Modelo atual de produção de alimentos X desnutrição é o tema da entrevista
Leiko Asakura, coordenadora da formação de conselheiros de alimentação escolar, explica por que, mesmo sendo um dos maiores produtores do mundo, o Brasil ainda enfrenta altos índices de desnutrição
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Na segunda-feira (9), às 11h, o programa Ufal e Sociedade da Rádio Ufal recebe a professora Leiko Asakura, da Faculdade de Nutrição (Fanut). Considerando a sua vasta experiência profissional, a docente abordará como o modelo atual de produção de alimentos, voltado principalmente para a agricultura em larga escala e o agronegócio, impacta diretamente a segurança alimentar e a qualidade nutricional da população.
Ela vai explicar por que, apesar de o Brasil ser um dos maiores produtores agrícolas do mundo, ainda há milhões de pessoas, especialmente crianças, que sofrem com a desnutrição e a insegurança alimentar. Além de professora, Leiko é integrante do Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição Escolar (Cecane) da Ufal e coordenadora da formação de Conselheiros da Alimentação Escolar.
No Brasil, o número de cabeças de gado ultrapassou o número de habitantes, com mais de 238 milhões de animais em 2023, contra uma população de cerca de 212 milhões de pessoas. A maior parte dessa carne é exportada, especialmente para a China, enquanto o solo e os recursos hídricos do país são cada vez mais exauridos.
Além da pecuária, a monocultura de soja tem ganhado cada vez mais espaço, chegando a ocupar uma área equivalente a toda a extensão dos estados do Nordeste, com mais de 44 milhões de hectares cultivados em 2023. O Brasil produziu mais de 152 milhões de toneladas de soja, das quais 80% foram exportadas. Essa soja é usada majoritariamente para alimentação animal e na fabricação de alimentos ultraprocessados, que dominam a dieta de muitas pessoas, substituindo alimentos tradicionais como feijão, arroz e milho.
É evidente, de acordo com a professora, que esse cenário tem impactos diretos na saúde da população. Leiko explica que a insegurança alimentar se manifesta em diferentes níveis, desde a redução da qualidade dos alimentos até a diminuição da quantidade disponível. “Curiosamente, a insegurança alimentar pode resultar tanto em desnutrição quanto em sobrepeso e obesidade, porque a substituição dos alimentos frescos por ultraprocessados provoca uma alimentação rica em calorias, mas pobre em nutrientes essenciais”, esclareceu.
O modelo produtivo vigente, também afeta especialmente as populações rurais, que perdem suas terras para monoculturas e acabam migrando para as cidades, onde enfrentam dificuldades para manter uma alimentação saudável. Além disso, as mudanças climáticas agravam a situação, afetando a disponibilidade de água e a produtividade agrícola.
Leiko também alerta para os riscos das recentes flexibilizações nas leis ambientais, que podem acelerar o desmatamento e o uso intensivo de agrotóxicos, aumentando, ainda mais, a degradação dos recursos naturais e prejudicando a produção sustentável de alimentos.
Como alternativa, a professora destaca a importância da agroecologia e da valorização da alimentação escolar de qualidade, que pode garantir o acesso a alimentos frescos e nutritivos para crianças e adolescentes. “É fundamental lutar contra o desvio de recursos públicos e assegurar políticas que promovam a produção e o consumo de alimentos saudáveis”, finalizou.
Além da exibição às 11h desta segunda-feira, você pode ouvir esse episódio também às 17h e às 23h, com reprises de terça a sábado nos mesmos horários. O conteúdo também estará disponível em formato de podcast no site da Rádio Ufal ou na sua plataforma de áudio favorita.
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Ficha técnica do programa Ufal e Sociedade
Operador de áudio: Helder Melo
Direção técnica: Edilberto Sandes (Brother)
Locução: Lenilda Luna
Produção: Cecília Calado
