Impressões da turma que está chegando
A cada edição, é maior a participação de autores brasileiros e estrangeiros na Bienal de Alagoas. Este ano não será diferente. Escritores, músicos, poetas, jornalistas, professores e pesquisadores passarão pelos salões do Centro Cultural e de Exposições de Maceió. Uma ótima chance para conferir de perto as ideias de nomes como Geraldo Carneiro, Olivia Byington, Maitê Proença, Celso Loyola Brandão, dos jornalistas Domingos Meirelles e Audálio Dantas, do poeta popular paraibano Jessier Quirino, dos franceses Ignacy Sachs e Stéphane Audeguy e ainda alguns outros.
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Ramiro Ribeiro – jornalista da Gazeta de Alagoas
Por e-mail, a Gazeta bateu um papo com o jornalista/escritor Ruy Castro e com o escritor angolano Ondjaki, que falaram, entre outras coisas, da expectativa de visitar Maceió pela primeira vez. Confira.
Ruy Castro vem pela primeira vez a Maceió
Jornalista, tradutor e escritor reconhecido pela produção de biografias de grandes nomes da cultura brasileira como Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda, Ruy Castro é autor, entre outros, dos livros de ficção Bilac Vê Estrelas e Era no Tempo do Rei e das coletâneas de artigos e textos jornalísticos Um Filme é para Sempre, Tempestade de Ritmos e O Leitor Apaixonado - Prazeres à Luz do Abajur, o qual lança na Bienal Internacional do Livro de Alagoas, no dia 06 de novembro.
GAZETA - Seu mais recente lançamento, O Leitor Apaixonado, compila artigos sobre literatura publicados na imprensa nos quais, além de abordar escritores consagrados, você conta a história de nomes menos conhecidos, como Théo Filho e João de Minas. É um prazer, além de mais uma função do jornalismo cultural, resgatar e apresentar às novas gerações nomes como esses?
RUY CASTRO - A seleção de textos de O Leitor Apaixonado foi feita por minha mulher, a escritora Heloísa Seixas. Acho que, assim como a maioria dos leitores, ela se deixou fascinar por aqueles escritores menos conhecidos do grande público, não apenas o Théo Filho e o João de Míhas,mas também o argentino Rodolfo Walsh e os americanos Nathanael West e Anita Loos. Falar só dos consagrados não tem graça.
Esta será sua primeira participação na Bienal do Livro de Alagoas. Já esteve em Maceió antes? Alagoas já passou pelas suas pesquisas em algum de seus livros?
É nossa primeira visita a Maceió e à Bienal de Alagoas e já não era sem tempo! Quanto à presença de Alagoas em algum de meus livros, é só ler ou reler Estrela Solitária - Um Brasileiro Chamado Garrincha. Garrincha era de origem indígena, da tribo fulniô, e sua família tinha raízes em Quebrangulo, como, aliás, o Graciliano.
E na literatura alagoana, o que você destacaria? Graciliano, Jorge de Lima, Lêdo Ivo ou algum outro nome figura entre seus prediletos? Qual o espaço de Alagoas na sua biblioteca?
Não apenas Jorge de Lima – cuja Invenção de Orfeu está, naturalmente, entre os maiores poemas da língua (nesse ponto, concordo totalmente com o crítico Mário Faustino – vide O Leitor Apaixonado) – e Graciliano Ramos têm espaço cativo entre minhas leituras, mas também o poete Lêdo Ivo, meu ex-colega de [revista] Manchete e com quem aprendi a ler o Rimbaud.
O Rio de Janeiro é cenário - e em algumas ocasiões, tema da maioria de seus livros, tanto os de ficção quanto as biografias. Uma cidade pode ser fonte inesgotável para a literatura? Ainda mais no caso do Rio, palco importante da história político-cultural do País?
Cada um escreve sobre o que conhece: Borges, sobre Buenos Aires; Paul Auster, sobre Nova York; Guimarães Rosa, sobre o sertão mineiro. Meu cenário é o Rio e cada uma de suas ruas corre dentro de mim. O Rio não é só geografia - como se a geografia do Rio fosse pouco! -, mas também história. Aqui você dobra uma esquina e passa do século 21 ao 19 ou 18. Sei mais do Rio do que jamais poderei contar e, enquanto escrever, pretendo ir botando tudo para fora.
Já trabalha em um novo título? Algum possível biografado à vista?
Não, nenhum biografado. Mas estou preparando O Melhor da Senhor, uma coletânea de artigos da grande revista Senhor, que circulou de 1959 a 1964 e foi a grande revista mensal brasileira de sua época. Vai sair pela Imprensa Oficial de São Paulo. Enquanto isso, estou cheio de ideias fervilhando na cabeça...
Em O Anjo Pornográfico, biografia de Nelson Rodrigues, você retrata redações de jornais do inicio do século passado. O jornalismo brasileiro tem outras histórias que merecem ser registradas em livro? Você teria algo em mente?
Sim, gostaria de ter escrito a história do jornal Correio da Manhã, que a ditadura ajudou a fechar depois do Ato-5. Mas isso nunca foi possível. Quem quiser uma amostra, há um capítulo inteiro a respeito em O Leitor Apaixonado. Leia e veja se não daria um grande livro.
Maravilhado com a literatura de Graciliano
Ondjaki nasceu em Luanda, Angola, em 1977. Romancista, contista, poeta, também escreve para cinema e correalizou um documentário sobre a cidade de Luanda (Oxalá Cresçam Pitangas - Histórias de Luanda, 2006). É membro da União dos Escritores Angolanos. Alguns de seus livros foram traduzidos para o francês, espanhol, italiano, alemão, inglês e chinês. Foi laureado pelo Grande Prêmio de Conto Camilo Castelo Branco 2007, pelo livro Os da Minha Rua. Recebeu, na Etiópia, o Prémio Grinzane for Best African Writer de 2008.
CAZETA - Romance, contos, poesia, cinema, teatro, pintura. Como se dá essa interação de linguagens em sua criação artística? Considera isso um processo até certo ponto natural, atualmente?
ONDJAKI - Eu sou apenas um escritor, um contador de estórias. As outras coisas são incursões que acontecem, em outras artes, para voltar à escrita um pouco mais enriquecido. Nem sei se as coisas depois se articulam, espero que sim, mas volto à escrita com mais coisas vistas e feitas. E isso parece ser bom."Dá textura às sensações, além de que eu gosto muito de teatro e de cinema, por exemplo.
Sua obra está intimamente ligada à história político-social de seu país, Angola. Esta deve ser uma preocupação primeira no trabalho do escritor, pensar o país, o seu lugar de origem?
Não. Penso que não. Cada artista deve falar por si, mas para mim o trabalho deve estar ligado a essa arte chamada literatura. Acho que o escritor deve pensar a obra, o sonho, o que quer contar, etc. Depois isso poderá ou não estar ligado ao país, às origens. Acho que as coisas estão interligadas, e o íntimo e social de cada um sempre se revela um pouco na arte. Mas não deve ser obrigatório. Também escrevo poemas e contos que nada têm a ver com Angola.
A Bienal será palco do II Colóquio Internacional Brasil x Áfricas: Artes, Culturas e Literaturas, com a presença dos países africanos de língua portuguesa. O Brasil tem dedicado atenção especial às literaturas desses países, nesta década? E no exterior: na sua opinião existe um fascínio pela literatura do chamado "terceiro mundo"?
Peço desculpa por discordar, mas não acho que exista uma literatura do terceiro mundo, existem apenas boa e má literatura. Acho que o Brasil tem estado, nos últimos anos, atento às literaturas que esses (outros) países de língua portuguesa estão a produzir. Incluindo os autores de Portugal, que estão a ser mais publicados agora no Brasil. O exterior é o exterior, funciona com regras próprias e normalmente ignora a produção literária em língua portuguesa. Mas o Brasil começou, finalmente, a acordar para um olhar mais atento e cuidadoso à produção literária dos países irmãos. Tudo é recente ainda, mas sem dúvida que as relações culturais entre os nossos países melhoraram imenso.
Já foi apresentado a algum nome da literatura alagoana, como Graciliano Ramos ou Jorge de Lima?
Li Graciliano desde os meus 14 anos. Foi um tio, angolano, que me deu os livros Caetés, São Bernardo e Vidas Secas. Fiquei maravilhado com a literatura de Graciliano. Admirei-me com a beleza seca da sua prosa e ele é um dos meus autores de referência.
Esta será sua primeira visita a Maceió? O que espera do público alagoano em sua participação no evento?
Sim, é a primeira vez que vou a Maceió. E espero o mesmo de sempre, abertura, amizade, curiosidade. Termos a mente aberta faz com que os nossos preconceitos diminuam, e esse é um dos caminhos para o futuro. Esses encontros servem como oportunidades para o diálogo e para a descoberta de pontes culturais entre os países, entre as pessoas. É com esse espírito que visito outras cidades, vou para sentir e aprender um pouco mais com cada lugar.
José Marques de Melo, o Patrono
Alagoano de Palmeiras dos índios, jornalista, professor universitário, pesquisador e consultor acadêmico, José Marques de Melo é o patrono da 4º edição da bienal. Bacharel em Jornalismo e em Ciências Jurídicas e Sociais (Universidade Católica de Pernambuco e Universidade Federal de Pernambuco, respectivamente), enveredou pelo jornalismo em 1959, como articulista da Gazeta de Alagoas. A convite de Luiz Beltrão, ingressou na Universidade Católica de Pernambuco como professor de jornalismo. Um dos fundadores da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, em 1966 iniciou ali sua carreira acadêmica e alcançou os títulos de doutor, em 1973, livre-docente, em 1983, e professor titular, em 1987. Fez pós-doutorado nos EUA (1973-1974) e cursou Estudos Avançados na Espanha (1988). Publicou vários livros, artigos e ensaios sobre comunicação no Brasil e no exterior. É presença marcante no cenário brasileiro do ensino e da pesquisa em comunicação. Atualmente é titular da Cátedra da Unesco de Comunicação para o Desenvolvimento Regional na Universidade Metodista de São Paulo e presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom). Seu livro mais recente é Vestígios da Travessia: da Imprensa à Internet – 50 anos de jornalismo, tema da mesa-redonda da qual participa no dia 02 de novembro. No dia 03 ministra a palestra Gêneros e formatos jornalísticos.
Como participar das oficinas
As inscrições, gratuitas, serão realizadas no local. Chegue com meia hora de antecedência para garantir sua vaga.
Todas as oficinas têm um número limitado de vagas e fornecem certificado (nas oficinas com dois módulos, será obrigatória a presença em ambos para obter o certificado).
Em frente à mesa de inscrições, posicione-se na fila correspondente à sala da oficina de sua escolha.
Ao preencher a ficha de inscrição na mesa, você receberá um canhoto de inscrição.
Para ter acesso à oficina, entregue o canhoto recebido ao monitor da sala.
Os certificados serão entregues ao final das oficinas, na mesa de inscrições.
Alguns dos títulos que serão lançados na Bienal
» Entre Pitangas e Sapotis: A Crítica na Imprensa Alagoana nas Décadas de 20 e 30, de Janayna Ávila (Edufal, R$ 20). Lançamento: 02 de novembro, às 19h, no Café Literário.
» Mar Alto: Travessias pelo Romance Calunga de Jorge de Lima, de Lúcia Sá Rebello e Simone Cavalcante (Edufal, R$ 20). Lançamento: 06 de novembro, às 17h, na sala Demerval Saviani.
» Filho de Peixe Peixinho não É, de Tiago Amaral, com ilustrações de Pedro Lucena (Selo Passarada, R$ 15; kit livro + audiolivro, R$ 25). Lançamento: 05 de novembro, no estande da Secult.
» Marina Traquina, de Claudia Lins, com ilustrações de Pedro Lucena (Selo Passarada, R$ 15; kit livro + audiolivro, R$ 25). Lançamento: 05 de novembro, no estande da Secult.
Serviço
O quê: IV Bienal Internacional do Livro de Alagoas
Onde e quando: no Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso - Rua Celso Piatti, s/n, Jaraguá; abertura no dia 30 de outubro, às I9h, para convidados
Período de visitação: de 31 de outubro a 08 de novembro, das l0h às 22h
Entrada franca
Informações: pelo telefone 3214-1111 e no site www.edufal.com.br/ bienal2009