Programa encurta caminho para a cura do câncer infanto-juvenil em Alagoas


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Profissionais da sáude recebem capacitação para reconhecer sinais do câncer infanto-juvenil
Profissionais da sáude recebem capacitação para reconhecer sinais do câncer infanto-juvenil

Tâmara Albuquerque - jornalista

O diagnóstico precoce é o caminho mais curto para a cura do câncer, mas em nosso País, garantir aos pacientes o aumento das chances de cura ainda é um grande desafio para os profissionais da área da saúde, especialmente os que trabalham na rede pública. As dificuldades aumentam quando o paciente não é adulto, pois apesar de ser apontado como a segunda causa de mortalidade na faixa etária entre 5 a 19 anos, o câncer infanto-juvenil não apresenta indicadores que garantam sua inclusão como prioridade do setor de saúde. Em Alagoas, a situação é igualmente grave, pois a grande maioria dos profissionais que fazem a assistência básica não está capacitada para reconhecer ou mesmo suspeitar dos sinais da doença no público jovem.

Buscando mudar esse quadro, no ano passado oito estados brasileiros, inclusive Alagoas, implantou um programa inédito que já vem registrando resultados positivos na batalha que os pacientes travam contra a doença. O Programa Diagnóstico Precoce do Câncer Infanto-Juvenil busca, justamente, aumentar as chances de cura, através da detecção da doença em seu estágio inicial, para aumentar as chances de cura.

O Programa capacita profissionais da saúde que atuam no Programa Saúde da Família (PSF) e atenção básica, incluindo médicos, odontólogos, técnicos de enfermagem, enfermeiros e agentes de saúde, a reconhecer os sinais e sintomas do câncer infanto-juvenil e encaminhar adequadamente esse potencial paciente para o ambulatório de triagem de referência no município participante do Programa. Em todo o país já foram capacitados cerca de 2,6 mil profissionais, beneficiando mais de 307 mil crianças e adolescentes.

Introduzido no país pelo Instituto Ronald Mcdonald, em parceria com o Instituto Nacional do Câncer (Inca) e Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica, o Programa é executado em Alagoas pela Universidade de Ciências da Saúde do Estado de Alagoas (Uncisal) e Associação dos Pais e Amigos dos Leucêmicos de Alagoas (Apala). Mas, a rede de solidariedade à iniciativa tem crescido desde então e, hoje, conta com o apoio do Cremal, Usina Roçadinho, Associação Pio XII, SIGA, Secretaria de Estado da Saúde, secretarias municipais de saúde dos municípios beneficiados e com a Universidade Federal de Alagoas (Ufal), através da participação de alguns dos seus profissionais na equipe capacitadora.

Segundo informa a coordenadora técnica do programa no Estado, psicóloga Roberta Fernandes Marinho, as atividades são executadas em Maceió e no município de Arapiraca e este mês serão iniciadas em São Miguel dos Campos. Pelo menos 1,4 mil profissionais já receberam a capacitação, que é feita por uma equipe de 04 oncologistas, 02 psicólogos, um assistente social, um consultor ambiental, uma enfermeira e um odontopediatra.

O dentista é um profissional de fundamental importância para a detecção precoce do câncer de boca e no tratamento oncológico, segundo explica a odontopediatra que integra a equipe do Programa, Patrícia Batista Lopes do Nascimento. O tratamento do câncer tem profundo impacto sobre a saúde bucal do paciente. Um acompanhamento odontológico, iniciado na pré-terapia oncológica, pode minimizar as complicações bucais provenientes de efeitos tóxicos das drogas antineoplásicas. Além de capacitar os profissionais para identificar os sinais do câncer bucal, especialmente as mucosites (feridas na boca), é o odontopediatra que faz a remoção dos focos de infecção para o paciente diagnosticado iniciar a quimioterapia, entre outros procedimentos. 

Roberta Fernandes também informa que além das capacitações dos profissionais, o programa visa estimular a construção da rede de referência e contra-referência na saúde para otimizar o tempo entre o diagnóstico e o tratamento do paciente. Em Maceió, os casos diagnosticados são enviados ao ambulatório de triagem da UNCISAL, que funciona provisoriamente no 1º Centro de Saúde, na Praça das Graças, onde são avaliados pela oncopediatra Alessandra Lamenha e encaminhados aos hospitais de referência, O atendimento no ambulatório acontece as 4ª e 5ª feiras, das 13h às 16h.

Na avaliação da psicóloga, o programa vem estimulando a organização da rede de assistência ao paciente com câncer no país, desde a base (comunidade) encaminhando para diagnóstico e tratamento; e estimulando que os gestores da saúde fiscalizem os serviços que tratam o paciente para que notifiquem os casos. Segundo ela, essa notificação é falha em todos os estados, inclusive em Alagoas, comprometendo uma série de investimentos que poderiam ser realizados pelo Ministério da Saúde.

No mês de agosto o Programa foi vencedor da 8ª edição do Prêmio LIF (Liberdade, Igualdade e Fraternidade) na categoria “Apoio à comunidade na área de saúde”. A premiação é uma iniciativa da Câmara do Comércio França-Brasil, criada em 2002, e busca estimular e reconhecer projetos de responsabilidade social. “Me orgulho de ter feito parte da construção deste programa, desde a fase piloto, e aplicado em Alagoas” revela Roberta Fernandes, acrescentando que a meta para 2010 é sensibilizar mais gestores municipais para que o Programa seja implantado em todos os municípios alagoanos. “Espero que mais crianças sejam diagnosticadas precocemente, aumentando o índice de cura e a construção de uma rede de saúde com serviços organizados, que garantam o acesso ao diagnóstico e tratamento num curto espaço de tempo” enfatiza.

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