Universitários movimentam negócios no interior
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Patrícia Bastos - da Gazeta de Alagoas
Um viajante que tiver de pernoitar no município de Viçosa pode ter dificuldades na hora de encontrar um lugar para dormir. A pequena cidade, distante 81 quilômetros de Maceió, possui apenas duas pousadas e um hotel, que quase sempre estão lotados de alunos da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que estudam Medicina Veterinária na cidade.
Os universitários, em sua grande maioria vindos de outros municípios, incrementaram as transações imobiliárias no município, provocando a valorização do preço das poucas residências disponíveis para locação. "E quando eles sabem que o aluguel é para estudantes, elevam ainda mais o preço", afirma Wesley Magalhães Souza, aluno da Ufal, que é natural de Arapiraca.
Até pouco tempo atrás o estudante procurava uma casa para morar, mas acabou desistindo, devido ao custo alto e à escassez de opções. Quando ele ou os pais procuravam o proprietário de uma residência que estava para alugar, a primeira coisa que ouviam era uma pergunta: "É para estudante?". Com a resposta afirmativa, o valor cobrado pela locação do imóvel estava sempre acima dos padrões para a localização ou conservação do imóvel. "Não é fácil encontrar uma casa que tenha um preço justo, ou melhor, já procurei muito e não encontrei. Isso acontece porque mesmo com a Ufal, a cidade não cresceu", afirma o estudante. Segundo ele, a maioria das casas disponíveis para locação é muito antiga. Quase sempre desprovidas de qualquer conforto.
Em algumas das que ele visitou junto com a família, até mesmo o estado de conservação deixava a desejar. "Encontrar alguma que tenha pelo menos o teto forrado é quase impossível, e isso por um aluguel de R$ 350, que é muito caro para uma cidade pequena", ressaltou.
Nas três turmas de Medicina Veterinária, menos de dez alunos são de Viçosa, e então, de olho nos universitários forasteiros, está sendo construído na cidade um prédio de quitinetes, mas os estudantes não sabem quando ficará pronto.
Enquanto isso, pousadas, hotel e algumas repúblicas são moradia dos estudantes, que têm dificuldade para se deslocar às outras cidades.
"É difícil viajar de ônibus entre Arapiraca e Viçosa e de van a viagem demora duas horas e meia, além disso os horários são limitados. Não dá para viajar todos os dias assim", explica Wesley Magalhães, que ainda assim precisa tomar um ônibus para a Ufal.
No hotel, onde divide o quarto com outros dois colegas, é o endereço de mais 15 universitários durante a semana. A salgada mensalidade de R$ 300 do hotel é compensada pelas vantagens de ar-condicionado, chuveiro elétrico e uma arrumadeira, além de duas refeições diárias.
"Além de termos esses confortos, a proprietária do hotel também não tem do que reclamar. Numa conversa, ela disse uma vez que preferia contar com os estudantes, porque mantêm o hotel sempre ocupado durante a semana, do que com os viajantes, que passam pela cidade apenas de vez em quando", contou.
Mesmo com as mordomias, o estudante conta que sentiu um pouco de dificuldade para se adaptar no começo.
"É confortável morar em hotel, mas o lado ruim é a pouca privacidade. Às vezes, um está com vontade de estudar e o outro assiste à televisão. Então atrapalha um pouco",completa.
Setor imobiliário vive explosão em Arapiraca
Mas se em Arapiraca a chegada da Ufal há quase três anos teve pouca influência direta no mercado imobiliário, segundo o delegado do Conselho, Regional de Corretores de Imóveis (Creci) em Arapiraca, Pedro Romualdo, contribuiu de maneira indireta para a construção de novas unidades habitacionais e valorização dos imóveis.
"A vinda da Ufal foi o começo de um ciclo. Uma grande expectativa foi gerada aqui na cidade, porque as instituições de ensino superior influenciaram para que as pessoas de fora dessem um voto de credibilidade a Arapiraca", declarou.
Se hoje os estudante da Ufal são vistos apenas como "demanda potencial", ou "a clientela do futuro", Pedro Romualdo afirma que os professores e profissionais foram o primeiro filão do mercado de locação de imóveis, que hoje se transformou numa "explosão" do setor imobiliário, como ele se refere.
"A verdade é que a vinda de grandes grupos empresariais para a cidade é um efeito colateral da Ufal. E isso trouxe muitos profissionais de fora para a cidade", disse.
A construção de prédios de apartamentos, que há alguns anos não existiam em Arapiraca, é direcionada para esse público.
De acordo com Pedro Romualdo, de alguns anos para cá, terrenos e imóveis chegaram a valorizar até dez vezes o valor original.
"Temos um loteamento onde há alguns anos a gente vendia o lote por R$ 3 mil. Hoje, o preço é de R$ 30 mil e vende do mesmo jeito. Mesmo pequenas em-presas, que vêm se instalar na ci¬dade, têm de colocar pelo menos um funcionário para morar aqui, de outra forma não é possível fa¬zer um nome", declarou Romualdo.
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