Pesquisas científicas avançam em AL
Cientistas de Alagoas para o mundo Pesquisa e inventos nos centros acadêmicos do Estado apontam para experimentos criativos e inovadores
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Thiago Gomes - Repórter de O Jornal
É um trabalho dos bastidores. Duas mentes pensantes -ou até uma só –E ansiosas por descobrir o oculto. É assim a rotina de um pesquisador. Em Alagoas, o ramo da iniciação científica vem crescendo e mostrando que grandes ideias podem surgir daqui e ganhar o mundo. E o caso do analista de sistemas Leonardo Torres que de um projeto criou um software capaz de identificar o usuário apenas pela forma como ele digita a senha no teclado numérico. O professor Doutor João Xavier, da Ufal, conseguiu descobrir substâncias em plantas medicinais capazes de inibir o crescimento de tumores malignos.
Estes casos são apenas dois que a reportagem de O JORNAL relata. Muitos outros nascem de um simples projeto de pesquisa e acabam sendo patenteados como uma ideia inovadora.
A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) tem duas responsabilidades relevantes: tornar o aluno apto a ser inserido no mercado de trabalho e incentivar o surgimento de pesquisadores. De acordo com Silvia Uchoa, coordenadora de pesquisa da instituição, atualmente 470 estudantes são bolsistas financiados pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) e outros 163 são voluntários.
Eles estão distribuídos em cerca de, 300 projetos de iniciação científica.
De 1990, quando o Pibic foi criado, até 2009, a Ufal teve 13.783 bolsistas e 611 voluntários, segundo a coordenadora.
Estes colaboradores realizam pesquisa mesmo sem recebimento de bolsa e têm as mesmas atribuições do titular do projeto.
"A produção científica da Ufal está crescendo. Cada área tem benefícios de diversas formas; podem-se citar as pesquisas com a cana-de-açúcar, com o melhoramento genético; as pesquisas raíz a das com doenças como leishmaniose; estudos de fármacos produzidos a partir de produtos naturais; estudo das línguas indígenas com a criação de um dicionário da língua; o aproveitamento de resíduos como materiais de contrução sustentável, entre outros, cita Silvia Uchoa.
Os trabalhos dos alunos são apresentados todos os anos, de forma obrigatória no Encontro de Iniciação Científica, que faz parte do Congresso Acadêmico da Ufal. Este ano, o evento tem data marcada para acontecer entre os dias 28 de novembro.
DEMANDA - Já o Centro de Estudos Superiores de Maceió (Cesmac), primeira instituição privada a implantar a iniciação científica no Estado, conta com atualmente com 85 bolsas financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), Pibic e pelo Programa Semente de Iniciação Científica - PSIC, da própria faculdade.
A pesquisa no Cesmac foi iniciada em 2004, com 27 projetos fomentados. Até este ano, são 287 bolsas.
"O número de projetos inscritos no processo seletivo, este ano foi de cento e dezesseis para setenta bolsas ofertadas pelo Cesmac. Logo a demanda supera nossa oferta. O Centro Universitário tem como meta atingir, em 2010, o número de cem bolsas de iniciação científica no intuito de atender à grande demanda", revelou a coordenadora do Programa de Relações Internacionais da faculdade, professora Doutora Enaura Quixabeira.Segundo ela, a maior contribuição que o Cesmac ganha com a pesquisa é "lançar no mercado de trabalho profissionais com formação aprimorada e com maior chance de acesso ao mestrado e doutorado". A sociedade também ganha com o avanço nos padrões de excelência na educação.
Pesquisa com plantas: redução de tumores
Quem nunca tomou um chazinho indicado por alguém quando o remédio está longe do alcance. A população brasileira desenvolveu um hábito considerado perigoso pelos pesquisadores. O uso das plantas como elemento fitoterápico e medicinal tem os seus benefícios e os seus malefícios comprovados cientificamente. É o caso da babosa, da graviola, aroeira, aveloz e do barbatimão, encontrados por qualquer pessoa em bancas espalhadas pela cidade.
O professor Doutor João Xavier de Araújo Júnior, do curso de Farmácia da Ufal, coordena, desde 2006, o projeto "Avaliação da atividade antitumoral de plantas medicinais e fitoterápicas utilizadas pela população de Alagoas". O trabalho já rende grandes resultados e é composto por candidatos ao Mestrado e alunos de iniciação científica.
O projeto tinha a finalidade de consultar pacientes com câncer, se tratando por quimioterapia, e que utilizavam plantas medicinais por confiarem no poder da natureza contra a doença maligna. Surpreendentemente, os pesquisadores da Ufal constataram, após coletar, identificar e preparar os extratos (chás) que algumas delas apresentavam substâncias capazes de inibir a evolução de tumores malignos. Os experimentos foram realizados em camundongos.
"O estudo de tumores em animais é o primeiro passo para a pesquisa nesta área, por isso que esta espécie de animal foi utilizada nas pesquisas. Testamos de três maneiras diferentes, uma com o camundongo para ver a indicação de toxidade, outra com as células tumorais e com tumores em crustáceos. Três plantas analisadas apresentaram atividade anti-tumoral in vivo (camundongos) e in vitro (em células tumorais)", explicou.
Para evitar que a população utilize os extratos para o próprio consumo de forma inadequada, o professor João Xavier prefere não dizer quais foram as plantas medicinais que possuem substâncias ativas com capacidade de inibir o crescimento de tumores.
"São resultados preliminares e o uso inadequado e sem comprovação científica destas plantas não é recomendado. O mesmo cuidado que se deve tomar com os medicamentos industrializados, deve ter com o consumo destas plantas, que podem ser altamente tóxicas ao ser humano", acrescenta o pesquisador da Ufal.
CHÁS -Além de falar sobre estas plantas medicinais, o professor alerta para o uso indiscriminado do boldo do chile, aquele chazinho indicado para disfunções gastrintestinais. O princípio ativo da erva, caso,seja consumido por muito tempo, pode provocar problemas graves na visão, um deles poderia ser o deslocamento da retina. A cabacinha, muito usada pelas mulheres, teria propriedades abortivas.
Comprovado mesmo, segundo exemplificou o professor João Xavier, é o poder calmante contido nas folhas do maracujá e nas flores da camomila. No entanto, os estudos ainda estão no início e não podem ser tratados como oficiais."Atualmente, para se colocar um medicamento no mercado, uma série de cuidados são tomados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa]. E se um deles provocar a morte de algum paciente, a tendência é que seja retirado das farmácias o quanto antes. Os medicamentos com base natural também estão seguindo as mesmas normas", disse o doutor.
João Xavier adianta que o financiamento do projeto sobre as plantas medicinais será encerrado nos próximos meses, mas as pesquisas continuam individualmente. O próximo passo será identificar as substâncias contidas nestas ervas que conseguiram inibir o avanço do tumor maligno.