Bienal é gratuita e promove a leitura em Alagoas


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Café de lançamento da Bienal
Café de lançamento da Bienal

Fernando Coelho –repórter da Gazeta de Alagoas

Mesmo com um alto índice de analfabetismo, Alagoas assiste ao processo de consolidação da Bienal Internacional do Livro em seu calendário cultural. O evento, que é atração entre os dias 30 de outubro e 08 de novembro no Centro Cultural e de Exposições de Maceió, em Jaraguá, é uma realização da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), por meio de sua editora, a Edufal.

No compasso de seu crescimento, visível a cada edição, a bienal continua gratuita graças ao patrocínio de diversas instituições - obtido via Lei Rouanet de Incentivo à Cultura - e ao apoio maciço de órgãos públicos e de empresas da iniciativa privada. O lançamento oficial do evento se deu na última quinta-feira (25), num café da manhã no Hotel Ponta Verde no qual estiveram presentes a imprensa e patrocinadores.

Na ocasião, a diretora da Edufal, Sheila Maluf, apresentou os detalhes da nova edição. Há pelo menos dois anos, ela divide sua atuação profissional entre as aulas na universidade, a direção da editora e a coordenação da bienal, que exigiu a elaboração de 42 proietos para efetivar as parcerias. Ela afirma que este será "o maior evento cultural de Alagoas em 2009".

De fato, a programação divulgada aponta para uma bienal mais ampla, diversificada e arrojada que a dos anos anteriores, com o aumento do número de editoras participantes e maior destaque no caráter internacional da mostra. Nomes como os escritores Ruy Castro e Ignácio de Loyola Brandão figuram entre as personalidades do mundo literário que irão proferir palestras, oficinas e mesas-redondas para o público.

Embora se considere "centralizadora", a diretora da Edufal reconhece: "Tenho uma forma coletiva de pensar". Estaria ai, segundo acredita, a razão para a pluralidade da mostra realizada sob seu comando. Na entrevista a seguir, ela apresenta as novidades da bienal e adianta: "Já estou com data agendada para a bienal de 2011".

Gazeta - Embora seja um dos mais importantes eventos do calendário cultural de Alagoas, as edições anteriores da Bienal receberam críticas, principalmente em relação à variedade de títulos disponíveis. Especificamente nesse aspecto, em que a atual edição vai se diferenciar das outras?

Sheila - A cada edição da Bienal essas críticas têm diminuído. O problema é que as maiores editoras só estão fazendo as bienais do Rio e de São Paulo, que são as duas maiores bienais do País. O investimento é assustador, são estandes enormes e muito bem produzidos. Quando as bienais acontecem fora desse eixo, as editoras comparecem através de distribuidores. Esse é o nosso caso. Várias editoras estão comparecendo à bienal através de seus representantes no Nordeste ou distribuidores. Entretanto, nós conseguimos filtrar para não haver repetições e sim variedade de editoras, assuntos e diversas áreas do conhecimento.

Gazeta - Quais seriam os principais diferenciais desta nova edição da Bienal Internacional do Livro de Alagoas?

Sheila - Eu diria que um dos diferenciais dessa edição é a parceria com a Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e o apoio do secretário Osvaldo Viégas para trazer para a Bienal três eventos da secretaria: o III Encontro de Gestores de Bibliotecas Públicas, o V Encontro Estadual do Proler e o II Fórum do Plano Estadual do Livro e da Leitura, por exemplo. É a primeira vez que essa parceria acontece em uma bienal. Outro diferencial que também marca a bienal nacionalmente é o da inclusão. Entre as 52 oficinas oferecidas, teremos 14 de inclusão, considerando braille, libra e deficiências intelectual e múltiplas. Até a programação, nos próximos dias, também estará acessível para deficientes visuais no nosso site, www.edu-fal.com.br/bienal2009. É a primeira vez que um site de bienal disponibiliza acessibilidade, relembrando a nossa ideia, nosso mote central, que é "Leitura para todos!".

Gazeta - Para este ano, há nomes expressivos do mercado editorial nacional?

Sheila - Apesar das dificuldades já mostradas, para este ano teremos nomes expressivos do mercado editorial, como, Parábola, Vozes, Cortez, Paulus, Paulinas e Positivo, entre outras. E mais publicações do Senado Federal, do Ipea (Instituto de Pesquisas Aplicadas), da Embrapa, da UFMG, Edusp, Unicamp e Fundação Joaquim Nabuco, além de 125 editoras universitárias do País todo.

Gazeta - A forte presença de editoras voltadas exclusivamente para títulos evangélicos também é motivo de crítica?

Sheila - Uma bienal do livro, em qualquer parte do País, segue um desenho orientado pela CBL (Câmara Brasileira do Livro), e uma das características principais é atender a todos os públicos. Temos editoras espíritas, católicas e evangélicas... Enfim, não há nenhum tipo de preconceito. Ao contrário, elas estão na medida correta e nas proporções adequadas umas em relação às outras. Pode conferir!

Gazeta - Para este ano, foi divulgado que cerca de 30 expositores ficaram de fora da Bienal por falta de espaço. Quais os critérios para uma editora participar da mostra?

Sheila - Em princípio, os critérios são a variedade da oferta de títulos e áreas do conhecimento. O problema - que não é problema, e sim ponto para Alagoas - é que a edição passada da bienal repercutiu muito bem em todo o País e hoje temos 30 expositores querendo participar do evento e não temos mais espaço físico. Nós temos que seguir um modelo de bienal nacional que exige uma metragem específica de corredores para haver bastante espaço de circulação e facilidade de fluxo e não temos espaço físico para crescer mais.

Gazeta - México, Peru, Espanha e França vão participar desta edição da bienal. Como deve se dar a presença desses países na programação?

Sheila - Fizemos todas as pontes que podíamos para internacionalizar a bienal. É a segunda edição internacional, nós pedimos autorização à Câmara Brasileira do Livro para poder torná-la internacional. A partir de agora nós não retrocederemos mais. Nós temos uma ala internacional, vamos ter o estande da França, que é o país homenageado. Em especial, este ano teremos também uma Mostra de Livros Universitários da América Latina e Caribe com participação de diversos países. Neste caso, especificamente, foi acordado com as editoras universitárias do exterior que, de cada livro exposto, um ficará como doação para a biblioteca da Universidade Federal de Alagoas.

Gazeta - Qual o custo total da bienal e como ele foi viabilizado?

Sheila - R$ 600 mil. Se não fosse pela Lei Rouanet, ela não seria possível de ser realizada. Muita gente me fala: "Por que você não cobra um real por pessoa, já que você vai ter um público de mais de 100 mil pessoas?" Eu falei: "Não. Vou lutar para que ela seja sempre gratuita". E conseguimos.

Gazeta - A cada edição, a bienal cresce mais. Você já chegou ao tamanho e a uma configuração ideal do evento?

Sheila - Eu, particularmente, acredito que para Alagoas estamos com um bom tamanho e um bom desenho de bienal, mas os apelos são grandes para crescermos um pouco mais. Talvez se usássemos a parte superior do Centro de Convenções conseguiríamos atender à demanda sem perder características que estão sendo apontadas nacionalmente na Bienal de Alagoas: a organização e o charme da ambientação, este ano mais uma vez levando a assinatura da Eva Amaral.

Gazeta - Como está sendo feita a divulgação prévia do evento, de forma a atrair o público, principalmente os estudantes e o público mais carente?

Sheila - A estratégia que a gente adota é a visitação de escolas. Eu faço uma parceria com o grupo de livros didáticos da Secretaria Municipal de Educação e da Secretaria de Estado da Educação. Elas me fornecem uma planilha das escolas e as escolas particulares são visitadas. Eu tenho uma equipe que vem visitando as escolas há dois anos.

Gazeta - A bienal tem como objetivos a ampliação do conhecimento e o estímulo do hábito da leitura. O que mais deveria ser feito para que os objetivos da feira se tornem realidade em toda Alagoas?

Sheila – Os professores, em sala de aula, devem realmente incentivar a leitura. Leitura se incentiva lendo. Mostrando que a leitura pode ser prazerosa. Por isso, eu coloco monitores fantasiados para receber as crianças. O comercial de TV da bienal é todo em animação. Eu quero que a criança veja e diga: "Papai, eu quero ir".

Gazeta - Com o baixo interesse geral pela leitura e a popularização das livrarias on-line, Maceió viu suas boas livrarias fecharem as portas e parece distante de abrigar um estabelecimento do ramo de grande porte. Como a senhora avalia o mercado editorial em Alagoas?

Sheila - Muito fraco. Eu vejo isso pela procura que eu tenho na editora universitária. Na universidade é alta a procura, mas nós temos uma política editorial na universidade. Nós publicamos livros didático-científicos. Se você escrever um livro de contos, é literatura, tem qualidade, mas eu não posso publicar porque não está na nossa política editorial. A gente precisava ter mais editoras aqui. Eu tenho uma procura grande. Só na bienal eu vou lançar mais de 70 livros.

Gazeta - A Coleção Nordestina resgatou obras seminais da literatura alagoana. Há novas publicações em vista com o selo da coleção?

Sheila - Para o dia 30 de setembro. Foi lançado na Bienal do Rio e nós estamos lançando A Testemunha no Direito e na História, do Dr. Jayme de Altavila, o pai, no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IGHAL).

Gazeta - A publicação de livros em braille é um diferencial da editora. Como estão a procura e recepção aos títulos disponíveis nesse formato?

Sheila - Somos a única editora universitária do Brasil que publica braille. Eu mando livros hoje para todo o Brasil. No nosso site [www.edufal.com.br] há uma relação com os locais atendidos. O braille hoje projetou a Edufal, projetou Alagoas no Brasil.

Gazeta - Por ano, qual é a média de títulos que chegam em busca de publicação e quantos são de fato publicados?

Sheila - Este ano eu tive mais de 100 submissões. A média anual de lançamentos é de 50 livros, mas eu estou lançando 70.