9 de agosto: Neabi destaca a importância da data para a construção da sociedade
Flávio Moraes, vice-coordenador do Neabi no campus do Sertão, faz um balanço histórico da data e das ações da universidade
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O dia 9 de agosto é marcado pela celebração internacional dos Povos Indígenas, com o intuito de reconhecer e valorizar a riqueza das culturas e suas contribuições para a construção da sociedade, bem como a luta pela preservação de seus direitos e territórios. A data foi instituída em dezembro de 1994, através da resolução 49/214, da Assembleia Geral das Nações Unidas, dois anos depois da primeira reunião do grupo de trabalho da ONU sobre populações indígenas da subcomissão para a promoção e proteção dos Direitos Humanos, realizada em Genebra, na Suíça.
Para Flávio Moraes, professor do curso de História e parte da coordenação do Núcleo de Estudo Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), no Campus do Sertão, a data recorda a importância da luta dos povos originários por seus direitos.“Assim como o dia 19 de abril, esta é mais uma data que reconhece, em nível internacional, a autodeterminação dos povos indígenas, fazendo com que a sociedade reflita sobre os esforços constantes que esses povos implementam diariamente para sua manutenção, desenvolvimento e reconhecimento perante a sociedade contemporânea. Este é o momento para ficarmos vigilantes em relação aos preconceitos e às formas de vermos esses povos”, conta o historiador.
Segundo dados do Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), existem cerca de 1.693.535 pessoas autodeclaradas indígenas no Brasil, o que corresponde à 0,83% da população. Cerca de 25.725 destes habitantes se encontram em território alagoano, distribuídos em mais de 10 comunidades indígenas.
Implementação das pautas indígenas na Ufal
A Ufal, por meio do Neabi, implementa diversas pesquisas e ações afirmativas voltadas para esta população. “Durante todo o processo histórico da caminhada colonial no Brasil, foi praticada de forma intencional a exclusão e marginalização dos povos negros e indígenas. Com isso, compreendeu-se que as pautas de luta pelos direitos de ambos eram bastante próximas. Em virtude da intensificação dos movimentos sociais indígenas, e de outros fatos históricos, há quasecinco anos o Neabi da Ufal reconheceu a importância de se discutir a temática indígena e passou a incluí-la nas pautas da Universidade”, conta Flávio.
Segundo o vice-coordenador, o entorno do Campus do Sertão é uma região densamente ocupada por populações indígenas, como os povos Katokinn, Geripankó e Karuazu, em Pariconha, e Kalankó, em Água Branca, o que reflete no público docente no campus. Ele afirma que existem, aproximadamente, 120 estudantes autodeclarados indígenas, matriculados.
No último semestre de 2023, foram destinadas 12 bolsas para alunos indígenas no Campus do Sertão, além das 35 já existentes destinadas a esse público, através do programa Pró-Identidades Indígenas, que tem como objetivo desenvolver projetos por meio de ações de cunho pedagógico e à divulgação da produção de saberes diversos, relacionados à prática extensionista, cultural e científica.
Mas não é só na região mais árida que estão localizadas as ações institucionais para os povos indígenas. No campus de Engenharia e Ciências Agrárias (CECA), sob a supervisão da professora Regla Toujaguez, vice-coordenadora do Neabi/Ceca, foi desenvolvido o projeto “Solo vivo: resgate de saberes sobre a Agrobiodiversidade e a Geodiversidade em povos tradicionais de Alagoas”, em colaboração com o Povo Wassu Cocal, do município de Joaquim Gomes, que estudava as plantas medicinais que fazem parte da tradição dos povos indígenas e dos africanos que foram escravizados e trazidos ao Brasil.
O professor finaliza destacando a necessidade de enxergar o futuro desses povos e destaca os principais desafios: “Em relação à temática indígena na sociedade, ainda estamos caminhando muito lentamente no que se refere à conscientização da população em discutir essas pautas. A ausência de uma formação apropriada acaba nos colocando nessa condição de ter pouco conhecimento e, portanto, sem poder atuar de forma mais efetiva, o que acaba se tornando o nosso principal desafio enquanto Neabi”, reflete o vice-coordenador do Neabi no Campus do Sertão sobre a inclusão da pauta fora da Universidade.