A arte popular sobe ao palco
Na última sexta, houve a entrega do Prêmio Gustavo Leite ao melhor artesão de 2009, pelo Museu Théo Brandão. Este ano, houve empate entre dois artistas da terra: Zezinho, de Arapiraca, e João das Alagoas, de Capela.
- Atualizado em
Jacqueline Batista - publicado em O Jornal
Além de ganhadores do prêmio, os artistas têm em comum o talento pela arte desde a infância. Atualmente, ambos vivem de seu fazer artístico, cada um trilhado de acordo com suas vivências, talento e aptidões peculiares.
A obra de Zezinho é predominada pelo lúdico, seu trabalho nos remete à infância, às brincadeiras e aventuras do imaginário infantil. Rodas Gigantes, embarcações lotadas de gente, cataventos, cavalinhos e índios, feitos em madeira. Tudo em cores vibrantes, primárias e formas quase geométricas, típicas do universo infantil. Sua obra tem uma característica muito própria: o movimento. Quase todas as suas esculturas movem-se com o vento, que ajuda a contar a história falada pela sua arte. “Testo todas as peças no vento; só estão aprovadas se tiver movimento, senão, eu vou concertar”, contou Zezinho. O artista explica que faz tudo manualmente e com poucas ferramentas. Quando pequeno, fazia carrinhos de madeira para brincar e vender para os colegas. Há quatro anos, deixou o oficio de vendedor de roupas em feiras do interior, para se dedicar integralmente ao trabalho de artesão.
Através da galerista e artista plástica Maria Amélia, seu trabalho começou a ser reconhecido. Participou da exposição Do tamanho do Brasil, realizada pelo SESC de São Paulo, e da Mostra Por toda uma vida, de Janete Costa, em Recife. As esculturas em madeira policromada impressionaram Maria Amélia. “Zezinho trabalha com a simplificação da imagem. Faz muitas esculturas em movimento, como a roda gigante, com muita gente dentro. Ele também faz personagens do Nordeste, como Lampião, mas apesar de ser um artista popular, sua linguagem é contemporânea e universal”, disse a galerista.
Em sua simplicidade, Zezinho não tinha ideia da importância de seu trabalho: “Eu não imaginava que uma peça minha seria tão valorizada, por causa disso perdi tempo, mas a categoria eu não perdi, ainda tenho”, disse o artista, que mal acredita ser um dos ganhadores do prêmio que vai receber esta noite.
Também para João das Alagoas, o Prêmio Gustavo Leite vai ser recebido pela primeira vez. “Chegou no momento que eu estava com mais tranquilidade para trabalhar. Representa um grande incentivo, não só para mim como para as pessoas que trabalham comigo”, comemora. O artista, que faz esculturas figurativas em cerâmica, mantém um grupo em Capela, no qual dá aulas, voluntariamente, para interessados em aprender a arte da cerâmica. O grupo tem, atualmente, oito pessoas, todas de Capela, com idade entre 12 a 35 anos.
João é autodidata, sempre fez tudo sozinho. Desde pequeno, já se destacava na escola através de seus desenhos. Usava o barro como brincadeira para fazer boizinhos. “Aprendi com a experiência e a observação, mas me inspiro em muitos artistas, principalmente em Mestre Vitalino, que é uma referência para mim”, disse.
A ascensão do artista começou em 1987, quando fez uma exposição de quadros, em Campinas, São Paulo. Há dez anos, João vive de sua arte, e hoje, tem um currículo extenso: já ganhou alguns prêmios de melhor artesão em outros estados; uma menção honrosa, em Córdoba, Argentina; muitas de suas obras já foram vendidas em galerias do Sudeste; tem uma peça exposta no Museu de Cerâmica, no México e outra no Museu AfroBrasil, em São Paulo.
Desde 2004, a entrega do prêmio de melhor artesão do ano é um evento que faz parte do calendário festivo do mês de agosto no Museu Théo Brandão. Os artesãos são escolhidos através de portaria designada pela reitora da UFAL.
Após a solenidade de entrega do prêmio, houve apresentação do Guerreiro Treme Terra de Alagoas e do grupo Baque Alagoano.