Festival de Música de Penedo inova ao promover a inclusão da comunidade surda
Além de intérpretes da Língua Brasileira de Sinais, houve também a novidade de uma oficina para surdos, a Musilibras
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Nas apresentações musicais e concertos do Festival de Música de Penedo (Femupe) havia sempre uma equipe se revezando no canto esquerdo dos palcos e oficinas fazendo a tradução do que estava sendo falado e tocado para a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Pois é, pela primeira vez, intérpretes, sempre vestidos de preto, traduziam a magia da música dos instrumentos musicais e das letras de canções das atrações nos palcos durante toda a semana.
Muitos visitantes ficaram encantados e impressionados com tamanha performance dos intérpretes, e até surpresos quando podiam ver a musicalização por meio dos sinais. É a primeira vez que o evento incluía tradução em Libras na programação, promovendo também uma oficina sobre o assunto, a Musilibras – música além do som. Isso mostra o compromisso do Festival no que diz respeito à inclusão e à acessibilidade, fazendo com que um dos maiores eventos brasileiros de música tenha destaque em Alagoas e no país.
Segundo Jorge André, coordenador de acessibilidade do Festival, esse tipo de ação é um diferencial para que a população surda também possa fazer parte das atividades. “Pela primeira vez, o festival está trazendo intérpretes de Libras para pessoas surdas ou com audição reduzida. É um diferencial para que essas pessoas também possam fazer parte desse Festival. Isso só acrescenta amplia o alcance do Femupe, levando uma experiência para as pessoas e também trazendo uma inovação para o evento”, disse Jorge.
Edlene Santos é uma pessoa com audição reduzida e estava acompanhando as atividades do Festival. Da plateia, era possível ver a penedense com os olhos marejados e atenta a toda a vibração do momento. Foi a primeira vez que ela participou do Festival de Música, e contou, por meio da intérprete Lucélia Lima, que muitas vezes não ia a lugares assim porque sentia vergonha por não entender o que estava sendo apresentado.
“Nos anos anteriores não tinha acessibilidade e daí eu ficava com medo e com vergonha por não entender. Quando vi a orquestra tocando me senti muito emocionada, especialmente pelo fato dos intérpretes estarem sinalizando. Fiquei bem curiosa, entendi tudo. Como eu escuto um pouco, eu senti a vibração das músicas. Eu nunca tinha ido ao centro de convenções e fiquei muito emocionada, quase chorei quando vi os músicos. O Festival fazer coisas relacionadas à Lei de Inclusão é muito maravilhoso”, relatou.
O casal de surdos, Edjelma Pereira e Fábio Roberto Santos, também estava prestigiando as atrações do Festival. Edjelma contou, por meio da intérprete Lucélia Lima, que se sentiu muito bem participando das atividades. “Fiquei muito emocionada quando vi e pude sentir o piano sendo tocado. Vi o pessoal tocando saxofone, senti uma emoção muito grande, e eu gostei muito de tudo que eu vi. É muito bom poder vir com o meu esposo e ter admirado o Festival. Consegui sentir a vibração das melodias e de todo o movimento. É uma sensação linda”, afirmou.
Para Fábio, foram dias inesquecíveis. “Me senti muito bem. Ontem, por exemplo, fiquei admirado, achei muito incrível! Foi emocionante! Apesar de estar meio triste porque soube que meu pai esteve em cirurgia, estar aqui no Festival foi uma forma de me sentir melhor com o que está acontecendo na família. Achei tudo muito bom”, celebrou Fábio.
O movimento que também traduz
De acordo com Lucélia Lima, que é intérprete de Libras em Penedo e faz um trabalho de interpretação nas escolas municipais e no Instituto Federal de Alagoas (Ifal), os surdos do município ficaram super animados e felizes por serem incluídos no Festival. “E muitos deles achavam que era impossível ter musicalização para surdos e eles estão vendo que Libras e surdos podem estar em qualquer lugar. Uma das coisas que achei interessante do Festival foram as oficinas que estão trazendo, a exemplo da oficina Musilibras, que foi um dos motivos de ter trazido todos os surdos que conheço para participar do festival. E eles ficaram maravilhados por terem participado. Achavam que surdo não podia aprender música. A música é para todos, inclusive ossurdos”, destacou Lucélia.
A intérprete também explicou como funciona a dinâmica de musicalização em Libras, mostrando o movimento que também traduz. Ela contou que a interpretação na língua dos sinais é realizada sempre quando há letra nas músicas ou quando algum artista fala algo durante a apresentação. Com uma equipe de apoio, é feita a sinalização de acordo com a intensidade e a emoção que os músicos estão passando na hora. Já nas músicas que não tem letra, a sinalização acontece ao mostrar o movimento da melodia, dos instrumentos e toda a sua intensidade na vibração.
“A gente mostra que não tem letra e depois a gente mostra que as músicas têm um movimento mais rápido, mais calmo, com alta intensidade ou não, para eles se sentirem incluídos. Alguns dos surdos que vieram têm surdez mais leve, escutam um pouco, outros não escutam nada. Então, é importante a gente mostrar que os músicos estão tocando mais calmo, ou mais rápido, com mais intensidade ou com força. Assim, os surdos conseguem sentir e se emocionar com a magia que acontece aqui”, concluiu.