Como fazer intercâmbio em Portugal
A parceria entre a Universidade Federal de Alagoas e o Programa Santander de Bolsas Luso-Brasileiras completa três edições. No primeiro momento, foram atribuídas cinco bolsas, que duplicaram na última edição. Lisboa, Porto e Ilha da Madeira foram os destinos de estudantes da Ufal no último semestre. Dos dez alunos que aterrissaram em terras lusitanas, apenas Manaíra Aires permaneceu por mais um semestre do outro lado do Atlântico. Para sabermos mais sobre essa experiência, fomos conversar com a estudante que mora, atualmente, na cidade do Porto, a segunda maior cidade de Portugal.
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Como você conseguiu fazer intercâmbio para estudar na Universidade do Porto, em Portugal?
Bem, no meu caso eu me inscrevi para concorrer a uma bolsa de estudos concedida pelo Programa Santander de Bolsas Luso-Brasileiras. O Santander tem financiado muitos projetos na área universitária, tanto aqui na Europa quanto no Brasil, fazendo a ponte entre os dois continentes. Para conseguir essa bolsa, passei por duas etapas: na primeira, concorri com pessoas dentro do meu curso (Jornalismo). Nessa etapa, foi importante currículo e coeficiente final (que é a soma de todas as notas dividida pelo número de disciplinas). Depois, concorri com os selecionados de outros cursos, pois eram dez vagas para quase todos os cursos ofertados pela Ufal (no interior e na capital). Nessa etapa, foi importante o currículo, o coeficiente final e, principalmente, a entrevista.
O que é mais importante no momento da entrevista?
É importante que se tenha segurança nos objetivos, naquilo que realmente se quer para si. Eu creio que um dos parâmetros que deveriam ser empregados na entrevista é avaliar os candidatos não só por meio das notas ou mesmo do próprio currículo. Acredito que se deve ver, principalmente, se aquela pessoa está emocionalmente preparada para aqueles desafios (e grandes!) que circundam ir morar num outro país. Claro que numa entrevista de cinco, dez minutos, não se pode ter um raio-X completo de alguém, mas pela forma como se defende aquilo que se quer já dá para ter algum indício.
O que mais se aprende durante todo esse percurso?
Bem, muitas pessoas pensam em vir para a Europa pelo status, pelo currículo, pelas oportunidades profissionais. Mas quando se chega aqui, muitas percebem que o que mais se leva daqui são as superações pessoais. A Europa tem pouco a ver com as projeções que fazemos quando estamos no Brasil; só quem vive esta experiência aqui é que percebe o quanto o Brasil é um país incrível e que muitas vezes não valorizamos devidamente. O nosso povo tem uma energia que não encontramos por aqui. Certa vez, o jornalista Pedro Bassan disse-me que ao vir para Portugal achava que iria aprender muito sobre o país, mas que hoje compreende que estar aqui é aprender ainda mais sobre o Brasil. Estou de pleno acordo com ele.
Do que mais você sente falta?
Sinto falta, especialmente, dos projetos que eu desenvolvia no interior de Alagoas. Foram trabalhos que me marcaram profundamente por me permitir o contato com comunidades de pescadores, agricultores, artesãos, pessoas que vivem distante de toda a nossa realidade urbana… Pessoas que muito me ensinaram que o conhecimento não se restringe à Academia.
Quais são as principais diferenças culturais que você observa?
O europeu é frio, e logo percebemos isso na forma como eles se relacionam entre si. As trocas de carinho (quer seja num relacionamento amoroso, de amizade, entre pais e filhos, enfim) são quase inexistentes em público, e até mesmo na intimidade os europeus possuem uma formalidade que se distancia muito da nossa maneira de viver. No entanto, as coisas por aqui funcionam com seriedade e eficiência. Acho interessante como no metrô não tem ninguém para cobrar os tickets, no supermercado cada um que coloque as suas compras na sacolinha… São coisas pequenas do cotidiano que também encantam na maneira como os europeus conseguem manter uma organização que falta em nosso país.
Quais as principais mudanças?
Quando se vem morar num outro continente, as mudanças adentram as nossas vidas se estivermos dispostos a observar em nós mesmos as transformações. A relação com o nosso próprio corpo muda completamente, pois a alimentação é diferente, só o fato das pessoas se vestirem diferente já muda a nossa própria percepção de estilo, a maior parte das pessoas engordam… Tudo isso constrói uma dialética entre o que nós somos e o que o mundo representa para nós. Saber quantos frascos de shampoo gastamos por mês, quantos pacotes de macarrão precisamos comprar… Parecem questões ínfimas, mas são exatamente elas que vão construindo as nossas novas perspectivas de mundo – se estivermos abertos para isso, claro.
Já sofreu algum tipo de preconceito por conta da nacionalidade?
Eu nunca sofri nenhum tipo de preconceito todo esse tempo que estou aqui. Acredito que se desenvolvermos um trabalho com seriedade e impormos limites, as coisas fluem tranquilamente. É preciso entender também que somos nós que temos de, alguma maneira, adaptarmo-nos, e não o contrário. Trazer um pouquinho do Brasil para cá não quer dizer invadir certas fronteiras de uma outra cultura. Respeito mútuo é o fator imprescindível.
E o que você diria para aqueles que objetivam passar pela experiência de ir morar em outro país?
Bem, quem quiser vir para cá venha querendo a experiência de vida, muito mais dos que as “grandiosidades” que se estimam aí do outro lado do oceano. Se quiser cravar sua marca profissional, é preciso se dedicar bastante e abdicar de muitas coisas que rodeiam convencionalmente um estudante em mobilidade. É preciso ponderar tudo, as saudades, as diferenças culturais, a solidão (por mais pessoas que se conheça, as relações são muito frágeis)… E deixar as coisas fluírem, viver intensamente, é isso.
Veja o resultado da seleção de bolsas luso brasileiras para a próxima edição do intercâmbio