Núcleo da Ufal no Sertão atua na preservação do patrimônio arqueológico de Alagoas

Grupo ligado ao Campus do Sertão, em Delmiro Gouveia, desenvolve pesquisas em áreas pré-históricas e realiza trabalho de educação patrimonial

Por Eduardo Almeida - jornalista - Fotos - Renner Boldrino e arquivo
Atuação na preservação do patrimônio arqueológico de Alagoas
Atuação na preservação do patrimônio arqueológico de Alagoas

A história contada a partir de vestígios. Assim pode ser definido o trabalho de pesquisadores ligados à Universidade Federal de Alagoas (Ufal), no Campus Sertão, em Delmiro Gouveia. O grupo vem realizando estudos em áreas pré-históricas e desenvolvendo ações de aproximação com a comunidade, garantindo, deste modo, a preservação do patrimônio arqueológico alagoano e de outros estados nordestinos.

O Núcleo de Pesquisas e Estudos Arqueológicos e Históricos, como é denominado, atua, sobretudo, no Sertão de Alagoas. Mas, conforme o professor da Ufal e coordenador do grupo, Flávio Moraes, há pesquisas em andamento nos estados de Pernambuco, Paraíba, Sergipe e Bahia. O trabalho arqueológico também extrapolou as fronteiras do país e há parcerias em andamento com a Universidade Veracruzana, no México.

Mas que tipo de pesquisas são realizadas? O Núcleo se dedica a áreas distintas, mas correlacionadas: há desde estudos em cemitérios arqueológicos até trabalhos com a tecnologia 3D. Existem, ainda, pesquisas relacionadas a pinturas rupestres e ao estudo de adornos pré-históricos e históricos encontrados em áreas funerárias. Todo o material é devidamente higienizado, catalogado, acomodado e se transforma em conhecimento.

“O Núcleo de Pesquisas e Estudos Arqueológicos e Históricos é ligado ao curso de licenciatura em História. Desde que cheguei ao Campus do Sertão, senti a necessidade de criar o grupo, tendo em vista a potencialidade da região. Então, nos articulamos e conseguimos desenvolver o projeto. Temos mestres e doutores em Arqueologia que já passaram pelo Núcleo”, explicou Flávio Moraes, professor e coordenador da iniciativa.

Além dele, o grupo conta com o professor José Ivamilson Silva Barbalho, e com a colaboração de três estudantes de doutorado e uma estudante de mestrado, que estão vinculados ao Programa de Pós-graduação em Arqueologia da Universidade Federal de Sergipe; um estudante de pós-graduação lato sensu, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA); além de estudantes de graduação da Ufal envolvidos com pesquisa.

“Todos os alunos que simpatizam com o conteúdo de Arqueologia acabam se aproximando e seguem carreira depois de sua formação em História. Atuamos desde a arqueologia pré-histórica até a histórica. Na pré-história, a nossa força maior é na arqueologia funerária ou arqueologia da morte, porque é minha área de pesquisa. Eu tenho concentrado minhas pesquisas nesta área, em sítios funerários que têm sepultamentos humanos pré-históricos”, ressaltou Flávio Moraes.

E acrescenta: “Já fizemos escavações em sítios funerários, mas também temos um egresso que está no doutorado estudando pintura rupestre. Temos outra egressa que está estudando os adornos identificados juntos aos sepultamentos. Mais uma que está estudando as características dos cemitérios históricos. Temos outra parceira que vem desenvolvendo pesquisa no campo da antropologia dentária.”

Esses estudos, segundo Flávio Moraes, são fundamentais para assegurar a conservação do patrimônio arqueológico e contar, de forma mais clara, a história de quem um dia habitou essa região do estado. “Os estudos nos permitem uma maior aproximação com a comunidade e, a partir do trabalho de educação patrimonial, a conservação dessa memória, que é fundamental para a nossa história”, concluiu o professor.

Uma dessas pesquisas é desenvolvida pela doutoranda Tatiane Soares, que, apesar de ser formalmente vinculada à Universidade Federal de Sergipe, pela pós-graduação, integra o Núcleo de Pesquisas e Estudos Arqueológicos e Históricos da Ufal. A pesquisadora investiga os adornos funerários, contas e pingentes encontrados em indivíduos de grupos pré-históricos do Nordeste do Brasil, especificamente na Paraíba e em Pernambuco.

Tatiana Soares destaca a importância do trabalho que vem sendo realizado. “O Núcleo busca estabelecer parcerias com instituições, comunidades locais e profissionais qualificados para alcançar o objetivo de preservar o patrimônio arqueológico em Alagoas e em outros estados. Estamos conseguindo aprender muito com essa experiência”, assegurou.

Entre os trabalhos de educação patrimonial que têm sido realizados estão ações desenvolvidas com estudantes do ensino médio. A doutoranda Danúbia Rodrigues, ligada ao Programa de Pós-graduação em Arqueologia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e colaboradora do Núcleo, explica que essas iniciativas são tão importantes quanto os conhecimentos que são acumulados com as investigações realizadas.

“O Núcleo tem muita importância não só no sentido de acúmulo de conhecimento, o que é importante, porque a gente acaba difundindo conhecimento arqueológico, mas, penso que, sobretudo, a preservação do patrimônio se dá quando a gente recebe, por exemplo, estudantes aqui no Núcleo ou vamos até escolas e prefeituras. A partir dessa troca é que a gente vai conseguir fazer a preservação do patrimônio”, expôs Danúbia Rodrigues.

Outro estudo é liderado pelo doutorando José Aparecido Moura de Brito, que é integrante da pós-graduação na UFS e colaborador do Núcleo. O pesquisador – que é graduado em História pela Ufal e mestre em Arqueologia – desenvolve pesquisas sobre arte rupestre, educação patrimonial e ensino da Arqueologia.

“Sabe-se que o estado de Alagoas possui bastantes sítios arqueológicos pré-coloniais e históricos, porém, a sua preservação e conservação ainda podem ser um desafio complexo. É aí que entra o papel fundamental do Núcleo de Pesquisa e Estudos Arqueológicos e Históricos. Por meio de pesquisas e estudos aprofundados, esse núcleo busca localizar sítios arqueológicos, investigá-los e, com isso, implementar medidas de proteção adequadas, evitando a sua degradação e perda irreversível”, ponderou.

José Aparecido Moura de Brito acrescenta que o conhecimento produzido pelo Núcleo pode servir como base para a formulação de políticas de preservação do patrimônio arqueológico, ou seja, que os resultados das pesquisas e estudos conduzidos podem auxiliar na tomada de decisões pelos órgãos competentes, possibilitando a implementação de medidas legais e práticas efetivas de proteção, conservação e gestão dos sítios.

Matéria publicada na Revista Saber Ufal de 2023. Veja aqui essa e outras matérias.