Projeto para incentivar a participação de meninas na Física é contemplado com recursos do CNPq
Projeto aprovado é coordenado pelas professoras Fernanda Selingardi e Maria Socorro Seixas, do Instituto de Física
Um projeto apresentado pelas professoras Fernanda Selingardi Matias e Maria Socorro Seixas Pereira, do Instituto de Física (IF), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), foi aprovado na Chamada Pública nº 31/2023, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e Ministério das Mulheres. A chamada tem o objetivo de “apoiar projetos que visem contribuir significativamente para o desenvolvimento científico e tecnológico e a inovação do País, por meio do estímulo ao ingresso, à formação, à permanência e à ascensão de meninas e mulheres nas carreiras de Ciências Exatas, Engenharias e Computação”.
O projeto das professoras da Ufal que foi contemplado na chamada tem como título BrilhanteMente: motivando meninas nas exatas através da Física Estatística e Computacional aplicada à Neurociência, com o objetivo geral fomentar a inclusão, capacitação e permanência de mulheres nas áreas de exatas. “Neste edital nós fomos contempladas com R$ 597.920,00, para desenvolver atividades num período de três anos”, informam as professoras.
Segundo elas, a ideia é incentivar as meninas ainda no Ensino Médio, para que elas considerem a possibilidade de desenvolver carreiras profissionais e acadêmicas na área de exatas. “Com os recursos do projeto, vamos custear as atividades, conceder quatro bolsas de apoio técnico para professoras de escolas públicas, 20 bolsas de iniciação científica júnior para alunas das escolas participantes, duas bolsas de iniciação científica, uma bolsa de divulgação científica e uma bolsa de pós-doutorado”, detalham as coordenadoras.
As professoras explicam que através deste trabalho pretendem desenvolver uma rede de apoio de pessoas que se identificam com o gênero feminino. “Essa rede reunirá alunas de escolas públicas do estado de Alagoas, estudantes de graduação em licenciatura e bacharelado em Física e em outras áreas de ciências exatas, engenharias e computação, além de alunas de pós-graduação, pesquisadoras e professoras universitárias e de escolas”, planejam as coordenadoras.
O fio condutor unindo essa rede será o desenvolvimento de um projeto de iniciação científica júnior voltado para física estatística e computacional aplicada à neurociência, cuja interdisciplinaridade permitirá o aprendizado de conceitos fundamentais em física, matemática, estatística e computação, assim como o desenvolvimento de habilidades de pesquisa científica, escrita, comunicação oral, linguagens de programação e análise de dados. O projeto também incentivará o trabalho colaborativo, o raciocínio lógico, a criatividade e a proatividade das participantes. “Esse conhecimento tem ampla aplicabilidade em áreas como Física, Ciência de Dados, Engenharia, Ciência dos Materiais e tecnologia, com destaque para as aplicações biomédicas e neurocientíficas, como diagnóstico de doenças neurológicas, inteligência artificial, robótica e interfaces cérebro-máquina”, ressaltam Socorro e Fernanda.
Participantes
As coordenadoras informam ainda que, inicialmente, três escolas públicas do estado de Alagoas participam do projeto. As professoras que lideram as atividades nas escolas são: Ana Carolina Costa Soares, da Escola Estadual Marcos Antônio Cavalcanti Silva; Geovana Dresch Webler, do Instituto Federal de Alagoas - Campus Murici; e Ana Paula Perdigão Praxedes, do Instituto Federal de Alagoas - Campus Satuba.
O projeto conta com a colaboração de pesquisadoras de Alagoas e de outras regiões, incluindo Maria Tereza de Araújo, professora titular do Instituto de Física (IF/Ufal); Raíssa Cavalcante Pinto, assistente em Administração na Ufal; Jessica Helena de Lima, professora Adjunta de Engenharia (Ufal); e Andrea Pacheco de Mesquita, professora Adjunta da Faculdade de Serviço Social (FSSo/Ufal). Além destas professoras, diversas estudantes de diferentes níveis acadêmicos atuam no projeto, como as doutorandas Katiele Valéria Pereira Brito, Helena Bordini de Lucas, Graça Regina Mata de Almeida e Pedro Fellype Almeida Silva; as mestrandas Joana Mércia Guimarães Lira Silva, Ketly dos Santos Nascimento, Lais Camila Pereira Alves e Luana Júlia Nunes Ferreira; e as graduandas Laila Maria Menezes Rocha, Anna Klara Correia dos Santos Silva, Viviane Vitória do Nascimento Lima e Júlia Bastos Lyra Alves.
Equidade nas Ciências
As professoras ressaltam que a falta de diversidade de raça, classe e gênero na Ciência é um problema sistêmico da sociedade. “Se por um lado essa injustiça moral é reflexo das nossas desigualdades sociais, por outro lado ela contribui para perpetuá-las. Na busca por uma sociedade mais justa e, em particular, por um ambiente acadêmico mais diverso, é fundamental motivarmos meninas e mulheres a ingressarem e permanecerem na academia aumentando a representatividade de gênero nas áreas em que estão sub-representadas”, declaram as professoras.
Elas ressaltam ainda que os entraves para a equidade de gênero começam ainda na infância e se estendem por toda a vida. Um estudo publicado na revista Science em 2017 mostrou que dos 5 aos 7 anos ocorre uma mudança na percepção das meninas sobre o gênero de uma pessoa considerada brilhante. A partir dessa idade, por uma série de identificações com personagens, as meninas associam significativamente menos vezes brilhantismo ao seu próprio gênero. Esses dados abrem espaço para uma série de questionamentos sobre como mostrar para as meninas que elas são brilhantes.
As professoras ressaltam a necessidade de superar estereótipos sobre as pessoas que se dedicam à Ciência. “Numa sociedade que veladamente acredita que para ser cientista é necessário ser um gênio, é fundamental mostrar a importância do esforço e da dedicação nas atividades relacionadas à pesquisa e à tecnologia. Esperamos que as participantes reconheçam em si mesmas, nas suas colegas e nas professoras e pesquisadoras suas mentes brilhantes e sua capacidade de aprender e de realizar pesquisa, ou qualquer outra tarefa, brilhantemente”, concluem as professoras