Pesquisadores da Ufal analisam peixe-leão capturado no litoral sul de Alagoas

Os trabalhos vão ajudar a entender os impactos na população de presas e os efeitos da competição com espécies nativas

Por Manuella Soares - jornalista
- Atualizado em
Pesquisadores da Ufal analisam peixe-leão capturado no litoral sul de Alagoas
Pesquisadores da Ufal analisam peixe-leão capturado no litoral sul de Alagoas

Começam esta semana as análises da equipe do Laboratório de Ecologia e Conservação no Antropoceno do Instituto de Ciências Biológicas (ICBS) da Ufal, das amostras do peixe-leão capturado no litoral sul de Alagoas. A espécie invasora foi registrada por pescadores, no final de agosto, pela primeira vez na região e encaminhada para a Ufal com o objetivo de contribuir com as pesquisas que já estão em andamento.

O professor Ricardo Miranda lidera um trabalho, coordenado pelo professor Robson Santos, que analisa a ecologia trófica dessa espécie e compara com espécies nativas funcionalmente similares. Para isso, são utilizados o Epinephelus adscensionis, conhecido como peixe-gato, e o Cephalopholis fulva, popularmente chamado de piraúna.

“Eles têm funções similares no ambiente como mesopredadores, ou seja, não são nem predador de topo nem consumidores primários, são predadores do meio e exercem a função de controlar a população de presas. Então, esse trabalho está investigando os efeitos desses predadores e comparando com as espécies, porque a gente quer avaliar qual o impacto que a chegada do peixe-leão tem nessa população de presas, em geral, espécies de camarões e pequenos peixes”, explica Ricardo sobre a pesquisa que está associada ao Programa de Pós-graduação Diversidade Biológica e Conservação nos Trópicos (Dibict), com financiamento da Fapeal e do CNPq.

Até então só havia registros do peixe-leão no litoral norte do Estado. Inicialmente em São Miguel dos Milagres, em 2023, depois houve capturas em Maragogi, Porto de Pedras, Passo de Camaragibe e Barra de Santo Antônio. No dia 30 de agosto a espécie foi encontrada por pescadores da comunidade de Lagoa Azeda, a 35 metros de profundidade e medindo 21 cm de comprimento.

Com o trabalho de conscientização que está sendo feito com os pescadores, a Ufal consegue aprofundar os estudos sobre o peixe-leão. “A gente tem recebido esses indivíduos principalmente dos pescadores, porque como ele [o peixe] ainda está chegando, ainda está invadindo o ambiente daqui da costa de Alagoas, a única forma de a gente ter essas amostras é através da ajuda dos pescadores”, comentou Ricardo.

As orientações sobre os cuidados com os espinhos venenosos, o manuseio e sobre a importância de doar o material biológico fazem parte de outro projeto, que contempla o lado social do problema e inclui a escuta dos pescadores em relação às suas percepções sobre a invasão o peixe. A pesquisa é realizada pelo projeto Corais do Brasil, coordenada pelo professor Ricardo e com financiamento da instituição inglesa The Rufford Foundation.

Investigar para conhecer

Os pesquisadores da Ufal querem saber se o peixe-leão está competindo com as espécies comuns do litoral brasileiro, visto que é originário do oceano Indo-Pacifico e já foi encontrado em diversas praias do Nordeste do Brasil. Como as pesquisas apontam que a espécie tem taxas de predação muito altas, o trabalho está sendo feito para comparar se essas taxas são maiores ou equivalentes a de peixes nativos, a exemplo das espécies de garoupas que estão sendo analisadas no laboratório da Ufal. A metodologia utilizada para entender melhor a alimentação desses grupos comparados é a análise do conteúdo estomacal e do trato gastrointestinal.

“Abrindo esses indivíduos, identificamos as espécies que são encontradas no conteúdo estomacal desses peixes. A gente também utiliza a metodologia de isótopos estáveis, que é uma análise química feita através da coleta de tecido muscular. Então, a gente retira uma amostra e manda para um laboratório parceiro fazer as análises químicas pra identificar, através da proporção de elementos como nitrogênio e carbono, qual a posição trófica na cadeia alimentar que eles estão inseridos”, contextualiza Miranda.

Essas informações complementares ajudam a esclarecer os impactos do peixe-leão no ecossistema marinho e os efeitos na população das suas presas. Os pesquisadores também pretendem obter respostas sobre as consequências causadas nas Áreas de Proteção Ambiental em comparação com as áreas que não são protegidas.

“O projeto está avaliando o papel das áreas protegidas, se elas influenciam ou não no papel funcional das espécies. E aí, colocando o peixe-leão nesse panorama, saber se ele interfere nas espécies nativas, se ele afeta a população de presas, como o camarão-branco, por exemplo, que os peixes nativos também comem. Então, ele pode ter um impacto não só para os peixes nativos na competição por recursos, como também para o pescador que vive do camarão e pra gente que come esse camarão”, explica o professor e reforça: “Vai ser um trabalho pioneiro que vai estabelecer o primeiro panorama para outros trabalhos, melhorando a avaliação dos impactos da invasão do peixe-leão”.