MTB promove evento para estreia do documentário “Os Guerreiros do Guerreiro”
Dirigido por pesquisadores franceses, produção mostra rotina do grupo Treme Terra
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“O folguedo do Guerreiro mostra como a cultura vai criando laços e recriando narrativas ao longo da história. Nosso documentário tenta mostrar um pouco de tudo isso, em como essas pessoas seguem tão ligadas a essa manifestação cultural, apesar das dificuldades”. É o que disse a antropóloga francesa Christine Douxami, diretora do documentário Os Guerreiros do Guerreiro, cuja estreia foi realizada no pátio do Museu Théo Brandão (MTB).
Dirigida pelos franceses Christine Douxami e Philippe Degaille, a produção cinematográfica acompanhou parte da rotina do Guerreiro Treme Terra Mundial. O documentário contou com registros de 20 anos do folguedo, preservados no acervo do MTB, além de registros coletados pelos próprios diretores, que passaram um mês acompanhando os brincantes se apresentarem em cidades do interior de Alagoas, como Coité do Nóia, Campo Grande e Limoeiro de Anadia, e em povoados como Lagoa do Félix, em Igaci, e Mata Limpa, em Lagoa da Canoa.
Ao longo do documentário, são mostrados momentos de ensaios e descontração entre os brincantes, que encontraram no folguedo uma espécie de segunda família. Também são exibidas cenas, apresentações em ruas e praças, alternando entre cenas mais recentes e outras do material coletado ao longo dos vinte anos de pesquisa.
Apesar da força dos brincantes em manter o folguedo sempre ativo, as dificuldades também foram retratadas no filme. Mestra Isaura, uma das homenageadas pela produção, relatou um pouco dos problemas em um trecho da produção. “Chamam pra apresentar em vários lugares, mas parece que esquecem que temos gastos. Roupa, transporte, alimentação, tudo o que é necessário para manter a brincadeira acontecendo, mas as prefeituras e o governo acham que é só chegar lá e fazer. A gente gosta muito do que faz, mas a dificuldade e a falta de valor que dão pra gente é muito grande”, relatou a mestra em uma cena do documentário.
Homenagens
Além da Mestra Isaura, o filme também presta homenagem ao Mestre Laurentino, falecido em janeiro de 2022. Laurentino tornou-se mestre do guerreiro aos 16 anos, seguindo na posição por 65 anos. Ele chegou a receber, em 2012, o Prêmio de Culturas Populares e era considerado Patrimônio Vivo de Alagoas desde 2015.
Nas entrevistas com Mestre Laurentino, exibidas no documentário, ele reforça a importância de manter o Guerreiro vivo, independente das circunstâncias. A principal preocupação do saudoso mestre era manter sempre acesa a chama do tradicional folguedo alagoano. "A gente não pode parar de cantar por muito tempo. Se a gente passa, a música sai do juízo e vai se perdendo. Por causa disso, o guerreiro vai cantar pra sempre, pra não se perder do juízo de ninguém", afirmou Mestre Laurentino em um trecho do documentário.
Ao fim da exibição, a diretora Christine Douxami explicou um pouco a respeito do processo de criação do filme. Segundo a antropóloga, as referências históricas são bastante presentes no folguedo, principalmente história africana e ameríndia. Ela explicou ainda que a dança do guerreiro é diretamente inspirada por conflitos históricos, como a guerra entre os índios e colonizadores tentando convertê-los ao cristianismo.
O reitor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Josealdo Tonholo, esteve presente na estreia de Os Guerreiros do Guerreiro. Para ele, o documentário contribui para a preservação histórica e cultural deste folguedo tão típico do estado. "Alagoas é um dos estados com mais folguedos no país, sendo mais de 30 registrados. Apesar disso, não existe um trabalho amplo para resgate de tudo isso. O documentário, além de registrar, traz esse resgate do folguedo a nível local, e projeção a nível nacional e internacional", disse o reitor, reforçando a importância da resistência dos movimentos culturais em um período de tantos ataques à cultura por parte da gestão pública.
Já a diretora do Museu Théo Brandão, Hildênia Oliveira, relata a alegria e a importância da estreia do documentário ser realizado no pátio do MTB. “Esse museu é a casa da gente alagoana. É a casa dos sabores, dos fazeres e dos saberes culturais de Alagoas. É um marco importante trazer aqui, nesse espaço de guarda e de memória, esse registro de um movimento genuíno alagoano”, concluiu Hildênia.