Estudo revela assimetrias na qualidade de atrativos turísticos brasileiros
Artigo publicado em periódico internacional tem co-autoria de professor da Ufal e analisa a percepção de turistas e moradores sobre os destinos no Brasil
- Atualizado em 28/03/2025 16h38

Uma pesquisa nacional liderada pelo professor Sandro Medeiros, do curso de Turismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), revelou diferenças significativas na percepção da qualidade dos atrativos turísticos brasileiros. O estudo, publicado no prestigiado periódico internacional Tourism Recreation Research, analisou a opinião de turistas e moradores e constatou que as avaliações variam entre as regiões do país. No geral, os atrativos do Nordeste receberam as notas mais baixas, enquanto Centro-Oeste e Sudeste tiveram as melhores avaliações.
O estudo foi coordenado por Medeiros e realizado em colaboração com pesquisadores de instituições do Brasil e da Inglaterra. E, de acordo com o docente, os resultados podem subsidiar políticas públicas para melhorar a gestão do turismo no Brasil, sobretudo no âmbito regional e local.
Intitulada Perceptions of the quality of tourist and visitor attractions: A comparative survey of tourists and residents (Percepções da qualidade das atrações turísticas e de visitantes: uma pesquisa comparativa entre turistas e residentes), a pesquisa coletou dados de 1.776 pessoas, sendo 700 moradores locais e 1.076 turistas, em 223 atrativos turísticos distribuídos nas cinco regiões do Brasil.
Além das diferenças regionais, o estudo também revelou contrastes entre a percepção de turistas e residentes em vários indicadores avaliados. No geral, os turistas avaliaram os atrativos de forma mais positiva do que os moradores locais. No entanto, algumas exceções chamam a atenção. “No Nordeste, por exemplo, os residentes deram notas mais altas para a estética dos atrativos do que os turistas. Por outro lado, quando o critério avaliado foi a segurança, os moradores foram mais críticos”, explicou Medeiros.
Segundo ele, esse é o primeiro estudo em escala nacional que analisa as percepções de qualidade dos atrativos turísticos a partir da visão de turistas e de moradores. “Isso só foi possível graças à parceria entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros, com apoio da Rede Brasileira de Observatórios de Turismo (RBOT). Mas, em Alagoas, não houve coleta de dados porque não temos representação da Rede”, destacou.
Os resultados reforçam a necessidade de estratégias regionais e diferenciadas no planejamento turístico. O estudo indica que ações para melhorar a qualidade dos atrativos devem levar em conta as percepções distintas de visitantes e da população local. “Nosso estudo revela as disparidades regionais refletidas nos respectivos atrativos turísticos e destaca as diferenças nas percepções de qualidade de duas importantes partes interessadas do turismo. Para além desta constatação, isso pode sugerir que esses dois públicos possuem necessidades distintas. Dessa forma, as pesquisas de levantamento realizadas por órgãos responsáveis pelo planejamento e gestão do turismo junto à demanda turística devem passar a diferenciar os dois públicos e analisá-los separadamente”, analisou Medeiros.
Ao sugerir: “Os gestores precisam entender que turistas e moradores enxergam os atrativos de formas diferentes. Estratégias que funcionam em uma região podem não ser adequadas para outras. Esses gestores precisam ter em mente que ações projetadas para corrigir deficiências de qualidade, detectadas em atrativos de uma região, podem não ser adequadas para atrativos similares para outra, uma vez que as percepções de qualidade dos diferentes públicos de visitantes podem divergir.”
A pesquisa também já rendeu outra publicação, em 2024, no International Journal of Tourism Cities, na qual os pesquisadores avaliaram a escala Tourqual, ferramenta que mede a qualidade percebida dos atrativos turísticos. Pela contribuição científica, o professor Sandro Medeiros foi homenageado pelo criador da escala, Tiago Savi Mondo, que celebrou a parceria entre os pesquisadores. “Na última década, o Tourqual se consolidou como uma das principais ferramentas de gestão turística do Brasil, bem como uma das principais ferramentas metodológicas e científicas no campo da qualidade de serviços turísticos. Graças à colaboração da Rede Brasileira de Observatórios de Turismo e de uma equipe científica de alto nível, conseguimos validar a escala e avançar no estudo das percepções sobre a qualidade dos atrativos”, ressaltou Mondo.
E completa: “O professor Sandro Medeiros foi peça-chave para o sucesso nesse desafio. Com sua atuação em métodos de pesquisa e análise estatística, empreendemos a validação da escala Tourqual, publicada no International Journal of Tourism Cities (Leia aqui o outro artigo), junto com os pesquisadores Erose Sthapit, da Manchester Metropolitan University, da Inglaterra; Peter Björk, da Hanken School of Economics, da Finlândia; e Lara Brunelle de Almeida Freitas, da Universidade Federal do Paraná. Agora, em nova publicação, com parte dessa equipe e a liderança do professor Medeiros, apresentamos mais resultados da pesquisa, enfatizando as diferenças nas avaliações da qualidade percebida dos atrativos brasileiros.”
O artigo recém-publicado tem como coautores, além de Sandro Medeiros e Tiago Savi, os pesquisadores Erose Sthapit, da Manchester Metropolitan University, Inglaterra; Peter Björk, da Hanken School of Economics, Finlândia; Lara Brunelle de Almeida Freitas, da Universidade Federal do Paraná; José William Barbosa, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte; Aline Barbosa Tinoco Luz, da Universidade do Vale do Itajaí; e Brian Garrod, da Swansea University, Inglaterra.
Com 50 anos de existência, o Tourism Recreation Research é um dos periódicos mais respeitados nas áreas de turismo, hospitalidade, lazer e esportes. Vinculado ao grupo editorial Taylor & Francis, possui um fator de impacto de 3,4 e está classificado no 2º quartil (Q2) da categoria Tourism, Leisure and Hospitality Management pelo Scimago Journal Rank.
O artigo publicado este mês está disponível no Tourism Recreation Research e pode ser acessado neste link.