Dia Internacional da Pessoa Idosa: Ufal lembra data com desafio no mar
Professoras estimulam reflexões sobre o envelhecimento saudável e a necessidade de ampliar o interesse pela temática no ambiente acadêmico
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Os remos não foram conduzidos pela experiência de atletas. O que guiou a atividade proposta pela Ufal, no último domingo (29), foi a sabedoria de quem acredita que não há idade para viver novas experiências. “Idoso” não é rótulo para o animado grupo que se desafiou na canoagem com o intuito de homenagear todas as pessoas idosas que fazem parte da Ufal.
A iniciativa foi do Grupo de Pesquisa Multiprofissional sobre Idosos (GPMI/Eenf) e da Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati/Iefe). “A gente trabalha com promoção da saúde. Nós não trabalhamos com doença, porque nós acreditamos que o envelhecimento pode ser bom, desde que você saiba lidar com ele”, ressaltou a coordenadora do GPMI, professora Elizabeth Moura.
A aluna Maria Sarmento parece que sabe lidar muito bem com essa questão. Aos 75 anos ela continua aproveitando as oportunidades para realizar sonhos: “Foi inesquecível, maravilhoso! São esses os termos que eu uso pra descrever aquele momento. Nunca pensei que eu fosse remar, sempre achei bonito as pessoas remando e tinha vontade de fazer esse passeio. Eu me realizei!”
A alegria de Maria também foi compartilhada pelos colegas que tiveram a oportunidade de começar o dia no mar, acordando o corpo com dopamina, endorfina e todas as substâncias refletidas nos sorridos de cada um ao voltar da vivência na praia de Pajuçara.
A atividade desse domingo foi diferente para Maria, que já participa das ações do GPMI e da Unati há duas décadas. Mas ver uma pessoa idosa praticando canoagem, correndo na orla, ou em sala de aula na condição de estudante pode ser cada vez mais comum ao passar dos anos na nossa sociedade.
“O Brasil, até pouco tempo, era considerado o país da juventude. Mas o país está envelhecendo e parece que ainda não atentamos para isso. O preconceito com as pessoas mais velhas, o etarismo, é uma realidade e precisamos abordar isso em nossas salas de aulas e promover a convivência intergeracional trazendo as pessoas idosas para dentro da universidade”, comentou a coordenadora da Unati, professora Socorro Dantas.
É preciso amadurecer
Ao longo dos seus 60+ a Universidade Federal de Alagoas já viu algumas gerações se formarem. Mas a história permanece, assim como os mais de 18% dos servidores ativos que estão na faixa etária de 60 anos ou mais. São 314 docentes e 293 técnicos emprestando diariamente seus conhecimentos para os estudantes.
O solo é fértil para a ciência produzida na Ufal, mas quem pesquisa a temática da terceira idade está sempre lutando por mais espaço nos debates sobre o envelhecer. “O enfoque da Ufal sobre o envelhecimento ainda é muito limitado. Poucos cursos de graduação possuem disciplinas que abordem o tema do envelhecimento e da pessoa idosa”, ressaltou a professora Sandra Lopes, que coordena a especialização em Geriatra e Gerontologia com olhar Interprofissional para profissionais das diversas áreas.
O curso ofertado pela Faculdade de Medicina (Famed) está em fase de conclusão. Além disso, Sandra defende a oferta da disciplina Aspectos gerais da gerontologia e a interdisciplinaridade, para estudantes de qualquer curso e de outras instituições.
De acordo com pesquisas do GPMI em 2018, apenas seis dos 103 cursos de graduação da Ufal abordam a questão da pessoa idosa. O tema se destaca nos cursos de Enfermagem, Educação Física, Nutrição, Medicina, Psicologia e Serviço Social.
“Considerando as mudanças demográficas é necessário priorizar a pauta do envelhecimento. Na Ufal, ainda são poucas as ações voltadas para a pessoa idosa. Acredito que a Ufal, em seu planejamento, deve priorizar ações intergeracionais, no ensino, na pesquisa e na extensão, que deem visibilidade à pessoa idosa, potencializando as oportunidades para um envelhecimento ativo e saudável. Assim, estará colaborando com a construção de uma sociedade mais inclusiva para todas as idades”, reforçou Socorro Dantas.
A terceira idade na Ufal
Enquanto houver fôlego pra luta, terão pessoas idosas sendo bem acolhidas na Ufal. O projeto de extensão da Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati) atende a comunidade universitária e externa com ações que promovem melhor qualidade de vida.
Muitas parcerias já foram firmadas desde 2010, entre elas com o Laboratório de Pesquisas em Exercício Físico e Metabolismo (Iefe), com professor Eduardo Seixas, e com o Projeto Digital Sênior (FDA), com a professora Lana Palmeira, que desenvolveu uma oficina sobre crimes cibernéticos e uso da Plataforma Gov.Br. Palestras e outras ações frequentes são realizadas com o GPMI.
“Uma vez por mês a gente se encontra, trabalhamos a parte da educação, saúde, emoções, e tudo o que ajude a entender o que é bom para envelhecer bem, como ter um bom sono e uma boa alimentação”, disse Elizabeth sobre as temáticas abordadas com os participantes e que rendem pesquisas, artigos e capítulos de livros publicados.
É no pilar da extensão que mais a Ufal se aproxima das pessoas idosas, mas os números mostram que desde 2016, período de acompanhamento do Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI), 363 alunos entre 60 e 81 anos registraram matrículas na graduação da Ufal.
O curso de Agroecologia Pronera, no Campus de Engenharias e Ciências Agrárias (Ceca) é um exemplo de concentração desse público. O objetivo é formar os beneficiários do Programa Nacional de Educação para Reforma Agrária (Pronera), com concreta aptidão aos princípios da agroecologia, fundamentados na ética profissional e política.
Já o Campus do Sertão é o berço da Ufal para o Programa Institucional de Fomento e Indução da Inovação da Formação Inicial Continuada de Professores e Diretores Escolares (Pril), com diversos alunos da terceira idade interessados em voltar a ser estudantes.
O Pril oferta cursos de licenciaturas e de formação para atender às necessidades e organização da atual política curricular da educação básica e da formação de professores e diretores de escolas públicas. A iniciativa foi possível a partir de um Acordo de Cooperação Técnica entre a Ufal e as prefeituras de Água Branca, Delmiro Gouveia, Inhapi, Olho d’Água do Casado, Pariconha e Piranhas.
“É extremamente pedagógico e educativo conviver com pessoas de uma faixa etária avançada. E nós temos muitos alunos, principalmente nesses programas especiais. É desafiador para eles e para todos nós, porque a gente aprende a dialogar com eles, tem toda a questão de acessibilidade física, atitudinal, materiais didáticos, enfim, tudo isso é educativo”, destacou o pró-reitor de Graduação, Amauri Barros. E completou, citando Paulo Freire: “Estudante não é uma tábua rasa, então, todos eles têm muito a nos ensinar”.
O que faz a diferença
Transformar a Ufal em uma universidade amiga da pessoa idosa é a meta das professoras que atuam no tema da promoção da saúde, como Elizabeth, Socorro e Sandra, que têm lugar de fala enquanto docentes 60+.
Diversos professores já foram homenageados pela contribuição que deram para consolidar a Ufal na maior instituição pública de ensino superior de Alagoas e os que ainda frequentam a casa como voluntários, para continuar espalhando conhecimento. Socorro acredita que para ser amiga da pessoa idosa a Universidade não precisa de muito. Ações constantes e prioritárias podem ser eficazes para que esse público se sinta valorizado.
“Um exemplo disso seria promover oportunidades para professores e técnicos que já estão aposentados, caso desejassem poderiam retornar à universidade e contribuir com palestras, consultarias, projetos de extensão, etc., além de outras pessoas da comunidade externa à Ufal. A temática do envelhecimento pode ser conteúdo transversal em todos os currículos”, propõe.
No dia Internacional da Pessoa Idosa (1° de outubro) a ideia é provocar o debate e dar visibilidade às necessidades desse grupo incluído na pauta de uma universidade. E como política institucional, o pró-reitor adianta que novas medidas estão sendo pensadas para estimular o encontro de gerações. “Algumas universidades já têm uma reserva de vagas para pessoas da melhor idade, e nós pensamos em implantar essa cota em breve”, anunciou Amauri.
A nova remadora Maria Sarmento é uma propensa candidata. Ela conta que nessas décadas frequentando a Ufal pelas atividades extensionistas sempre teve o desejo de pertencer à Universidade com outro título: o de graduanda. “Eu tinha muito sonho de fazer o nível superior. Se eu pudesse fazer alguma coisa, nessa altura da minha vida, eu faria Serviço Social”, revelou, com a mesma ponderação de quem não imaginava que um dia estaria remando no mar. O dia da canoagem chegou. E sobre o diploma, ela ainda pode sonhar.