Relato enviado por Jalon Nunes sobre a experiência na Europa

O texto foi escrito em janeiro de 2009


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Arco do Triunfo, foto de Jalon Nunes
Arco do Triunfo, foto de Jalon Nunes

Chegamos a Portugal, na capital Lisboa, com funções acadêmicas – em virtude de um intercâmbio, porém, estas repletas de ideais e idéias de conhecer o novo e “usufruir” de novas culturas.

Portugal é receptivo suficientemente à medida que reconhece suas relações antigas com o Brasil, sem querer defini-las aqui, como exploradoras e/ou colonizadoras; mais que isso, Portugal é tido como um dos melhores países a serem visitados na Europa, levando-se em conta seu acervo cultural e arquitetônico. Na capital lisboeta podem ser vistos: o Mosteiro dos Jerônimos, a Torre de Belém, o Padrão aos Descobrimentos, o Museu dos Coches, o Museu Nacional de Arte Antiga, o Museu do Oriente, o Museu de Marinha, o Centro Cultural de Belém e especialmente a Coleção Berardo e as telas da pintora portuguesa Paula Rego; o Castelo São Jorge, o Cristo Rei na parte sul de Lisboa, atravessando a ponte 25 de Abril; é também imprescindível trafegar sobre as águas calmas do Tejo; praças fantásticas como: o Rossio, Terreiro do Paço, Restauradores, etc.; assim como em seus arredores a cidade de Fátima e Santuário; Sintra com seus belos castelos; Cascais e suas praias bonitas e mais aconchegantes, o Algarve e Cabo da Roca; Dentre tantos outros distritos e cidades de Portugal. No que diz respeito a culinária ninguém deve vir a Portugal e especialmente Lisboa e retornar sem comer algum prato a base de bacalhau; ou nem mesmo experimentar os Pastéis de Belém, através da única fábrica portuguesa que os faz com autenticidade e sabor único desde 1837. Em termos de oferta noturna, Lisboa oferece uma das melhores noites dentre tantas cidades européias, o ponto de encontro de jovens e adultos, tanto portugueses quanto de outras nacionalidades, é o Bairro Alto; este oferece uma infinidade de bares e discotecas, locais para o encontro de grupos e guetos, povos e culturas. Enquanto se pega o transporte coletivo, pode-se estar dentro de um “bondinho” magnífico, muitos deles com mais de cem anos de existência. Por ter um custo de vida mais baixo do que outros países da Europa, é excelente para que fiquemos nele alojados e daí visitemos outras cidades da Europa, sempre retornando a ele.

A princípio, em Setembro, a temperatura máxima oscilava nos 28 graus, tratava-se do fim do verão europeu. E alimentando esse espírito aventureiro, em consonância com as responsabilidades acadêmicas, visitamos inicialmente a Espanha, através de sua capital Madri e outra importante cidade, Barcelona, ambas nos oferecem uma realidade mais eurocêntrica e tipicamente mais fria em termos de temperaturas médias. Em Madri resistimos razoavelmente bem a temperaturas mínimas de 3 graus, no mês de Novembro.

As atracões oferecidas por Madri, para “turistas” são tipicamente museológicas e palatinas. Dentre os museus mais importantes destacam-se o Del Prado, que abriga a fabulosa Coleção Real de Pintura, obras dos séculos XVI e XVII. O Del Prado valoriza a escultura e a pintura espanholas, de artistas como: Goya, Rembrandt, Velásquez e outros franceses como: Rafael, Ticiano, Botticelli, Tintoretto, além de Rubens, etc. Figura como destaque As Meninas, de Velásquez. Outro importante museu é o Thyssen-Bornemisza que exibe pinturas importantes, de pintores de quase todo o mundo e que vão desde o século XIII ao XX e que pertenceram a família de mesmo nome. Além de obras de espanhóis e outros, há trabalhos dos impressionistas franceses e dos expressionistas alemães, além de russos. A coleção inteira custou 350 milhões de dólares ao Estado Espanhol. Lá podem ser vistas obras de Duccio, Rembrandt, El Grego, Rafael, Renoir, Edgar Degas, Van Gogh, etc. É importante visitar também o Reina Sofia, também com pintura espanhola, especialmente dos séculos XX e XXI, tais obras obedecem a uma organização cronológica. Podem ser contempladas lá as obras mais célebres de Juan Gris, Juan Miró, Salvador Dali, Picasso, etc. O destaque máximo do Reina Sofia é a Guernica de Pablo Picasso, um êxtase contagiante para dezenas de pessoas por vezes repentinas durante todo o dia. Mais que isso Madri tem Palácios magníficos com salas adornadas de ouro, assim como peças deste metal precioso, e também tecidos finos e móveis reais, como é o caso do Palácio Real. Para os amantes do futebol mundial e espanhol, pode-se dar uma conferida no estádio do Real Madri e ver suas conquistas em exposições.

Barcelona é bem mais aconchegante que Madri, libera um calor humano incrível e vê-se, em pleno domingo a noite, ruas lotadas de pessoas, espacialmente nas avenidas chamadas La Rambla e Rambla Catalunha, num vai-e-vem frenético e entusiasmante. Em termos artísticos a serem visitados, Barcelona rende-se ao talento de Antoni Gaudi e convida-nos a fazer isso também. Suas construções, de uma particularidade única e com curvas sinuosas ao extremo, são detalhes fascinantes e exóticos: pudemos visitar a La Pedreira, construída entre 1906 e 1910; a Casa Batló, entre 1904 e 1906, dentre tantos outros bonitos locais; porém, em termos de obras extasiantes de Gaudi, a Sagrada Família é a mais perfeita de todas, está sendo construída desde 1882 e prevê-se o término até 2030. É tão exuberante que, certa vez, Gaudi expressou que “Barcelona ficaria conhecida pela sua igreja”. Mais que isso podem ser vistas a Praça de Espanha, tal como ocorre em Lisboa e Madri; além do complexo desportivo, onde ocorreram os jogos olímpicos de Barcelona em 1992; o Porto e a Mar Mediterrâneo que margeia parte da cidade; o Bairro Gótico, o estádio do vitorioso Barcelona Futebol Clube, etc.

Pelo Natal estivemos em Paris, a capital francesa que, como todos nós ouvimos dizer, detém um glamour particular e iluminado. Na verdade uma ilusão desmancha-se quando lá pisamos, pois a melancolia dos parisienses nos contamina, atrelado a um frio letal (na ocasião suportamos -4 graus e não foi nada fácil ou animador); as ruas mal limpas e a sujeira escondida por perfumes nos faz decepcionar. Não que a cidade seja decepcionante em si, a culpa é nossa, pois a tornamos perfeita e referência mundial de chique e, o ícone da Europa que há muito deixou de o ser; porque de verdade ela é somente como se apresenta aos nossos olhos: a capital financeira da Europa, detentora de construções arquitetônicas fantásticas, belos museus e monumentos como qualquer outra cidade global. No inverno o governo francês permite que as pessoas desabrigadas usem as estações de metrô como refúgio no intenso inverno frio e estas tornam-se ainda mais sujas e impróprias. Os ideais de liberté, égalité e fraternité que estão incutidos na mente do mundo e numa história de luta, assim como no monumento de La Bastille, a praça onde deu-se a queda do poder vigente, através da Revolução Francesa de 1789, perdem-se nas visões decepcionantes e atípicas para uma cidade dita de luz. Mais além, um rio lindo a embeleza naturalmente (o Rio Siena) e um café a cada esquina. Acrescenta-se a isto, e com justiça, a degustação dos tipicamente franceses croissants, que derretem na boca, como se fossem feitos de magia. Nada mais que isso!

Vale sim a pena visitar a Catedral de Notre Dame; os cafés e os pubs. O Pantheon, o Arco do Triunfo (assim como há em Madri e Lisboa), e a avenida mais famosa de Paris: Campos Elísios. A Torre Eiffel é uma armação de ferro desafiadora, com seus 317 metros de altura. Encontra-se toda iluminada à noite, em azul, com a coroa da UE perto da base, sendo que esta esteve lá somente até o fim deste ano, já que a presidência da UE está agora na República-Tcheca. Oscila mais luzes a cada hora completada e difunde-se um farol duplo na haste, que gira razoavelmente rápido, como que marcando um território e cobrindo a cidade com um raio de luz.

O Louvre é o maior museu do mundo. Encontra-se próximo ao Rio Siena, a Catedral de Notre Dame e outros pontos atrativos da cidade. É sabido que detém as principais obras de arte e dos maiores mestres da história antiga e recente, seja da escultura ou da pintura, assim como de riquezas que identificam culturas – povos, como as múmias egípcias, por exemplo.

O prédio em si, isto é, a parte arquitetônica é também plausível, pois são mais de 300 anos de história; no que diz respeito ao acervo, são mais de 35 mil obras, fazendo com que, cerca de 8 milhões de pessoas os visite a cada ano.

Conhecer o Louvre e suas atracões é, de fato, uma tarefa impossível, pois ficamos entre uma dualidade: a apreciação de suas arquitetura ou a beleza e os detalhes das obras expostas ao público, no entanto, essas duas formas de beleza acabam por se aglutinarem e nós, meros observadores, nos perdemos em sua grandeza. Ficamos atónitos em meio a tantas pessoas e tantas obras de arte, desta feita a idéia de museu e a fidelidade contemplativa perdem-se numa espécie de ação mercadológica e nós nos sentimos em meio a um grande centro comercial com artigos à venda, pois também a cada fim de corredor e de cada piso há uma loja de souvenir. Diante de obras magnânimas e mundialmente conhecidas, como nas esculturas: a Vênus, descoberta em Milo (1300 a. C.); o Escriba Sentado, de 2600 a. C.; a Vitória Samotrácia , de 190 a. C. Dentre tantas outras; e nas pinturas: A Sagração do Imperador Napoleão I, de J. David; São Sebastião, de A. Mantegna; As Bodas de Caná, de Veronese; a Mona Lisa de Da Vinci; dentre tantas outras. Nesta última acontece um êxtase, nem tanto por ela em si (isto é, a tela pintada), mesmo porque em sua essência e excetuando as técnicas de pintura que apresenta, pouco ou nada diz sobre a realidade e a vida, trata-se de uma mulher com expressão dissimulada, tanto quanto a idéia alienada que temos da “exuberante” Paris, como se fosse perfeita e capaz de iluminar corações; quanto ao êxtase, é por causa da quantidade  incontável de pessoas, limitados por cordas, que há diante da pequena tela. Dois soldados a guardam e vidraças resistentes a protegem dos fanáticos.

As pessoas debatem-se para terem as melhores fotos (os japoneses são uma atração à parte, com suas câmeras gigantescas e sua audácia natural). Contemplação artística nunca, pois parar diante dela por mais de um minuto é provável que sejamos pisoteados ou no mínimo xingados.

A impressão que fica é que, as principais obras artísticas foram compiladas no Louvre, mas qual o significado de arte nestes termos? Pois quase ninguém as contempla; talvez ninguém poderá, ao menos “passar o olhar” sobre todas aquelas obras durante toda a vida; talvez ninguém vá com propósitos artísticos e contemplativos, mas pelo capricho e o status de verbalizar “estive no Louvre, em Paris, vi a Mona Lisa e tirei fotos ao lado dela”!

Enfim, é preferível ir ao Egito e ver, ao toque das mãos e ver na mais naturalidade possível uma múmia ou um sarcófago; ou jamais ver, apenas imaginar; do que ver, no Louvre, dezenas de múmias e sarcófagos enfileirados lado a lado, de uma maneira tão artificial e dominantemente adquiridas.

Ainda fomos ao Palácio de Versalhes, em Versalhes. No entanto, pagar 20 euros para ver as dependências de Luís XIV e outros, é um tanto quanto fraudulento, especialmente se nós nos consideramos bolsistas, como o somos. Deste modo, apenas ver e sentir seus jardins, caprichosamente detalhados aos gostos do “fabuloso” Rei Sol, já nos basta.

O Ano Novo foi por nós vivido no Porto. A segunda mais importante cidade de Portugal é fascinante; calor humano e clima agradável. Convida-nos a arquitetura intocável e as vinícolas, não só um mergulho na história, mas também uma degustação de prazer e vida boa, atrelado a isso pode-se fazer um passeio de barco pelas águas calmas e turvas do Rio Douro.

Atualmente em Lisboa vivemos normalmente; não somos, porém, partes diretas dessa gente e desta cidade, nem expressamos nacionalismo nenhum.     O frio nos toma o corpo e percebemos com carinho temperaturas de 3 graus mínimas até então.

Tudo isto para dizer que fazer intercâmbios acadêmicos é uma experiência riquíssima e impagável. A carga de conhecimentos que adquirimos e o contato direto com culturas distintas, nenhum livro ou nenhuma escola pode transmitir.

Muitas das palavras ditas anteriormente vão de encontro a pensamentos estabelecidos e paradigmáticos, porque somos meros reprodutores de conceitos e visões deturpadas, especialmente quanto a encantadora Paris. Mas, para isso, precisamos refletir e tentar apreender toda aquela realidade tão disassociada do que ouvimos ou vimos por via de outros meios de comunicação, senão nossos próprios olhos, audição e olfato, toque das mãos.

Só escrevemos tudo que aí está, porque vivemos, percebemos e, deste modo podemos comentar com certa propriedade.