com pesquisa sobre o trabalho docente
Edson Lima conta sobre sua jornada e como fez para conciliar trabalho, estudos e concluir o doutorado
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A intensa quantidade de demandas administrativas, além dos cuidados com a vida pessoal e famíliar, não foram empecilhos para que o servidor José Edson Ferreira Lima concluísse com louvor o doutorado em Linguística, pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística e Literatura (PPGL) da Faculdade de Letras (Fale) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Ao contrário, foram motivações a mais para que ele se dedicasse e fizesse tudo com maestria. “Esse processo de conciliar trabalho, família e doutorado é muito difícil, pois todas essas coisas demandam muito da gente. Mas eu fiz essa opção de não me afastar do trabalho por que pra mim é muito importante continuar o projeto que venho desenvolvendo na área de licitações e contratos”, explica.
É que ao mesmo tempo em que era aprovado no doutorado, Edson, que é coordenador de Administração de Suprimentos e Serviços da Pró-reitoria de Gestão Institucional (Proginst) da Ufal, era convidado pelo reitor Tonholo para implantar na Universidade todo um modelo de licitações e contratos que ele tinha começado em Arapiraca. “Eu não queria sustar esse projeto. Então era importante implementar esse trabalho, pois acredito muito nele. Mas tive que sacrificar algumas noites de descanso e finais de semana para dar conta das leituras e escrita da tese”, conta.
Graduado em Letras pela Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), Edson fez o mestrado na Ufal e conta que o interesse pelo tema da docência surgiu ainda quando era professor da educação básica. “Durante sete anos lecionei na educação básica e me interesso por esse tema. Além disso, na minha pesquisa de mestrado estudei como era refletido o discurso sobre o trabalho docente no texto jornalístico”, diz.
Quando conheceu o Superprof [uma plataforma on-line para aulas particulares] e o processo de “uberização” do trabalho, sentiu que esse era o caminho para a pesquisa do doutorado. “Isso me instigou a entender como o trabalho docente estava se encaixando nessa conjuntura”, afirma. Segundo ele, a ressignificação do trabalho docente agora “uberizado”, dá-se na medida em que o docente se torna empreendedor e perde predominância em relação ao discente, de modo que o aluno-cliente passa a exercer a autoridade nessa nova relação comercial que se estabelece.
Orientado pela professora Maria do Socorro Aguiar, o trabalho intitulado Compartilhe seus conhecimentos, viva da sua paixão e torne-se independente: uberização e efeitos de sentido sobre o trabalho docente na plataforma ‘superprof’, se destaca pela percepção da mudança no mundo do trabalho e de como as relações de trabalho estão mudando, especificamente o trabalho docente.
“Hoje a visão que se tem do trabalho docente tem mudado bastante, de antes, quando era um trabalho visto como uma missão, um sacerdócio, à uberização do trabalho, onde ele é colocado como um produto que está ali para ser contratado e avaliado, essa visão tem sofrido uma ruptura, uma mudança drástica, uma quebra nos sentidos que havia desde então. Não como uma negação, mas uma nova situação, uma ressignificação do trabalho docente”, explica.
Essa reorganização dos sentidos acaba por ser uma condição para que o trabalho docente se insira nessa conjuntura nova, é realmente um novo contexto de exploração do trabalho, que materializa-se de modo especial, nos aplicativos e plataformas de intermediação de serviços e suas nuances. “Hoje conseguimos contratar quase tudo por aplicativo, avaliar por estrelinha… Há uma dinâmica de contratação por aplicativo”, relata.
Entre sonhos e dificuldades
Hoje apenas 0,2% dos brasileiros tem doutorado. Esse índice mostra o atraso em que está inserido o Brasil num momento em que a média dos países é de 1,1% e já é baixa. Por outro lado, ter mais um servidor avançando na vida acadêmica, é motivo de orgulho para a Ufal e para o estado de Alagoas. “A representatividade deste dia me ressoa significados ainda mais fortes pelas dificuldades que enfrentei. Isso porque conciliei mais uma vez as extensas e densas leituras, o tempo de escrita e de pesquisa com minhas atividades profissionais. Ou seja, mesmo no último degrau da vida acadêmica não desfrutei daquilo que desejo desde a 6° série do ensino fundamental: tempo suficiente para estudar”, conta Edson.
Essa dicotomia entre o que ele mesmo chama de “aguentar o sol e esperar o frescor, suportar a chuva com o corpo enrijecido e esperar o momento de se aquecer”, fez com que ele, resistindo às longas horas de trabalho perseverasse e chegasse ao final da jornada com êxito.
Para os servidores que pensam em entrar na pós-graduação e estão receosos, Edson tem um conselho: “A primeira vista parece difícil fazer um mestrado ou um doutorado e conciliar com as outras atividades da nossa vida. Mas eu diria que vale o sacrifício, vale a pena fazer um esforço temporário com a convicção de que você vai concluir esse ciclo. Vale a pena fazer um esforço a mais, não é algo que vai durar eternamente. Encerrar esse ciclo, tanto do ponto de vista financeiro como acadêmico e como pessoa, vale muito a pena. Quando a gente pensa que não aguenta, sempre há uma energia a mais, uma força extra que nos ajuda a superar”.
Novos desafios
Durante a banca de defesa estiveram avaliando o trabalho, os professores Doris Maria Fiss, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Raquel Ribeiro, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), e pela Ufal, Sóstenes da Silva e Débora Massmann. Após o trabalho, a banca recomendou a publicação da tese em formato de livro. “Pretendo organizar o texto e buscar publicação para que a pesquisa possa provocar reflexão e promover avanços”, diz.
E para confirmar que Edson ama desafios, ele agora quer partir para a docência universitária. “Pretendo fazer concurso para docente, gosto de sala de aula e de ensinar, e gosto também do trabalho técnico. Gosto muito do que faço, de lidar com contratos, patrimônio, e gosto de fazer isso lidando com pessoas, coordenando, orientando, fazendo um trabalho de colaboração, dando a essas áreas um caráter de discussão e colaboração, tirando dessas áreas o caráter meramente burocrático, pois entendo que essa é a forma de elevar a qualidade e tornar o processo mais palatável e motivador”, afirma.
Parabéns, Edson! A Universidade só tem a ganhar.