Professor da Stanford University divulga programa de bolsas para brasileiros
Guilherme Lichand fez palestra para estudantes e destacou a importância do intercâmbio para formação acadêmica e pessoal

A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) recebeu, na última semana, o professor Guilherme Lichand, da Stanford Graduate School of Education. Ele participou de um encontro com estudantes dos cursos de Administração, Economia, Jornalismo e Tecnologia da Informação e falou sobre os dados da pesquisa Equidade.Info e as oportunidades de bolsas de estudos para brasileiros nos Estados Unidos.
A conversa com os discentes aconteceu no auditório do Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais (Nees), no Campus A.C. Simões e contou com a participação do deputado federal Rafael Brito e o professor Niraldo de Farias, coordenador da Assessoria de Intercâmbio Internacional (ASI) da Ufal.
Reconhecido pela MIT Technology Review como maior inovador social do Brasil entre empreendedores com menos de 35 anos, Lichand ressalta a experiência única que é o aprendizado intercultural. “Isso enriquece a formação, amplia os horizontes. Por que não ter aspirações maiores de contribuir para a ciência de ponta, embarcar em um dos programas mais concorridos e voltar para melhorar o nosso país?”, destacou o professor, que é PhD em Economia Política e Governo, pela Universidade de Harvard.
E completa: “Toda a oportunidade de conhecer outras universidades, sobretudo fora do Brasil, ajudam o aluno a entender como é que funciona a ciência de ponta em outros espaços, em países que estão na liderança do conhecimento.”
O deputado alagoano Rafael Brito, reforça a importância do evento e o desejo de capacitar estudantes nordestinos no meio internacional: “Vale muito a pena, aplica, se inscreve, participa, que a gente quer ter a honra de ter representantes de Alagoas lá na Universidade de Stanford”, disse.
Em busca de talentos
Durante a palestra, Lichand apresentou as oportunidades de bolsas para brasileiros estudarem na prestigiada Universidade de Stanford, que faz parte da Ivy League — um grupo de universidades norte-americanas renomadas e reconhecidas globalmente pela excelência acadêmica. “Esse ano, temos seis bolsas para distribuir e só conseguimos preencher quatro delas”, disse, logo após afirmar que há mais vagas do que pessoas inscritas.
O pesquisador também informou que os inscritos normalmente residem no eixo Rio-São Paulo e Minas Gerais. Entretanto, ele almeja ver mais talentos do Nordeste nos corredores de Stanford: “Espero convencer alguns de vocês a tentarem se inscrever. O objetivo dessa divulgação é garantir que a turma muito boa da Ufal e de outras universidades do Nordeste saibam que isso [intercâmbio] é possível, está acessível e é desejado. Eu espero que mais alunos daqui tentem e muitos consigam para que a gente esteja junto nas próximas gerações.”
Segundo o professor Lichand, o maior obstáculo tem sido a obrigatoriedade do inglês fluente, com nota mínima de 100 no exame do Toefl. Além disso, existem outros requerimentos necessários para concorrer ao intercâmbio: carta de recomendação, mínimo de duas, escritas por autoridades com quem o candidato teve contato ou trabalhou, como professores e chefes; carta escrita pelo candidato, na qual ele explica como pretende contribuir para mudar o Brasil.
As bolsas de estudos são ofertadas pelo Lemann Center, localizado em Stanford, e é aplicável para pesquisadores de diferentes áreas. Não é preciso pagar: a universidade norte-americana arca com os custos de estádia, alimentação, etc. Se o candidato aprovado for de baixa renda, o Lemann Center também cobre a passagem de ida e volta.
As oportunidades para estudar na Universidade de Stanford são para mestrado, doutorado – o mais concorrido, e atualmente tem quatro brasileiros com essa bolsa – e visitantes. Anualmente Stanford recebe dez estudantes nessa categoria. Não é preciso estar formado no momento da inscrição, apenas no início do programa. Para mais informações, acesse o site oficial do Lemann Center.
‘’Cada um aqui com a sua história de compromisso com a educação, da educação ter transformado a sua vida, a gente transformar essa questão do Brasil, do seu estado e do país, abre as portas para que esses alunos tentem fazer parte desse projeto.’’ ressaltou Lichand, reafirmando seu desejo de ter mais pesquisadores brasileiros em Stanford.
Desconto no TOEFL
“Vocês têm que fazer o TOEFL. É extremamente importante”, aconselhou o professor Niraldo, durante o evento. “É extremamente importante que vocês aprendam mais línguas, primeiro o inglês, mas, depois, mais idiomas”, completou.
A Ufal tem parceria com o Grupo de Cooperação Internacional de Universidades Brasileiras (GCUB) e a Educational Testing Service (ETS) e oferece um desconto de 15% para o exame Toefl IBT, destinado a estudantes, professores, técnicos e pesquisadores da instituição. O voucher é válido para as modalidades Test Center e Home Edition. “Vocês não estão se formando para permanecer em Maceió, estão se formando para serem cidadãos e cidadãs do mundo”, afirmou Niraldo de Farias.
Análise de dados
Durante a palestra, o pesquisador apresentou a iniciativa Equidade.Info - Painel Representativo de Escolas do Brasil, um portal de dados longitudinal que reúne informações para serem usadas na tomada de decisões de políticas públicas no Brasil. O foco do projeto, que funciona sem fins lucrativos, é a educação básica.
Lichand aponta que as informações raciais existentes antes da Equidade.Info possuíam muitas variáveis que afetavam a sua veracidade; em especial, a ocorrência de professores e gestores escolares selecionando a etnia das crianças e adolescentes sem perguntar a elas – o que, na visão do professor, era diretamente afetado pela visão de mundo desses responsáveis.
Ele também explica que há uma ‘’mudança na identificação de raça’’ até mesmo entre os adultos, quando eles passam por situações que causam ‘’mudança de status’’, tais como prisão ou demissão. Assim, esse fenômeno também se estende aos estudantes. Nesses casos, aspectos como capacidade de leitura em uma idade considerada “adequada’’ e deficiências que afetam o aprendizado (como dificuldade de ouvir) são vistas como motivadores para inconsistências durante as entrevistas, servindo para a escola “embranquecer” alunos que não se encaixam nessas definições e classificar como parte de etnias não-brancas estudantes que apresentam essas características. ‘’Raça é uma questão social. O racismo existe. Se o racismo estrutural não existisse, não teríamos esses fenômenos’’, declarou o professor.
A maneira de coletar do projeto traz um recorte mais preciso da realidade brasileira, tendo em vista que conta com a heteroidentificação dos estudantes. Os índices estudados também foram comparados com pesquisas realizadas nos Estados Unidos.