Projeto ambiental do Campus Arapiraca produz Bijuterias Sustentáveis
Iniciativa é do curso de Licenciatura em Química, faz parte do Projeto Alagoas mais Limpa e já despertou interesse internacional
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Fazer o descarte correto para os resíduos sólidos e minimizar os impactos ambientais, assumindo o compromisso de desenvolver uma ação com essa finalidade, foi o que motivou as professoras Thaissa Lúcio Silva e Iara Terra de Oliveira, do curso de licenciatura em Química do Campus Arapiraca da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), a executarem o projeto Bijuterias Sustentáveis. Iniciada no último mês de setembro, a proposta de produção das bijus tem resultados bem consolidados, já alcançou boa receptividade, tem despertado o interesse local, de pessoas de outros estados e até fora do Brasil.
A atividade artesanal utiliza como matéria-prima cápsulas de café para reúso criativo e tem resultado em várias peças como brincos e colares fazendo jus ao nome do projeto. Além da beleza dos adornos, onde a criatividade se mistura à arte, o projeto vem se consolidando como ação ambiental e acadêmica.
O projeto conta com participação de cinco estudantes de diferentes períodos do curso de licenciatura em Química. Cada participante tem função definida para o desenvolvimento das etapas que contemplam produção de bijuterias, produção de bijuterias e tesouraria, relações públicas nacionais e internacionais, produção de embalagens sustentáveis e produção de bijuterias e fotografia.
“Inicialmente estamos utilizando como matéria-prima cápsulas de café, mas pretendemos ampliar para plásticos, lacres de latinhas, entre outros materiais que podem ter reúso criativo, sem a necessidade de ter como destino final o lixo. Com menos de um mês de atuação, felizmente, o projeto está com excelente receptividade e já vendemos peças para São Paulo e Portugal. Temos agora encomendas também para o Canadá”, afirmaram a coordenadora Thaissa Silva e a vice-coordenadora Iara Terra.
Para a confecção das bijuterias sustentáveis a equipe se reúne uma vez por semana, como dia de encontro, mas Thaissa e Iara dizem que no geral os estudantes quando têm horário livre aproveitam para adiantar a produção. As atividades transcorrem no Laboratório de Eletroquímica do Bloco L, na sede do Campus Arapiraca. Participam do grupo os estudantes: Vinícius Antônio Balbino Barbosa, Aniele Sterfany Santos Leite, José Wellington da Silva, Welvys Gabriel da Cruz e Bruno dos Santos.
Alagoas Mais Limpa
O Bijuterias Sustentáveis faz parte de um projeto ambiental mais amplo chamado Alagoas mais Limpa (@alagoasmaislimpa), desenvolvido no Campus Arapiraca desde 2021. Esse projeto envolve, principalmente, estudantes do curso de graduação em licenciatura em Química e foi idealizado pela professora Iara Terra.
Thaissa é doutora pelo Programa de Pós-graduação em Química e Biotecnologia (PPGQB) da Ufal e Iara tem doutorado pelo Programa de Pós-graduação Ciência & Tecnologia Química da Universidade Federal do ABC (UFABC), Campus Santo André.
Além da contribuição ambiental as responsáveis pelo projeto também apontam outras positividades da ação: “Para formação acadêmica, acreditamos que estamos contribuindo para conhecimento químico mais aprofundado sobre a composição de vários tipos de resíduos sólidos. No contexto do empreendedorismo, a proposta é reconhecer a potencialidade do lixo na geração de renda. Já na conscientização ambiental, é que possam perpetuar essa prática social aqueles que estão ao seu redor, ou seja, amigos, familiares, vizinhos, parentes etc”.
Thaissa aproveita para dizer que a matéria-prima para a confecção das bijuterias sustentáveis vem sendo doada por pessoas amigas e os demais materiais foram comprados por ela e Iara. Além do reúso criativo das cápsulas de café, são utilizados como material para os mostruários caixas de brinquedos e rolinhos de papel toalha, higiênico e alumínio. Os suportes para os brincos e colares também são também confeccionados com o mesmo material, além do reúso de caixas de brinquedos e sacolas de lojas para essa finalidade. Revistas de redes de cosméticos são destinadas para a confecção das embalagens para presentes.
Sobre a realidade da coleta de lixo, visando principalmente ao cuidado com o meio ambiente, as professoras tecem críticas e reforçam que ainda está muito aquém como ação ambiental e mais ainda como destino ao reúso criativo. “Um fato que infelizmente temos que pontuar é que num povoado onde mora um integrante da equipe nunca houve coleta de lixo. Com isso, acreditamos que esse trabalho possa contribuir para que reconheça e aponte ações ambientais que proporcionem melhor qualidade ao seu povoado”, citaram.
Agenda ambiental 2030
As professoras destacam que a Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Agenda 2030, onde estão descritos os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS), faz um apelo global para o desenvolvimento de ações que protejam o meio ambiente e tornem o mundo mais sustentável. De acordo com as docentes, para a positividade das ações é necessário um esforço multidisciplinar para cumprir as 169 metas propostas no documento.
Thaissa e Iara destacam que, em meados de 2021, a Sociedade Brasileira de Química (SBQ) lançou o Movimento Química Pós 2022 - Sustentabilidade e Soberania que busca promover reflexões sobre como a Química pode contribuir com a sustentabilidade e a soberania do Brasil. Este plano de ação é dotado de dois objetivos, denominados de Objetivos de Química para o Desenvolvimento Sustentável (OQDS).
Elas explicam que o Objetivo OQDS 1 visa a promoção da sustentabilidade por meio da química na educação básica e o OQDS 2 é voltado à promoção da sustentabilidade por meio de P&D em química na indústria e na universidade. O primeiro, contempla três grandes eixos, assim definidos: professor de química como protagonista para um mundo mais sustentável; sala de aula como espaço especial para química e sustentabilidade; e Escola: projetos em química e sustentabilidade para a sociedade.
“Nesse contexto, uma vez que somos um curso de licenciatura e estamos formando professores para atuar na educação básica, é nossa missão fazer cumprir o Objetivo OQDS 1. Então, como podemos esperar que nossos estudantes, futuros professores, sejam protagonistas para um mundo mais sustentável se não incluímos essa temática durante a graduação? Como podemos esperar que nossos estudantes estejam preparados para tornar suas futuras salas de aulas em espaços de discussões e ações sustentáveis se não desenvolvemos projetos com eles durante a graduação? Nossa perspectiva é formar agentes multiplicadores de ações que possam tornar os cidadãos conscientes e as cidades sustentáveis”, destacaram as professoras Thaissa Lúcio e Iara Terra.
E completam: “A química é a ciência que explica a constituição e a propriedades dos materiais, suas transformações e, consequentemente, suas aplicações. Ao elaborarmos esses projetos baseados em resíduos sólidos, também estamos oportunizando discussões de vários conceitos químicos que não ficam apenas na sala de aula, mas, sobretudo, trazem benefícios para a sociedade”.
Comercialização e aquisição
As peças Bijuterias Sustentáveis estão sendo comercializadas por meio do Instagram do projeto e podem também ser adquiridas presencialmente, na sede do Campus Arapiraca, com participantes da equipe. Thaissa diz que vêm sendo feitos alguns contatos para que brevemente as bijuterias fiquem disponíveis em outros espaços comerciais e pontos estratégicos de vendas no estado. Conheça o projeto pelo Instagram @bijusustentaveis.
Pela boa receptividade alcançada, o projeto também vem despertando interesse para a realização de oficinas. “Várias pessoas já entraram em contato para saber se estamos realizando oficinas abertas ao público, porém, como estamos no primeiro mês de atuação, isso não é possível, visto que os estudantes responsáveis pela produção ainda estão em fase de formação”, disseram.
A renda adquirida com a comercialização das peças é destinada para a manutenção das ações do Projeto Por uma Alagoas mais limpa e para os cinco estudantes envolvidos no projeto Bijuterias Sustentáveis. “Esse projeto é importante como ação de sustentabilidade; representa nossa pequena parcela de contribuição para transformar o nosso estado, nosso país e nosso mundo em um ambiente limpo, com pessoas conscientes de seu papel socioambiental”, reforçaram.