Meteorologista da Ufal analisa condições climáticas enfrentadas pelo vôo 447
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Lenilda Luna - jornalista
O coordenador da Estação Meteorológica da Ufal, Humberto Alves Barbosa, doutor em sensoriamento remoto pela Universidade do Arizona, analisou as imagens enviadas pelo satélite Meteosat-9 e processadas pelo programa da Universidade, no dia do acidente com o Airbus da Air France.
Segundo o pesquisador, são comuns as precipitações formadas na zona de convergência tropical no período de fevereiro a maio, estendendo-se, em alguns anos, até junho, e a aviação leva em consideração essas condições climáticas quando define as rotas. Essa zona de convergência pode flutuar 10 graus ao norte ou 5 graus ao sul.
“Na altitude em que o avião estava, a 35 mil pés, ele normalmente não enfrentaria uma turbulência tão severa, mas, coincidentemente, a zona de convergência flutuou mais ao sul e com maior profundidade. Quando o Airbus passou, se deparou com um bloco de nuvens com muita atividade interna, onde havia também cristais de gelo e algumas explosões provocadas pelo choque de temperaturas, causando uma tempestade de muita intensidade”, analisou Humberto Barbosa.
As imagens processadas pelo laboratório da Ufal revelam aglomerados de células convectivas, que provocaram temperaturas de até menos 80 graus Celsius. “O avião enfrentou uma temperatura muito baixa, o normal nessa altitude da toposfera é - 40°C”, ressalta.
As explicações técnicas são detalhadas e levam em consideração um conjunto de fatores, mas o pesquisador explicou que a temperatura dos oceanos está dois graus acima da média, levando em consideração as últimas três décadas. “Isso provoca um deslocamento de ar quente muito rápido para cima. À medida que sobe esse ar vai se resfriando, quanto mais energia essa bolha de ar tiver, mais altitude ela alcança, resfriando rapidamente e provocando uma atividade intensa, causadora da precipitação e da turbulência”, explica o pesquisador.
Uma tempestade tropical é formada por vários fatores, um deles é o confronto entre a temperatura do oceano e a da atmosfera. Mas as condições enfrentadas pelo Airbus foram de intensidade acima da média. Essa turbulência severa não dura muito tempo, tanto que horas depois, outros aviões fizeram a mesma rota sem problemas. “Foi uma fatalidade que o Airbus passasse por essa área justo quando a tempestade estava mais aguda”, lamentou o meteorologista. “É tudo muito rápido, em um momento a natureza reúne características específicas que são muito difíceis de serem enfrentadas, e logo depois essa situação ameniza”, disse Humberto.
A contribuição da Meteorologia para a Aviação
Para o pesquisador da Ufal, o lamentável acidente, que vitimou 228 pessoas, reforça a necessidade de estreitar os laços entre a meteorologia e a aviação civil. “Temos hoje sistemas de processamento de imagens de satélites que podem contribuir para avaliar com mais precisão a situação climática em determinadas zonas, melhorando o planejamento das rotas na aviação civil”, disse o professor.
O sistema adquirido pela Ufal está acessível, atualmente, em dezesseis estações do Brasil. “Fomos pioneiros neste processo. Com o programa desenvolvido na Ufal, utilizando dois computadores, somos capazes de detalhar informações importantes para análise das imagens do satélite”, destaca Humberto Alves.
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Sobre o satélite Meteosat-9
O satélite Meteosat-9 foi desenvolvido pela ESA para a Organização Européia para a Exploração de Satélites Meteorológicos. Esta nova versão dos satélites Meteosat contribuirá para aperfeiçoar as previsões meteorológicas que coloquem em risco o planeta. O Meteosat foi colocado em uma órbita geoestacionária, que mantém o satélite praticamente imóvel a 36 mil quilômetros de altura sobre o ponto de intersecção do Equador e do meridiano de Greenwich. A segunda geração de satélites Meteosat, que serão operacionais até 2018, transmite 20 vezes mais informações que seus antecessores e imagens com uma resolução três vezes superior.