Professor Gabriel Skuk é homenageado com novo gênero de perereca

Katyuscia Vieira, pesquisadora e ex-estagiária do MHN, nomeou animal com nome do pesquisador, falecido em 2011

Por Jaci Lira - estudante de Jornalismo
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Coloração em vida de Gabohyla pauloalvini. (A) e (B) Dois machos solitários. (C) Um par no amplexo axilar; os oócitos são visíveis pela transparência no abdômen da fêmea. Espécimes coletados na Universidade Estadual de Santa Cruz, Município de Ilhéus, Estado da Bahia, Brasil. (Foto: M. Sena/cortesia)
Coloração em vida de Gabohyla pauloalvini. (A) e (B) Dois machos solitários. (C) Um par no amplexo axilar; os oócitos são visíveis pela transparência no abdômen da fêmea. Espécimes coletados na Universidade Estadual de Santa Cruz, Município de Ilhéus, Estado da Bahia, Brasil. (Foto: M. Sena/cortesia)

A pesquisadora e pós-doutoranda em Ciências Biológicas, Katyuscia Vieira, apresenta um novo gênero monotípico de pererecas da família Hylidae e deu o nome de Gabohyla pauloalvini (Gabo, “Gabriel” e Hyla, gênero de pererecas). A nomeação foi para homenagear Gabriel Skuk, professor do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e pesquisador do Museu de História Natural (MHN), que faleceu em 2011.

Katyuscia Vieira foi estagiária do MHN, aluna e orientanda do professor Gabriel Skuk. Em abril deste ano, ela publicou o artigo A new genus of lime treefrogs (Anura: Hylidae: Sphaenorhynchini) na revista científica Zoologischer Anzeiger, que pode ser conferido aqui. Na publicação, Katyuscia apresenta esse novo gênero monotípico da família Hylidae, uma perereca única representante do gênero, que costuma ocorrer em algumas localidades da Bahia e do Espírito Santo.

“Esse trabalho foi um seguimento da minha dissertação de mestrado, na qual trabalhei com filogenia do gênero Sphaenorhynchus. A descrição do novo gênero, Gabohyla, está baseado em uma só espécie, Gabohyla pauloalvini, antes conhecida como Sphaenorhynchus pauloalvini”, explicou a pesquisadora.

Katyuscia estudou a taxonomia e filogenia dos animais deste gênero, ou seja, definiu os grupos biológicos com base nas suas características e os nomeou, realizando o estudo da evolução entre esses grupos. Por ser muito diferente das outras espécies, com base na morfologia, a pesquisadora, junto a outros autores, decidiram eleger este novo gênero.

Homenagem

O nome do novo gênero foi uma forma de homenagear Gabriel Skuk, que foi o responsável pelo início da trajetória de Katyuscia no MHN, que estagiou no setor de Herpetologia do Museu, de outubro de 2003 a março de 2007. Ele também foi orientador da pesquisadora durante dois anos em que ela atuou como bolsista de Iniciação Científica (Pibic/CNPq e Fapeal).

Ter inspirações e oportunidades no início da trajetória acadêmica e profissional é importante. Na maioria das vezes, no âmbito científico, é o que impulsiona a continuar e desperta interesses de estudo. “A princípio, eu não tinha pensado em homenagear Gabriel e não tinha nome para esse gênero. Aconteceu como um insight, mas foi tão legal, porque quando eu pensei em pôr o nome dele, eu peguei outro gosto pelo trabalho”, afirmou Katyuscia.

A homenagem aconteceu por conta da gratidão que a pesquisadora tem por Gabriel Skuk. “Desde a 5ª série eu já queria trabalhar com sapo. Então, já no primeiro ano da graduação, eu fui ao MHN pedir estágio para Gabriel. Eu nem o conhecia e, já de primeira, ele não colocou nenhum empecilho para que eu pudesse começar”, lembrou.

A oportunidade de estagiar no MHN ajudou a impulsionar a carreira de Katyuscia como pesquisadora. A experiência adquirida ajudou a reafirmar seu interesse pela Biologia e, principalmente, pelos anfíbios, espécies que são seu objeto de estudo até hoje.

“A melhor coisa que eu aprendi com Gabriel foi a sua paixão pela história natural, pela diversidade, pelos bichos. Ele gostava muito de ir para campo, conversar sobre os bichos, etc. Essas coisas realmente foram fonte de inspiração para mim e também me motivaram a homenageá-lo”, afirmou.

Katyuscia lembra que o apoio de Gabriel ia além da sua prática e atuação no MHN. Estendia-se a eventos científicos que os alunos participavam. “No meu primeiro congresso de Herpetologia, eu e alguns colegas fomos com ele. A gente ficou numa casa de um amigo dele, que ele conseguiu, levou um monte de moleque para um congresso e tomou conta da gente”, lembrou.

Oportunidade

Sobre sua trajetória profissional, a pesquisadora afirma que as oportunidades oferecidas aos estudantes são de extrema importância para o desenvolvimento de seus interesses e habilidades. “As pessoas falam muito em esforço, que você tem que merecer as coisas e se esforçar muito para as coisas darem certo, mas também é muito importante encontrar com pessoas como Gabriel, que acreditam e que dão oportunidades para quem, talvez, eles [os pesquisadores] nem conheçam”, relatou.

E continua: “Parece pouco, mas não é. Ele me deu oportunidade de frequentar laboratório, o Museu [MHN], quando ele não tinha nenhuma referência sobre mim, não sabia como eu trabalhava, não sabia se eu era boa estudante. Ele não sabia nem de onde eu vinha, nada. Eu apenas era uma estudante que estava interessada e ele deu oportunidade. Então, é muito importante para a carreira das pessoas, para a vida profissional, que existam pessoas como ele, que acreditem. Isso me marcou bastante.”

Depois de estagiar no MHN, Katyuscia foi para São Paulo, com a recomendação de Gabriel Skuk, para estagiar na Universidade Estadual Paulista (Unesp) com Julián Faivovich, taxonomista sistemata e doutor em Ecologia e Evolução Biológica. Julián é seu orientador até hoje.

Trajetória profissional

Natural de Santana do Ipanema, Sertão de Alagoas, Katyuscia se mudou para Maceió para fazer o ensino médio no antigo Cefet [atual Instituto Federal de Alagoas]. Em 2003, ingressou no curso de Ciências Biológicas da Ufal e, sob orientação de Gabriel Skuk, concluiu o curso com o trabalho “Hábitos alimentares da perereca bromelícola Phyllodytes edelmoi Peixoto, Caramaschi & Freire, 2003 (Anura, Hylidae) em uma área de Mata Atlântica no Estado de Alagoas, Brasil”.

Em 2008, a pesquisadora iniciou o mestrado em Zoologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS). Em 2018, sob orientação de Julián Faivovich, concluiu o doutorado em Ciências Biológicas pela Universidad de Buenos Aires com a tese “Análisis filogenético del clado de Scinax ruber (Anura, Hylidae): un grupo muy diverso de ranas arborícolas neotropicales”.

Atualmente, Katyuscia Vieira trabalha com taxonomia sistemática e está fazendo pós-doutorado em Ciências Biológicas, no Museo Argentino de Ciencias Naturales Bernardino Rivadavia, em Buenos Aires-Argentina. Seu estudo é “La evidencia fenotípica en el estudio de las relaciones filogenéticas de Hylinae (Anura: Hylidae)”, com bolsa do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET), Beca Interna Pos-doctoral, sob orientação de Julián Faivovich.

Após o término do pós-doutorado, a pesquisadora pretende fazer outro, mas, desta vez, no Brasil. No entanto, os planos de Katyuscia são de viver em Buenos Aires e ser pesquisadora do Conicet, órgão daquele país que funciona como o CNPq no Brasil e que oferta bolsas de pesquisa.

Gabriel Skuk

Gabriel Omar Skuk Sugliano nasceu em Montevidéu, Uruguai, e demonstrou interesse pela zoologia e herpetologia ainda na infância. Ingressando aos 12 anos no Centro de Estudos de Ciências Naturais, na sua cidade de origem.

Iniciou o curso de Ciências Biológicas em 1980, na Faculdade de Humanidades e Ciências da Universidade do Uruguai [atual Faculdade de Ciências] Em 2002, Gabriel Skuk foi aprovado para o cargo de professor adjunto do curso de Ciências Biológicas da Ufal e ocupou a função de chefe do departamento e curador da coleção herpetológica do MHN.

O MHN criou o Prêmio Gabriel Skuk de Fotografia e Ilustração Científica, para homenagear o pesquisador, que teve papel importante para o cenário científico de Alagoas.