Servidora Maria do Carmo Azevedo se aposenta após 50 anos de serviço na Ufal

Emoção, reconhecimento e agradecimentos marcaram despedida de “Carminha do Cerimonial”, como é carinhosamente conhecida

Por Diana Monteiro – jornalista
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Carminha com o pró-reitor Estudantil, professor Alexandre Lima
Carminha com o pró-reitor Estudantil, professor Alexandre Lima
A vida transcorre em ciclos, ora permeados por desafios, ora por momentos prazerosos e de mudanças. Desde o dia 26 de junho, a vida da servidora Maria do Carmo Leite Azevedo entrou em novo ciclo, com a aposentadoria na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), depois de cinco décadas de dedicado e competente trabalho na maior e mais antiga instituição de ensino superior público do estado. Um ano que marca, também, os 75 anos de vida, de Carminha, como é carinhosamente chamada, completados no dia 20 de julho.
Dos 50 anos de trabalho como servidora, 28 anos foram dedicados ao cerimonial universitário, como mestre de cerimônia, com o privilégio, como costuma dizer, de acompanhar a evolução da Ufal, instituição que deu oportunidades para seu crescimento pessoal e profissional. Uma Ufal que Carminha viu crescer e a fez crescer também! Um “jubileu de ouro” no serviço público federal, na mesma instituição onde estudou, trabalhou, colaborou e viu ser consolidada como patrimônio do povo alagoano.
Com a aposentadoria, claro que não poderia faltar uma despedida à altura dos 50 anos. Seus colegas e amigos da Proest prepararam uma surpresa para Carminha. Ela foi prestigiada por muita gente, inclusive o reitor Josealdo Tonholo, além de representantes da gestão, amigos e familiares. Emoção, agradecimentos e reconhecimento marcaram o grande encontro, enaltecendo a valorosa contribuição da servidora. O que a faz relembrar o que tanto a deixa feliz: “Eu já não sou a mesma, desde o momento em que passei a ser chamada, também, de ‘Carminha da Ufal’, principalmente, fora de ambientes universitários. Há quem também me chame de ‘A voz da Ufal’. Trabalhar na instituição, onde ingressei por concurso, para mim, é um prêmio que recebi na vida. Sempre agradeço esse meu privilégio de pertencer a uma instituição que vi crescer, participei de sua evolução, em momentos, também de minha formação, como estudante e depois de um tempo como servidora”.
Sobre a aposentadoria, um novo ciclo que começou a viver há menos de dois meses, ela aproveita para destacar: “Sinto-me parte viva da Ufal! São inúmeras as pessoas que encontro, nos lugares que frequento, até nas procissões, que falam: ‘- Você é da Ufal, não é? Foi quem fez minha colação de grau!’ Imagine o que representa para mim? É o ápice de minha trajetória, como MC [mestre de cerimônia]! Chega a ser Divino! Saber que deixamos “marcas” e não apenas passamos pela vida. É deveras gratificante!”
Retrospectiva
Técnica em Assuntos Educacionais (TAE), seu último setor de trabalho foi a Pró-reitoria Estudantil (Proest), onde se aposentou. A intimidade de Maria do Carmo com a Ufal antecede sua trajetória como servidora, com a primeira graduação concluída em Letras-Inglês e, posteriormente, o curso de Direito, iniciado em uma instituição particular.
Carminha ingressou na instituição, por meio de concurso público, no dia 18 de junho de 1974, na gestão do reitor Nabuco Lopes, quando a instituição ainda ocupava o Campus Tamandaré, lá no bairro do Pontal da Barra. O primeiro setor de trabalho foi o Departamento de Educação que integrava o então Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA), no cargo de amanuense auxiliar, que corresponde, atualmente, ao de técnico- administrativo (nível médio). De lá para cá a jornada é longa. Teve uma ativa e dedicada atuação administrativa, com aprendizados e colaboração em vários setores da Universidade. Acumulou experiência, conhecimento e competência. Espirituosa e de bom convívio, colheu uma legião de amigos. A amizade semeada segue no transcorrer do tempo e não podia ser diferente. Quem não conhece “Carminha do Cerimonial”?.
No percurso da vida institucional de Carminha estão a participação na Comissão da Constituição de 1988, no âmbito universitário, o trabalho como primeira secretária do Centro de Educação (Cedu), quando de sua criação, onde também foi representante de seu segmento no Conselho da unidade acadêmica. Com a mesma finalidade, também fez parte do Conselho do então CCSA, mas Carminha faz um destaque para a sua grande identificação com setores de atendimento ao aluno, atividade iniciada nas coordenações de Pedagogia, Serviço Social e Direito e, posteriormente, no então Departamento de Assuntos Acadêmicos (DAA), atual Departamento de Registro e Controle Acadêmico (DRCA). Sobre o trabalho com diversificação de tarefas para lidar com a dinâmica de todos os cursos, a experiente servidora diz:
“A atuação no DAA foi um grande desafio, uma vez que saí do universo do secretariado nas coordenações de apenas três cursos para atuar com todos os cursos de graduação da Universidade. Sendo necessário o desenvolvimento de habilidades para o uso da legislação, normativos, resoluções no âmbito institucional e do Ministério da Educação. Outro desafio, foi trabalhar com a monitoria e estágios, na Proest, pois, além do corpo discente, ainda tinha que tratar com as instituições parceiras dos campos de estágio”, enfatizou.
Além do trabalho administrativo e acadêmico, Carminha também se destacou em outras áreas. Identificada com as artes, também fez teatro e participou do Corufal, coro da Universidade, à época regido pelo maestro Benedito Fonseca.
Na retrospectiva dos 28 anos de cerimonial, conduzindo marcantes solenidades, Carminha pôde acompanhar ainda mais de perto não só o crescimento da Universidade, mas a importância dessa instituição, enquanto patrimônio do povo alagoano e maior vetor de desenvolvimento para o estado. A servidora, agora aposentada, elege a expansão para duas regiões de Alagoas como o grande marco da história da Ufal.
“Foi gratificante participar do lançamento da pedra fundamental dos campi Arapiraca e do Sertão. Posteriormente, também da colação de grau das suas primeiras turmas, contemplando a felicidade e a gratidão daqueles alunos e de suas famílias”, lembrou, ao falar da emoção “de ver a Ufal chegar a quem a ela não podia chegar, onde a educação é determinante para mudança de realidade de vida”.
Desafios
Alguns desafios também permearam sua trajetória, mas Carminha diz que nenhum se comparou aos de 2020 e 2021, anos marcados pela pandemia da covid-19, que mudou radicalmente a vida das pessoas no mundo todo. As rotinas universitárias tiveram que se adequar a esse momento, com as atividades remotas, conforme os protocolos de segurança estabelecidos de cuidados e de enfrentamento à pandemia. Pelo trabalho que exercia, Carminha, só pode voltar à sua rotina em 2022, e, relembra, o grande desafio que foi para ela:

“Fui tomada pelo pânico, pela melancolia, achei que não voltaria mais ao trabalho e vendo tanta gente ‘partir’, pessoas amigas! Sentia-me também ameaçada, achei que não resistiria. O distanciamento do trabalho, do convívio social e da Ufal, mesmo com a consciência da realidade de então, enfrentar e encarar uma mudança tão radical de vida, não foi fácil”. Mas passada, o que ela considera como tormenta, o retorno em 2022, foi muito comemorado: “Ir para a Ufal é como se eu tivesse voltado a viver, senti-me viva, sem cansaço, sem medo!”, expressou com emoção, demonstrando o quanto a Universidade sempre representou e continua representando na sua vida.

Carminha diz que vem tentando se adaptar ao novo momento, a vontade de permanecer na ativa é grande, mas tem a consciência de que “o tempo chegou”. “O tempo de 50 anos de trabalho é uma existência. Apartar-se disso torna-se difícil. Principalmente quando se ama o que faz. Mas, nada é para sempre. Chegou o tempo! É Bíblico! Há um tempo para tudo. São os ciclos da vida.”
“É hora de outros assumirem o honroso papel de cerimonialista, especialmente, de mestre de cerimônias”. Numa mescla de saudade e gratidão, declara: “Que venham os jovens, que venham outras vozes! A Ufal para mim é vida! Viver é sempre prazeroso. Será sempre a minha casa-mãe, o meu paraíso, o meu grande prazer, a minha história de vida!”.
Futuro
Nos projetos de sua nova vida, inicialmente, prioridade aos cuidados com a saúde, a exemplo de retorno às atividades físicas e às aulas de inglês. Continuar aprofundando os conhecimentos sobre cerimonial universitário, visando consultorias em instituições particulares, assim como participar de um coral de terceira idade também estão no planejamento de Carminha, pela “paixão” que tem pela música e pelas artes em geral. “Meu neto João Victor tem o projeto Sementes do Vale, voltado aos jovens residentes no Vale do Reginaldo e quem sabe se também não poderei colaborar, juntando-me a ele”, declarou.
Maria do Carmo Azevedo receberá, ainda este ano, junto a outros colegas de instituição, a Medalha do Mérito Universitário, pelos 50 anos de trabalho, pela trajetória profissional, que por vezes se mistura com a própria história da Ufal. A merecida homenagem, aprovada e concedida pelo Conselho Universitário (Consuni), está prevista para o mês de outubro.
Agradecimentos
Os agradecimentos são muitos. Ela fala do companheirismo existente na equipe, apoio, acolhimento e estímulos recebidos, da gestão central aos trabalhadores terceirizados, tudo para otimização das ações do cerimonial. “Eu tive ao meu lado duas grandes servidoras e um servidor como apoio: Fátima Leobino, Inez, que está aposentada há um tempo, e o saudoso Rinaldo, que foi chefe de gabinete. Depois, juntaram-se a mim e à Fátima, a servidora Maria do Carmo Siva, somando, cada vez mais, o sucesso da caminhada. Em seguida mais uma aquisição muito importante, a Maria do Carmo Cavalcanti, do DRCA, que nas colações de grau se fazia presente com as atas dos concluintes e os diplomas. “Sem essas servidoras, o cerimonial universitário não teria caminhado até onde se encontra, nem teria vislumbrado o sucesso que ora é tão visível. O meu eterno agradecimento a todas essas queridas pessoas”.
Também agradece aos reitores e reitoras honorários que confiaram a ela a missão, apoio recebido para qualificação e participação nos fóruns nacionais: “Ao magnífico reitor Josealdo Tonholo, a minha eterna gratidão pela maneira gentil e carinhosa como sempre me tratou, e, acima de tudo, por deixar-me permanecer à frente do cerimonial, embora já no ‘crepúsculo’ de minha vida. Obrigada, meu querido professor Tonholo”.
E para quem sempre considerou a Ufal “a sua segunda família” não poderiam faltar os agradecimentos à comunidade universitária, pelo compartilhamento de rotinas de trabalho, de vivências, comemorações, de lutas, de enfrentamento aos desafios e de união e, nesse contexto cita as quatro entidades [Sintufal, Atufal, Adufal e DCE]. Agradeço também às equipes que compõem a gestão, por meio dos gabinetes, pró-reitorias e unidades acadêmicas. O meu especial agradecimento à Pró-reitoria Estudantil, último setor onde estive lotada, pela grande acolhida. À equipe da Assessoria de Comunicação, pelo trabalho competente que realiza e que por inúmeras vezes deu visibilidade ao cerimonial. Aos terceirizados, dedico grande respeito, pelo compromisso com o trabalho”.
Agora, a saudação “Senhoras e senhores, sejam todos bem-vindos e bem-vindas!”, rotineiramente ouvida nas solenidades da Ufal na voz da mestre de cerimônia Maria do Carmo Leite Azevedo, durante 28 anos, ficará em nossos corações e permanecerá ecoando na história da Ufal, coroada pelos grandes e inesquecíveis momentos!