Graduação em Letras-Libras comemora datas especiais em setembro

A Ufal está entre as seis instituições federais de ensino superior público com cursos de excelência na área

Por Diana Monteiro - jornalista
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Setembro é um mês de muita comemoração para a comunidade acadêmica do curso de Licenciatura em Letras-Libras da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). É o mês com duas datas nessa área de conhecimento vinculada às ciências humanas e sociais: Dia Internacional das Línguas de Sinais (23) e Dia da Pessoa Surda (26). Mas também marca o aniversário do curso - primeira turma em 22 de setembro de 2014 - com a conclusão em 2019 dos primeiros profissionais preparados para atuação no mercado de trabalho.

Para a Ufal será sempre uma grande celebração pelo que representa o curso: mais um exitoso projeto de inclusão social com foco na formação qualificada. Além de se destacar como pioneira local ao oportunizar o acesso ao ensino superior público e gratuito, em área tão específica, a Ufal se projeta também no estado por ser única a ofertar a graduação na modalidade presencial. O crescimento acadêmico consolida a instituição alagoana dentre as seis universidades no país que possuem graduações de excelências em Letras-Libras. Estão nesse patamar as universidades federais de Goiás (UFG), do Amazonas (UFAM), do Paraná (UFPR), de Santa Catariana (UFSC) e do Maranhão (UFMA).

O coordenador do curso da Ufal, professor Humberto Meira de Araújo Neto, destaca que eventos marcarão as datas com programação em parceria com o Centro de Atendimento ao Surdo e com o Instituto Federal de Alagoas (Ifal). “Vamos demonstrar o dinamismo das atividades acadêmicas e o compromisso para otimização da graduação, assim como chamar a atenção para a importância da formação na área”, anuncia ele.

Durante a Bienal Internacional do Livro de Alagoas , no domingo 9 de novembro, o curso vai promover a atividade “Cartografias Visuais em Línguas Sinalizadas”, com debate sobre a produção e acesso a livros visuogestuais num cenário tecnológico que favorece essa modalidade literária. A atividade será protagonizada pelos estudantes do curso, sob a minha coordenação do professor Humberto Meira e da professora Lígia Ferreira. “Teremos, também, atividades culturais com o professor Thiago Souza”, complementa.

Histórico

No Brasil, o curso de Licenciatura em Letras-Libras surgiu em 2005, atendendo ao Decreto nº 5.626/2005 de criação de cursos de formação de professores de Libras, tendo sua primeira turma composta por cerca de 90% de alunos surdos. O curso tem o objetivo geral de produzir e divulgar conhecimento específico das Libras nas áreas de língua, literatura e cultura. Faz parte de uma política bilíngue nacional de incentivo ao uso e difusão da Libras, bem como de melhoria da educação da pessoa surda. Na Ufal, a Licenciatura está atrelada à Faculdade de Letras (Fale), uma das unidades acadêmicas do Campus A. C. Simões, que funciona em Maceió.

O professor Humberto Meira diz que desde a criação da Licenciatura, surdos falantes de Libras passaram a ingressar na Universidade, ampliando a diversidade linguística e impulsionando práticas mais inclusivas, com a consolidação da estrutura de tradução e interpretação. Não havia profissionais e hoje são 21 tradutores-intérpretes no Campus A. C. Simões, atuando no Letras-Libras, em outras graduações, na pós-graduação em Linguística e Literatura e em eventos institucionais.

“Esse percurso vem sendo reconhecido: obtivemos avaliação máxima nas duas avaliações do MEC. No campo acadêmico, participamos de projetos de pesquisa nacionais e internacionais em línguas de sinais, contribuindo para a produção de conhecimento e para a promoção da língua de sinais, em conformidade com o que preconiza o Decreto 5626”, comemora Humberto enaltecendo a importância do curso para a sociedade local.
Qualificação
Sobre a oportunidade para a continuidade da qualificação na Ufal, a exemplo da pós-graduação, Humberto acrescenta que houve uma abertura para que o processo seletivo do programa pudesse ser realizado na primeira língua do candidato. “No caso da pessoa surda, a primeira língua é a língua de sinais. A pós-graduação em linguística e literatura já existia e as linhas de pesquisa também são as mesmas que o programa já possui”.
O curso de Letras-Libras possui dois laboratórios de gravação de vídeos e um intenso trabalho para cada vez mais estruturar as rotinas acadêmicas. “Gostaríamos de ter uma estrutura melhor para a produção de materiais em Libras, como Laboratório de Informática, equipamentos para filmagem e edição, mas aos poucos vamos tentando chegar próximo do que queremos: oferecer material de qualidade em língua de sinais e socialmente referendado, sobretudo por parte da comunidade surda”, destaca ele.

Na estrutura de aprendizados e otimização das ações da área também fazem parte a Casa de Cultura no Campus (CCC) e a Casa de Cultura e Expressão Visuogestual (CCEV). Ambas são voltadas para o ensino de Libras para a comunidade acadêmica e externa. Os programas institucionais de Bolsas Pibic e Pibid, além de projetos de extensão, alguns atualmente em fase de confirmação, demonstram o empenho para a formação de recursos humanos em conexão com às demandas da sociedade na área.
Obstáculos e desafios
Graduado em Jornalismo na Ufal e Letras-Libras na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Humberto Meira inicialmente ingressou como professor substituto na instituição, onde fez mestrado e doutorado em Linguística. Atualmente, entre outras disciplinas do curso, ministra Fundamentos da Libras, Estudos da tradução e interpretação, Tecnologia da informação e Avas, Crialibras, Coleta de dados em línguas de sinais. “Temos 91 alunos ativos, destes, 24 surdos, e somos 13 docentes. Os maiores desafios são garantir a acessibilidade linguística durante toda a trajetória acadêmica dos alunos surdos e saber como agir diante das lacunas provenientes da Educação Básica”.

Ao reforçar que o curso objetiva formar professores de Libras para atuar na educação básica e superior, o professor Humberto aproveita também para discorrer um pouco sobre alguns obstáculos encontrados com base na realidade da educação em Alagoas: No nível superior, temos encontrado abertura para a atuação na área. Na educação sica, por outro lado, ainda encontramos alguns entraves, uma vez que a Libras ainda não é enquadrada no currículo da maioria das escolas do estado. Esse é um debate que temos provocado e no qual precisamos avançar. O que temos notado é que boa parte dos nossos egressos seguem atuando na área, mas como tradutores intérpretes. Queremos que a docência na área da língua de sinais também seja uma realidade”, conclui.