Ações solidárias da 3ª Expedição Científica beneficiam ribeirinhos
Atividades de saúde e educação contemplaram estudantes dos municípios por onde o projeto passou
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Navegar 350 quilômetros durante dez dias pela bela Região do Baixo São Francisco, para os participantes da 3ª Expedição Científica liderada pela Universidade Federal de Alagoas, representa sempre a oportunidade de contribuir com importantes estudos científicos para a melhoria e conhecimento aprofundado de uma realidade de vasta degradação ambiental que acomete a flora e fauna do famoso e conhecido Rio da Integração Nacional. Mas também é uma oportunidade de desenvolver algumas ações para beneficiar a população ribeirinha, principalmente estudantes da rede pública.
Nesse contexto merece destaque a importância das comunidades ribeirinhas como aliadas para que, a cada edição, do considerado atualmente o maior evento científico no Rio São Francisco e com maiores ações científicas já realizadas em águas interiores brasileiras, atinja o seu objetivo, que é o de transformar a realidade local em melhores políticas públicas, por meio da valorização do meio ambiente e consciência ambiental. Assim como apresentar ações mais efetivas para resolução dos problemas que afligem comunidades ribeirinhas e organismos aquáticos.
Coroada de êxito, assim como as duas primeiras edições, pelo avanço e ampliação das pesquisas, novas descobertas, aprofundamento do conhecimento no mais amplo aspecto da região, a edição deste ano enfrentou muitos desafios para a realização, mas vencidos a partir do momento que etapas tiveram que se adequar à realidade da existência de uma pandemia, ainda em curso. Este ano não foi possível a visitação, pela comunidade escolar ribeirinha, aos barcos laboratórios da Expedição. A atividade, ao tempo em que proporciona conhecimento científico, configura-se como importante para a conscientização ambiental, fazendo a interação dos pesquisadores como os principais atores para mudanças de realidades na região.
A interação com as comunidades ribeirinhas, este ano, teve destaque com ações promovidas nas áreas de saúde e educação tendo como público-alvo estudantes de escolas públicas de municípios alagoanos e sergipanos. A distribuição de cerca de cinco mil kits da Colgate, sob a coordenação da pesquisadora Christiane Feitosa, do Campus Arapiraca, com participação do professor José Vieira Silva, proporcionou orientação sobre reeducação alimentar e saúde bucal, por meio de palestras e atividades práticas, a exemplo de escovação correta e cuidados dentários. Constatou-se que, mais de 40% das crianças envolvidas nessas ações estão acometidas de cárie, verificando-se também, perda de dente numa significativa parcela. Uma realidade comprometedora para a saúde bucal, mas que amplia áreas de atuação da expedição, importante parceira de conhecimento e orientação.
Outra marcante atuação executada pela equipe participante da Expedição se deu na área de educação em duas escolas ribeirinhas alagoanas com a distribuição de equipamentos para ampliação de práticas pedagógicas. A Escola Municipal de Educação Básica General Arthur da Costa e Silva, localizada no município de Igreja Nova, e o Grupo Escolar Municipal Messias Calumby, em Piaçabuçu, receberam, cada uma, um notebook e um datashow. Segundo o coordenador da Expedição, Emerson Soares, posteriormente haverá a doação de equipamentos de som (caixas) para os respectivos estabelecimentos de ensino e assim otimizar as ações de educação no mais amplo aspecto.
Avanços e descobertas
“A Expedição superou as expectativas, mesmo realizada nesse tempo de pandemia. A organização, o cuidado, o envolvimento da equipe, a determinação e o compromisso com o trabalho, resultaram em positividades além do esperado. No contato mantido com as prefeituras e secretários dos nove municípios visitados a interação entre gestores, educadores e a equipe de pesquisadores foi muito positiva. Sem falar do quanto fomos muito bem recebidos na maioria das cidades ribeirinhas alvos da expedição”, destacou o coordenador geral do evento científico Emerson Soares, da Ufal.
Emerson chama a atenção para um cenário diferente de 2018 e 2019 quanto ao aumento de vazão na Região do Baixo São Francisco. Este ano foi verificado que o Baixo São Francisco, está com maior volume e vazão de 2.700 metros cúbicos, em relação aos estudos dos dois anos anteriores. Outra boa notícia é que a meta da terceira edição foi superada, com mais quatro novas áreas de trabalho concluídas, em relação às duas expedições realizadas. Resultados parciais apontam também a descoberta de novos sítios arqueológicos. A conclusão da batimetria e topologia do rio, assim como catalogação de alguns animais da fauna terrestre, constituem a ampliação e dinamismo nos estudos científicos em prol do Velho Chico.
Mesmo com avanços verificados pela equipe de pesquisadores, permanece a desafiante realidade de degradação ambiental na região. Mapeamento realizado contatou desmatamento em todos os municípios ribeirinhos. Sobre a preocupante, contínua e grave situação ambiental que acomete o rio, Emerson complementa: “A Região do Baixo São Francisco continua com problemas graves de lixo, esgotos, desmatamento, erosão e problemas relacionados à pesca e com a fauna aquática. O mais preocupante foi observar problemas graves de erosão, desrespeito quanto à quantidade de poluentes lançados no rio e pesca irregular no período de defeso ou reprodutivo das espécies pesqueiras”.
Segundo o pesquisador, todos os problemas ambientais observados nos anos anteriores continuam na região, inclusive preocupa a equipe científica o sumiço de espécies da flora e fauna terrestres. A boa notícia este ano foi o maior volume de águas no rio e aumento da vazão, o que favoreceu as espécies aquáticas e deverá permitir a maior diluição dos poluentes no rio.
A expedição da Ufal é realizada em parceria com o Comitê do São Francisco, Ministério da Ciência e Tecnologia e (MCTI) e Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba). Mas a possibilidade de firmar novas parcerias para fortalecimento das ações também consiste como saldo positivo da edição deste ano. “Há o comprometimento da Marinha em colaborar com a expedição, e também a possibilidade de envolvimento de alguns municípios ribeirinhos, por meio dos futuros prefeitos que assumem o cargo em janeiro de 2021. O que significa uma importante ampliação e fortalecimento das ações em prol do Velho Chico para a realização da edição do evento ano que vem dando continuidade aos estudos científicos naquela região”, comemorou Soares.