LCCV põe Alagoas no cenário nacional
Laboratório que será lançado quinta-feira é o único do Nordeste especializado em resolução de problemas no setor de petróleo
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Paula Felix – repórter da Gazeta de Alagoas
Em tempos de ampla divulgação dos desafios que o petróleo existente na camada pré-sal impõe, principalmente em relação a sua extração, Alagoas se prepara para receber um dos laboratórios mais bem equipados da América Latina e o único do Nordeste, especializado em resolução de problemas no setor de petróleo e gás. Trata-se do Laboratório de Computação Científica e Visualização (LCCV), instalado no campus da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), cuja inauguração será na próxima quinta-feira (19), às 9h.
Existente como grupo de pesquisa desde os anos 1980, o laboratório é resultado de uma parceria com o Centro de Pesquisa da Petrobras (Cenpe), firmada há cerca de dez anos, que gerou diversos projetos no segmento, desenvolvidos ainda quando o LCCV ocupava algumas salas do bloco que é conhecido pelos estudantes como Severinão.
No início, dois ou três alunos participavam dos projetos desenvolvidos pelo laboratório e eram orientados por quatro professores. Hoje, a equipe é formada por 90 pessoas, que desde o ano 2000 já elaboraram 20 projeto.
A partir de 2006, o LCCV, representado pela Ufal, passou a integrar a Rede Galileu, rede temática de pesquisa que recebe recursos da Petrobras, formada pela Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
A sede que entrará em funcionamento a partir desta semana conta com 35 salas, distribuídas em um espaço de 1.800 m2, e auditórios que utilizam tecnologia de ponta. Para visualizar os projetos, telões que exibem imagens em terceira dimensão (3D), aparelhos de televisão de 73 polegadas, com 3D e em alta resolução.
Para os cálculos que viabilizam o desenvolvimento dos simuladores utilizados nos projetos elaborados junto a Petrobras, um cluster (supercomputador) com desempenho máximo de 20 milhões de operações de ponto flutuante por segundo (Teraflops) em precisão simples, que é o 2º maior da América latina.o que isso significa? O cluster que funciona no laboratório é equivalente, em capacidade, a 11.700 computadores convencionais.
PERPECTIVAS
O investimento feito pela Petrobras no laboratório está orçado em R$ 10 milhões, dos quais R$ 7 milhões foram destinados à aquisição de equipamentos. A unidade é multidisciplinar e deve beneficiar estudantes dos cursos de Engenharia e Ciência da Computação, além de Física, Matemática e Química.
Na semana que antecedeu o lançamento do braço alagoano - e nordestino - da Petrobras no desenvolvimento de tecnologias que podem facilitar a extração do pré-sal, evitando prejuízos decorrente de perdas do óleo, a Gazeta visitou as instalações do LCCV e conheceu as tecnologias utilizadas para o desenvolvimento dos projetos no ramo de petróleo e gás.
O ambiente ainda tinha resquícios de um canteiro de obras. A expectativa para a inauguração era visível em coordenadores, alunos, professores e pesquisadores que acompanham o LCCV desde o período em que ele era apenas um projeto.
Como possui infraestrutura e equipamentos de alta tecnologia, o laboratório tem potencial para promover Alagoas no cenário nacional, em especial nos trabalhos ligados ao pré-sal, e ser a ponte para a criação do polo tecnológico do Estado.
Outra vantagem do LCCV é a criação de recursos humano: para atender a demanda que o mercado vai pedir nos próximo anos. É bem provável que os pesquisadores responsáveis pela superação de boa parte dos problemas com o pré-sal saiam daqui.
Inauguração no Estado vai acontecer primeiro
A estrutura montada na Ufal, no LCCV, também estará disponível nas outras universidades que fazem parte da Rede Galileu -PUC-Rio, UFRJ e USE Mas a inauguração da unidade de Alagoas vai acontecer primeiro, na próxima quinta-feira (19), enquanto as demais devem acontecer em dezembro e no ano que vem.
"Nossa ideia é atuar como um polo da Rede Galileu no Nordeste e dar apoio à Petrobras na região, aumentando a interação entre as unidades existentes nos Estados", afirma Setton.
Mestre e doutor em Engenharia pela PUC-Rio, Wïlliam Matos é um dos responsáveis pelo processo de seleção dos alunos que participam do projeto. Foi ele quem levou a Gazeta ao antigo prédio do LCCV para a demonstração dos vídeos de simulação em 3D. "Ver o ambiente em 3D facilita a compreensão dos problemas e mostra os detalhes de forma mais clara, os detalhes", esclareceu. Segundo Matos, o projeto Galileu, desenvolvido pelo laboratório, possui subprojetos que vão "trazer benefícios não só para Alagoas, mas para o Brasil".
A tecnologia empregada nas instalações, permitindo que as apresentações dos projetos sejam vistas simultaneamente por todos os integrantes da Rede Galileu, no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Alagoas, tem outra vantagem.
"Não será mais necessário viajar todas as vezes que precisarmos visualizar um projeto”, informou.
Laboratório contribuirá com recursos humanos
Entre professores e pesquisadores, o Laboratório de Computação Científica e Visualização (LCCV) possui 20 integrantes. Alguns deles estão no projeto desde o tempo em que eram estudantes, como o pesquisador e mestre em Engenharia Fábio Ferreira.
"A minha formação veio do laboratório. Sempre trabalhei na parte da pesquisa, com iniciação científica e, desde a graduação, faço projetos relacionados a petróleo e gás", relata o pesquisador.
Ele também acredita que o laboratório vai trazer benefícios para a formação de recursos humanos e para o desenvolvimento da tecnologia em Alagoas. Lembrou ainda que vários colegas já passaram em concursos da Petrobras, pois estavam preparados, em virtude dos cursos, palestras e trabalhos desenvolvidos pelo LCCV.
GRADES
Periodicamente, os integrantes do laboratório participam de cursos no Centro de Pesquisa da Petrobras (Cenpes). Também no Coppe da UFRJ e no Tanque de Provas Numéricos (TPN) da USP. Esses dois, somados ao LCCV, formam a GradeBR, uma das três maiores grades computacionais de alto desempenho do hemisfério sul do planeta.
Sobre as vantagens do trabalho que desenvolve, Ferreira brinca: "Tem o benefício financeiro". Mais sério, ele afirmou: "Temos contatos com outras áreas e nos tornamos profissionais com conhecimentos mais amplos. E as pessoas trabalham aqui gostam do que fazem, não é só o lado financeiro".
Simulação do centro é bem-sucedida
A força das marés e dos ventos abotoada estrutura da plataforma de petróleo, as linhas de ancoragem e risers (dutos que conduzem petróleo até a plataforma) se agitam. As investidas da natureza provocam mudanças no tempo, mas não ocorre nenhuma ruptura e o resultado é positivo: os equipamentos funcionam sem problemas. A simulação foi apresentada no antigo prédio do LCCV - nada parecido com as novas instalações -, mas permitiu uma compreensão mais precisa do trabalho que é desenvolvido no laboratório.
"Trabalhamos com programas e projetos computacionais para solução de grandes problemas de engenharia, desenvolvendo simuladores que se baseiam em cálculos matemáticos e físicos", explica o coordenador geral do LCCV, Eduardo Setton.
Ele afirma que, antes de se construir uma plataforma, é necessário simular várias situações, de modo que é possível aplicar até 300 combinações condições ambientais, em simulações que podem durar horas ou dias.
De acordo com Setton, 95% dos trabalhos desenvolvidos pelo laboratório, que faz parte do Centro de Tecnologia da Ufal, são voltados para o setor de petróleo e gás, mas outras áreas também podem ser trabalhadas pelo núcleo. Como exemplo, ele cita, sem detalhes, o próximo projeto, que está em processo de negociação: "Estamos conversando com a Vale do Rio Doce para fazer um projeto no próximo ano".
A princípio os benefícios do LCCV serão mais nas esferas nacional e regional do que no âmbito local. Mas a previsão do coordenador geral é de que o laboratório seja a ponte para a criação do polo tecnológico de Alagoas. Além disso, ele acredita que a unidade vai beneficiar a formação de profissionais especializados para trabalhar na área de petróleo e gás, que terá grande demanda nos próximos anos, devido ao pré-sal. "O Brasil não vai ter mão de obra para isso. Estamos contribuindo para a melhoria da formação dos alunos e vamos formar recursos humanos aqui pira os próximos anos", afirmou.
QUEBRA-CABEÇA
Um dos futuros profissionais que devem representar Alagoas em projetos no campo do petróleo e gás, o estudante de Engenharia Civil Lucas Gouveia, 20, faz parte do projeto há um ano.
"A gente que é mais novo aqui faz o 'quebra-cabeça'. Montamos os programas menores que formam os maiores", explica o estudante que está quase no 4° ano do curso. O caráter multidisciplinar fez com que ele conhecesse outras áreas, como a computação.
No 5° semestre do curso de Ciências da Computação, Bruno Tavares, 22, é visto como a grande promessa na área em que atua. Ele, que já realizou cursos da multinacional Intel, na UFRJ, e desenvolve projetos na fabricante de computadores Sun Microsystems, estava fazendo a programação do cluster do LCCV quando nossa equipe de reportagem chegou.
“No laboratório, tenho contato com os sistemas e conheço pessoas de outras áreas”. Quando terminar o curso, ele pretende continuar sua formação em Alagoas: “Tenho preferência por continuar aqui e me desenvolver dentro do Estado”. Afirma.
Eduardo Setton diz que o ideal de Baltazar faz parte de um “fenômeno interessante”: “Quando me formei, só pensava em ir embora, tanto que fiz meu mestrado e doutorado na PUC-Rio. Depois, voltei. Os alunos de hoje em dia não têm essa anciedade para sair do estado, porque sabem que não vão ter essa infraestrutura lá fora”. /PF
Matéria publicada na Gazeta de Alagoas no último domingo, 15 de novembro.