MTB celebra Consciência Negra com homenagens à ancestralidade e resistência
Museu trouxe histórias que fortalecem a memória afro-brasileira e promove reflexão sobre identidade, resistência e representatividade em Alagoas.
Durante a Semana da Consciência Negra, o Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore (MTB) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em Maceió, utilizou suas redes sociais para reforçar o papel da memória, da identidade e da luta da população negra na construção da história e resistência. Ao longo dos dias, o MTB publicou uma série de posts especiais destacando personalidades e suas contribuições marcantes na cultura afro-brasileira.
A programação digital buscou promover reflexão e educação a partir da valorização de nomes que, mesmo fundamentais para a história do estado, nem sempre são reconhecidos nos livros e espaços oficiais. Entre os homenageados estiveram líderes quilombolas, futebolista, mestres da cultura popular e personalidades que desempenharam papel crucial na resistência contra o racismo estrutural.
As publicações lembraram ainda que a luta pela igualdade não começou nem termina no 20 de novembro, data escolhida em referência à morte de Zumbi dos Palmares, símbolo máximo da resistência negra no Brasil. De acordo com o Museu, o objetivo da ação foi reavivar a força de uma ancestralidade que, mesmo oprimida, nunca deixou de criar, reinventar e resistir.
Hildênia Oliveira, museóloga e diretora do MTB, enfatiza que além da preservação dos acervos, o Museu tem o papel crítico político importante dentro da sociedade e, foi nessa perspectiva, que surgiu a ideia de homenagear as figuras negras que foram/são destaques de força e resistência: “Celebrar a semana da Consciência Negra, é honrar quem transforma história em legado e memória em arte", disse.
“Escolher esses nomes para homenagear é, sobretudo, fortalecer o pensamento crítico e reafirmar nossos laços com as comunidades que construíram história. O acervo do Théo Brandão traz uma grande contribuição para o estado; lá temos o privilégio de apreciar um pouco de toda essa cultura e ancestralidade alagoana”, destacou a gestora.
Além de ressaltar trajetórias individuais, o Museu reforça a importância de espaços culturais assumirem posicionamento educativo e social no enfrentamento ao racismo.
Hildênia ressaltou que ao longo do ano, várias ações significativas são implantadas no MTB visando a necessidade da preservação da memória negra alagoana, essas que fortalecem: pesquisa; a reflexão e a valorização das identidades históricas do estado.
“Quando criamos uma pós-graduação em práticas culturais populares, observamos que todas essas práticas atravessam as questões afro-ameríndias presentes em Alagoas, que ainda são pouco debatidas. O MTB tem contribuição na arte, na música, no teatro, na culinária e outros âmbitos, mas além de preservar essa memória tão significativa e artística, o Museu entende que precisa fazer mais, contribuir ainda mais para o fortalecimento e valorização da cultura negra”, acrescentou a diretora do MTB.
A cada post, o público também era convidado a refletir sobre a realidade atual da população negra em Alagoas e sobre os desafios que ainda persistem em áreas como política, esporte, artesanato, oportunidades, representatividade e preservação patrimonial. Proteger, registrar e divulgar histórias, saberes e expressões culturais de matriz africana é o enfoque para fortalecer a identidade e manter viva a ancestralidade.
Com as postagens, o MTB reforçou seu papel como guardião da cultura popular nordestina e como espaço de reconhecimento e valorização da herança africana que marca profundamente a identidade de Alagoas. Um estado erguido por mãos negras e indígenas não pode permanecer no apagamento — precisa afirmar, proteger e celebrar seus protagonistas.
Personalidades como Mestre Jayme, Mestre Zumba, Almerinda Gama, Mestre Irineia e Marta Silva foram destacadas como referências negras que marcaram a história e a cultura de Alagoas. Cada uma, em sua área de atuação — seja na arte, na política, no esporte ou no artesanato — contribuiu para fortalecer a memória e a visibilidade da população negra.
Esses nomes simbolizam resistência, talento e pioneirismo, servindo de inspiração para as novas gerações. Ao serem lembrados, reforçam a necessidade de valorizar e reconhecer a negritude em Alagoas. Cada trajetória é um testemunho vivo de luta e contribuição cultural, social e histórica. Eles mostram que a história negra não pode ser esquecida, mas celebrada e transmitida. Assim, se mantém viva a memória e a força de quem ajudou a construir o estado.
O mês da Consciência Negra está chegando ao fim, mas o Museu Théo Brandão em parceria com o ogã Wilson Santos, seguirá com as comemorações nos próximos meses e uma delas será o Festival Yá Dandara que ocorrerá em Dezembro (19 e 20). O evento de grande importância, será dedicado à resistência negra em Alagoas, com mesa-redonda, oficinas e a presença de várias personalidades negras. As atividades serão voltadas, principalmente, para o fortalecimento e valorização do público feminino, sobretudo, das mulheres negras.
“Este ano, voltamos o olhar quase que exclusivamente para as mulheres. Grupos de várias regiões do Brasil estarão presentes, e toda a temática do evento será centrada na resistência negra. Além da musicalidade, o foco principal será o debate sobre intolerância religiosa, pois, apesar de estarmos no século XXI, o preconceito ainda persiste. Precisamos reforçar essa pauta, pois a Consciência Negra não se resume a uma festa. O 20 de novembro não é celebração, mas um espaço para relembrar tudo o que ainda precisa resistir até hoje”, finalizou Hildênia.