Bienal exalta protagonismo negro com poesia e imagens, confira
Tudo É Sobre o Agora e Pretagonistas são exposições cheias de simbologia, significado e afeto
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Qual o valor da arte? A quem ela serve? A arte tem cor? A quem ela representa? São muitas perguntas, mas não as únicas, e a resposta para elas veio em forma de duas exposições na 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas. Cheias de simbologia, significado e afeto, as mostras Tudo é sobre o agora com Jhonyson Nobre e Gleyson Borges conhecido como “a coisa ficou preta” e Pretagonistas, promovida pelo Sesc Alagoas exaltam o protagonismo negro a partir de poesias e imagens
Pretagonistas reúne uma verdadeira constelação de mulheres pretas que foram e são protagonistas na história de Alagoas. Professoras, artistas dos mais diversos segmentos e algumas in memoriam. Segundo uma das curadoras, Kelcy Ferreira, essa não é uma exposição que nasceu do agora, mas que vem sendo construída ao longo de um tempo entre o Sesc Nacional e o Sesc Alagoas. “Esse conceito já vem sendo trabalhado ao longo de alguns anos, que é a valorização da da arte produzida pela população negra, dos nossos ancestrais, dos saberes, saberes esses que vem da África e que se encontram com e no Brasil”, comentou.
Com a representatividade levada a sério, a mostra traz 35 lindas mulheres pretas que em sua grande maioria são de Alagoas. Algumas são de fora, mas todas moram aqui. São da capoeira, do rap, mulheres trans, das artes visuais, dos terreiros e muito mais. Desde a luz da pele de cada mulher representada, até as expressões captadas, essa simbologia conversa com o tema da Bienal 2025, onde Kelcy destacou a relação dessas narrativas. Ela também avisou que a exposição não vai ficar restrita à Bienal.
"Daqui vai para o interior, para o Sesc Arapiraca, nós temos uma galeria lá e posteriormente o acervo vai ficar a disposição do [Sesc] Nacional. Alguma delas já vieram aqui visitar a exposição, e se emocionaram muito, no primeiro dia, na abertura da Bienal, que já foi todo um um acontecimento, e estavam aqui muitas delas, conversamos com o público que estava presente e cada uma falou sobre a sua emoção, sobre como estava se sentindo e estar aqui representada. Então foi um momento bem emocionante” contou Kelcy, que também é uma das mulheres representadas na exposição.
A identificação do público é notável. A cada olhar e sorriso é possível ver que ter essas mulheres representadas alimenta a esperança. “Eu consigo me ver nessas mulheres acredito que elas através do de cada sorriso elas carregam uma história muito bonita, uma que independente de tudo que elas viveram na terra, elas seguiram forte, firmes e hoje estão sendo aqui representadas nessa exposição muito bonita. E eu fico feliz em ver isso como uma mulher negra”, contou a estudante Laura Yasmin.
"Tudo é agora"
Dizem de forma muito errônea que a “a fruta não cai longe do pé” e o artista que é conhecido como “a coisa ficou preta”, Gleyson Borges mostrou com sua obra Gigantes que sim, os protagonistas tem a pele preta e que sua condição, apesar de fazer com que eles saiam atrás na luta pela conquista, eles são muito capazes.
A obra em questão, está em seus rascunhos digitais há pelo menos uns cinco anos, contou Gleyson. Na obra, um jovem negro vestido de beca e com o diploma na mão é rodeado pelo dizeres “eu sou o filho da empregada, do servente, do pedreiro e várias outras profissões em que ainda são vistas como empecilho para que um filho desses profissionais possam ascender, na educação, na arte, enfim, na vida."
Quando falado sobre o tema da Bienal, que é ligado com a ideia de ancestralidade, Gleyson diz que não esqueceu o passado, mas que olha para o presente e para o futuro: “Eu acho que a ancestralidade é um termo que nos leva muito para um passado mais distante, e eu quero trazer um pouco esse olhar ancestral para mais perto, para uma sociedade que a gente conhece literalmente. Nossos pais, nossas mães, avós, avôs”, disse.
Filha de uma cuidadora e de um motorista, Adrielly Albuquerque se viu como uma gigante diante dessa obra gigante. Ela disse que conseguiu se reconhecer na obra por toda dedicação que seus pais tiveram para que ela pudesse chegar até onde se encontra no momento, em especial de sua mãe.
"Ela me acolhe e me incentiva todos os dias para eu estar onde eu estou e eu sei que tudo o que eu faço é reflexo dela. É reflexo do meu pai também, mas principalmente da minha mãe que ela sempre foi uma guerreira, sempre me incentivou muito e tudo o que eu tenho e terei é parte do que ela me ensinou a ser: ser humana, ser uma pessoa dedicada que corre atrás dos sonhos, então ver essa obra aqui e dizer eu sou filha de uma cuidadora, profissional de educação física e futura enfermeira e eu posso dizer que eu só tenho orgulho e gratidão pelo que ela é, porque me fez querer ser o que sou hoje”, contou, orgulhosa.
A imagem de felicidade é como um ponto fora da curva: “Pessoas que na sua trajetória abriram caminhos para que a juventude mais recente pudesse alcançar e ocupar novos espaços, principalmente espaços acadêmicos, que é o lugar onde através da educação é possível abrir portas para a juventude negra, sendo possível tornar as coisas um pouco menos difíceis. Esses gigantes que permitiram que nós pudéssemos chegar onde nós estamos chegando, apesar dos pesares”, completou.
Sobre a Bienal
A 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas é realizada pela Universidade Federal de Alagoas e pelo governo de Alagoas, com correalização da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes) e patrocínio do Senac e do Sebrae Alagoas.
Sob a curadoria do professor Eraldo Ferraz, diretor da Edufal, o maior evento cultural e literário do estado também tem como parceiros a plataforma de eventos Doity, a rede de Hotéis Ponta Verde, o Sesc, a Prefeitura de Maceió por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed) e o Instituto Federal de Alagoas (Ifal), além das secretarias de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), de Turismo (Setur) e de Comunicação (Secom) de Alagoas.
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