Universidade estuda alto índice de negros albinos

Imprensa nacional destaca quilombolas albinos de Alagoas. A reportagem, feita por Carlos Madeiro, foi publicada no site do UOL, no dia 7 de março.


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Cleone Severino da Silva, que não é albina, com sua filha Taís, de apenas 5 meses, a mais nova entre os albinos de Filus
Cleone Severino da Silva, que não é albina, com sua filha Taís, de apenas 5 meses, a mais nova entre os albinos de Filus

O sol quente da comunidade de Filus, no município de Santana do Mundaú (105 km de Maceió), Zona da Mata de Alagoas, incomoda Deusa da Silva, 52. "Quando levo sol, sinto muita coceira na pele. Às vezes até descama."  

Descendente de escravos, assim como todos os que moram no povoado (o município de Santana do Mundaú é vizinho de União dos Palmares, onde surgiu o Quilombo dos Palmares, liderado por Zumbi), ela é a mais velha de um grupo de pessoas que apresenta uma característica que as diferencia da maioria da comunidade negra: possui albinismo.

Deusa e mais oito pessoas de Filus, onde vivem 40 famílias, possuem albinismo. A comunidade tem uma população de aproximadamente 180 pessoas. Os albinos representam, portanto, cerca de 5% da população.

Não existem dados precisos sobre quantidade de casos de albinismo registrados no Brasil. Na população mundial, segundo estudo da Universidade de Michigan (EUA), a estimativa é que uma em cada 17 mil pessoas tenha a anomali. Em Filus, essa incidência é 850 vezes maior.

No começo de março (segunda-feira, dia 2), os albinos de Filus começaram um período de avaliação médica no Hospital Universitário da Universidade Federal de Alagoas, para investigar problemas de pele comuns em pessoas albinas e para passar por uma bateria de exames para explicar, afinal, a razão do alto índice de albinismo na comunidade.

Oito dos nove albinos foram recebidos por uma equipe de profissionais do Hospital Universitário, em Maceió. Segundo o professor da Faculdade de Medicina Fernando Gomes, especialista em cirurgia plástica e coordenador do trabalho, o casamento entre pessoas da mesma família é uma possível causa do alto índice de albinos.

"Vamos realizar um mapeamento genético para precisar essas causas. O albinismo não é só dessa geração, mas é encontrado desde gerações passadas. Iremos avaliar também pessoas não-albinas daquela comunidade para termos dados mais precisos", afirma ele.

Segundo Gomes, em três meses o mapeamento estará pronto e eles vão passar por um mapeamento digital da pele. "Precisamos das informações genéticas do mapeamento para definir os procedimentos que iremos adotar. Precisamos ter também o controle de todas as feridas da pele para acompanhá-las, para isso vamos tirar essas fotografias da pele de cada um deles", ressalta.

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