Museu Théo Brandão recebe segunda edição do Festival Yá Dandara

Ancestralidade e empoderamento feminino foram pauta em todas as atrações

Por Jacqueline Batista - jornalista, Maurício Santana - estudante de Jornalismo e Fotos: Sarah Dias e Luciana Buarque
Ancestralidade e empoderamento feminino foram a pauta do 2º Festival Yá Dandara
Ancestralidade e empoderamento feminino foram a pauta do 2º Festival Yá Dandara

Na última sexta (22), teve início o Segundo Festival Yá Dandara, com roda de conversa e oficina. No sábado (23), o Festival levou ao pátio do Museu Théo Brandão (MTB) temáticas como empoderamento feminino e ancestralidade das pessoas pretas. O festejo foi promovido pelo Maracatu Yá Dandara, primeiro grupo do segmento formado unicamente por mulheres, contando com bazar, feira de empreendimentos locais e apresentações musicais.

“O povo alagoano, assim como todo o povo brasileiro, é marcado pela ancestralidade. Às vezes, sem nem saber, estamos reproduzindo o saber ancestral trazido por negros escravizados. Então, temos o Museu Théo Brandão sendo a casa da gente alagoana, por isso sempre estaremos de portas abertas a esse tipo de manifestação”, afirmou a museóloga Hildenia Oliveira, diretora do MTB.

Na sexta, à tarde, aconteceu a roda de conversa “Descolonizando a arte a partir da ancestralidade feminina”, tendo a participação de Hildênia Oliveira e da cientista social Tamara Caetano. “Eu faço esse movimento pensando que não é buscando figuras heróicas que foram consolidadas a partir de uma historiografia branca, do congelamento de memórias internalizadas nas narrativas, que a gente convoca a ancestralidade. Eu penso na minha pesquisa e em toda a minha construção que reverenciar essa ancestralidade e evocá-la na minha prática é voltar e reclamar e fazer o movimento que a escritora Ana Maria Gonçalves vai dizer: ‘quando eu não souber para onde ir, eu volto para saber de onde venho’. Quando eu faço esse movimento pensando em evocar essa ancestralidade, eu volto para as minhas mais velhas, para as minhas avós, minhas tias, mulheres negras que me construíram enquanto uma mulher negra nesse mundo”, disse Tamara.

A diretora do MTB reforçou que o espaço do Museu é aberto para o enfrentamento de várias questões. Nesse sentido, houve eventos importantes como a feira da reforma agrária, o maracatu e as discussões feministas, “que a gente iniciou com um clube de livros e desse clube, foram desenvolvidas outras ações. É o espaço onde estou construindo boas memórias, boas relações, inclusive ajudando a desconstruir esse museu com o pensamento errado, construído de cima pelos de cima. A gente vem tentando mudar toda essa trajetória”, explicou.

Ligação entre o sagrado e o material

Durante o evento aconteceu a oficina “Ritmo e história do maracatu”, com o percussionista Wilson Santos, que falou sobre o próprio caminho trilhado na história do maracatu em Alagoas até o momento atual. Entre várias experiências contadas, Wilson comentou como o maracatu permeia os rituais religiosos de matriz africana. “No terreiro, o tambor é um instrumento extremamente importante de ligação entre o sagrado e o material. É através do som que se comunica. O som é como se fosse o carteiro”, explicou o músico.

Abrindo o evento no sábado, houve apresentação do Centro Cultural Oya Mesan, trazendo músicas autorais e também grandes sucessos que refletem negritude e ancestralidade. Em seguida, houve um show do multiartista alagoano Igbonan Rocha, com Samba de Negro, reproduzindo clássicos do samba e do pagode. Em seguida, houve apresentações dos grupos Afro Dendê, Capoeira Sementes do Brasil, Afro Afoxé e Samba de Roda Posu Beta, animando o público do evento com canções e rodas de samba.

O Maracatu Yá Dandara também iluminou o evento ao som de atabaques e agogôs. As anfitriãs do evento trouxeram clássicos de artistas negros e canções autorais em contribuição aos momentos de ancestralidade e feminilidade. A musicista Dani Lins, idealizadora do evento e coordenadora do grupo, afirmou que esse momento é uma tentativa de tornar a cultura e a história mais acessíveis.

“Trazer tudo isso para um espaço público, de forma gratuita, é nossa forma de ir contra essa maré de deixar a cultura presa a um grupo específico de pessoas. Queremos ir muito além disso. Queremos alcançar talentos que muitas vezes não são alcançados por falta de oportunidades com essa”, disse Dani Lins.

Continuando as apresentações, a Escola de Samba Gaviões da Pajuçara trouxe uma experiência digna de Sapucaí ao pátio do MTB, com bateria, mestre-sala, porta-bandeira e muito samba no pé. Finalizando a noite, a Orquestra de Tambores de Alagoas realizou uma apresentação com músicas que englobava os principais conceitos do evento: ancestralidade preta e presença feminina.

Para Helen Victória, estudante de Relações Públicas da Ufal, eventos como o Maracatu Yá Dandara atuam como ferramentas de resgate de uma cultura ancestral que muitas vezes é invisibilizada.

“Com toda certeza, ações como essa valorizam o resgate de nossas raízes. Para mim, que sou uma mulher negra e periférica, iniciativas assim me tocam por reforçar a importância da minha cultura na sociedade atual, e até mesmo a saber o meu lugar no mundo”, finalizou a estudante.

 Contando com performances musicais do início ao fim no sábado, o 2º Festival Yá Dandara foi produzido com o apoio da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), da Fundação Municipal de Ação Cultural (FMAC) e do Museu Théo Brandão (MTB).