O negro no séc. XXI: livro faz desabafo histórico e reconta a história de afrodescendentes no Brasil


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A juíza baiana Luislinda Dias de Valois Santos, primeira magistrada negra do país, lança nesta quinta-feira, 5, às 20h, na IV Bienal Internacional do Livro a obra O Negro no Século XXI, pela Editora Juruá, em parceria com a Escola Superior de Magistratura de Alagoas (Esmal). No livro, com o discernimento de quem conhece profundamente suas origens, a magistrada convida o leitor a redescobrir a história dos afrodescententes no Brasil.

Como muitos brasileiros, ela sentiu na pele o peso do racismo ainda jovem quando foi “aconselhada” por um professor a parar de estudar para cozinhar feijoada na casa de brancos. Em um legítimo grito de protesto, a cada capítulo do livro, a autora pontua, de forma simples e direta, o processo histórico causador da desigualdade social e racial em nosso país. “Esse livro é, ao mesmo tempo, uma missão e um desabafo. Nasceu em um momento muito difícil de minha vida em que pude, mais uma vez, sentir na pele o preconceito, tão velado em nossa sociedade”, declara Luislinda.

Dividido em 18 capítulos, o livro é um avocar para uma reflexão sobre o retorno que a sociedade tem dado ao povo negro, em vista de sua contribuição social, econômica e cultural, ao longo dos séculos. “Quis mostrar à sociedade que pouco mudou na vida do afro-descendente aqui no Brasil. Infelizmente, muitas pessoas têm uma percepção camuflada”, afirma. Resultado de uma ampla pesquisa, lazer, educação, cultura e esporte são outros aspectos abordados na ótica de quem enxerga e convive com o preconceito cotidianamente.

Sobre a autora

Baiana, 67 anos, 25 destes dedicados ao magistrado. O que poderia ter sido um fator adverso se transformou em motivação para sua realização profissional e pessoal. Aos 9 anos, Luislinda Dias de Valois Santos foi discriminada por um professor e sentenciada a “cozinhar feijoada na casa de brancos”. O ressentimento foi transformado em determinação para seguir rumo diferente daquele sugerido pelo seu “instrutor”. Formou-se em direito aos 39 anos e, pouco depois, passou em primeiro lugar no concurso nacional para procurador do Departamento Nacional de Estradas e Rodagem (DNER). Apesar de todo mérito, não iniciou carreira na capital onde nasceu. Foi convidada a ceder sua vaga, em Salvador, pa ra o último colocado da seleção. Partiu para Curitiba (PR), cidade que a acolheu por seis anos. Por lá, foi procuradora autárquica, sub-chefe e chefe da procuradoria jurídica do DNER, hoje DNIT, e Membro da Comissão Permanente de Inquéritos do DNER. Finalmente, em 1984, Luislinda Dias de Valois Santos ingressou no magistrado, conquistando o título de primeira juíza negra do Brasil. Atuando na Bahia, realizou diversos projetos em defesa do povo negro, oprimido e discriminado, conquistando respeito e credibilidade, além de vários prêmios no estado e no Brasil. Entre suas realizações estão a reativação, criação e instalação de juizados especiais dentre eles a Justiça Bairro a Bairro, o Juizado Marítimo “Baia de Todos os Santos”, o programa Justiça Escola e Cidadania e o programa Fome Zero de Justiça na Bahia, além de participação no lançamento do Relatório Nacional Brasileiro em cumprimento à C EDAW – Convenção para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher – realizado no Palácio Planalto em Brasília.