Novo boletim do C4 mantém Maceió nas recomendações para lockdown e não flexibilização
Pesquisadores falam em efeito bumerangue com sobrecarga de pacientes do interior, onde os casos dobram a cada sete dias
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Como já previsto pelo Comitê Científico de Combate ao Coronavírus Consórcio Nordeste (C4), que conta com a participação de pesquisadores da Ufal, a interiorização da pandemia está acelerada. No último boletim, divulgado na quinta-feira (2), os casos de covid-19 no interior de Alagoas estão dobrando a cada sete dias, enquanto na região metropolitana de Maceió os números dobram num intervalo de 11 dias. Os cientistas alertam agora para um “efeito bumerangue”.
“Nesta condição, o aumento de casos no interior dos estados resulta num fluxo de pacientes em estado grave para as capitais dos estados, uma vez que estas são as únicas que dispõem da infraestrutura hospitalar adequada - como leitos de UTI - para tratar destes casos”, salienta o boletim do C4.
Considerando os dados oficiais até 30 de junho, o Nordeste responde por mais de 470 mil casos e quase 19 mil óbitos. Alagoas continua registrando aumento de casos em todo o Estado e, segundo o documento, cidades importantes do interior apresentaram altas taxas de crescimento, como Palmeira dos Índios (62%) e Arapiraca (77%). Já cidades menores registram expressivos e preocupantes aumentos, como é o caso de Campo Alegre, com 310% de casos a mais se comparado ao boletim anterior.
O Governo do Estado iniciou nesta sexta-feira (3) a primeira etapa da flexibilização do comércio, com a reabertura de parte das lojas, depois de mais de cem dias fechadas. Mas os representantes do C4 reiteram a preocupação com a medida e na contramão disso, recomendam ações ainda mais restritivas.
“Devido a alta taxa de ocupação de leitos de UTI, verificada nos últimos dias, este Comitê recomenda o lockdown da cidade de Maceió, que deveria incluir barreiras sanitárias e controle de tráfego de carros particulares e ônibus intermunicipais pelas principais rodovias que deixam a capital em direção ao interior do estado”, ressaltam os membros do comitê.
Para embasar a recomendação, o documento apresenta gráficos que apontam uma tendência de estabilização, e não a diminuição dos casos, visto que os pesquisadores analisam que Alagoas ainda não chegou no pico da pandemia.
O boletim traz também os mapas da região Nordeste com cores que diferenciam a matriz de risco de cada Estado. Levando em conta o período de 22 a 26 de junho, Alagoas aparece na faixa vermelha em todos os índices: Tensão do sistema de saúde, estado de epidemia, e nível de isolamento social.
“Baseado em nossa análise de risco, não vemos a possibilidade de nenhuma flexibilização ser implementada, nem no interior, nem na capital de Alagoas neste momento”, reitera o documento.
Medidas sugeridas
Além de, mais uma vez recomendar a “instituição imediata de lockdown e/ou reversão de planos de afrouxamento do isolamento social” para Maceió e outras seis cidades do Nordeste, o Comitê Científico de Combate ao Coronavírus Consórcio Nordeste sugere outras ações urgentes.
Entre as medidas elencadas estão barreiras sanitárias e bloqueios temporários de todo tráfego não essencial, de carros particulares e ônibus, pelos maiores entroncamentos rodoviários do Nordeste.
“As recomendações são de investir em prevenção de casos através do rastreamento da cadeia de contágios, quarentena eficiente de suspeitos, campanhas de distribuição e educação do uso de máscaras. Os gestores estaduais devem articular estas medidas com os municípios, utilizando os agentes de saúde primária na busca ativa de casos”, orientou o professor Sérgio Lira, do Instituto de Física da Ufal e membro do subcomitê de modelos matemáticos e epidemiologia do C4.
Focar em estratégias regionais é outro ponto destacado pelo Comitê, que reforça a ideia de que ações unificadas nos estados são mais eficientes do que medidas individuais. Para isso, recomenda usar os dados de referência disponíveis no aplicativo Monitora covid-19, que gera mapas diários de análises detalhadas sobre a pandemia em cada local.
A expansão de leitos de UTI é vista como ponto positivo, mas os pesquisadores reafirmam a necessidade de testes massivos e brigadas emergenciais de saúde em todos os estados: “Nenhuma guerra biológica em toda história recente da humanidade, foi ganha, nenhuma pandemia foi derrotada, dentro de hospitais e UTIs. Embora seja fundamental que tal infraestrutura hospitalar exista e seja ampliada, só é possível competir com o tempo da replicação viral e derrotá-lo indo de encontro a ele nas comunidades, identificando os casos no início da infecção, através de uma testagem massiva da população que ainda nem desenvolveu sinais clínicos”.