Personagens que fizeram história na Bienal do Livro de Alagoas


- Atualizado em

A Imprensa Oficial do Estado lançou o quarto volume da série imprensa brasileira na Bienal. Projeto, organizado por José Marques de Melo, reúne perfis biográficos de nomes que marcaram época - do compositor Adorinan Barbosa, passando pelos polêmicos João Saldanha e Nelson Rodrigues, até o jornalista-historiador Alfredo de Carvalho. A sessão de autógrafos aconteceu nesta terça-feira, na Bienal do Livro de Alagoas.

 Esta série editada e planejada pela Imprensa Oficial, em parceria com a Rede Alcar – Rede Alfedo de Carvalho e a Universidade Metodista – é um dos maiores resgates da memória da imprensa nacional já realizado no país. Nos três primeiros volumes, foram perfilados 54 personagens da história midiática brasileira, de Assis Chateaubriand a Tarso de Castro, de Samuel Wainer a Carlos Lacerda, de Erico Veríssimo a Vladimir Herzog. Um trabalho de fôlego, que, nas palavras do organizador José Marques de Melo, serviu para preencher parte de uma triste realidade brasileira: a falta de preservação da memória nacional.

 “Esse descaso em relação à memória da imprensa traduz em certo sentido a atitude de pátria referente à própria memória nacional, principalmente no âmbito da cultura não erudita, condenando ao esquecimento as instituições, os fatos e os personagens que também fizeram história”, escreve José Marques, no prefácio do livro.

Neste quarto volume da série, outros 18 personagens da mídia brasileira são retratados: Alfredo de Carvalho, Carlos Castello Branco, António Isidoro da Fonseca, Antonio Callado, Cosme de Farias, Joel Silveira, Aluísio Azevedo, Roberto Mario Santini, Álvaro Moreira, Nabantino Ramos, Lauro Hagemann, Adorinan Barbosa, Nelson Rodrigues, Fortunato Losso Netto, Clóvis Noschang, Adelmo Genro Filho, João Saldanha e Daniel Herz. Contar a trajetória desses 18 personagens é contar a história política, cultural e econômica de um país.

 É impossível, por exemplo, pesquisar a história da política brasileira contemporânea sem esbarrar no nome de Carlos Castello Branco, o jornalista escolhido para abrir o segundo perfil do livro – o primeiro perfil, “Precursor do pensamento jornalístico brasileiro”, escrito por José Marques de Melo, é dedicado a Alfredo Carvalho, jornalista que se notabilizou pelo resgate da memória da imprensa brasileira no século 19 e que hoje dá nome à rede Alcar.

“Carlos Castello Branco – A opinião no jornalismo brasileiro”, escrito pela pesquisadora e professora Ana Regina Rego, doutora em Comunicação pela UMESP.  A coluna de Castelo no “Jornal do Brasil” é um marco do jornalismo político brasileiro. “Apesar de ser chamado no diminutivo, o piauiense Castelinho era temido por todos os políticos, revelando em sua coluna fatos de bastidores que desestabilizaram vários governos. Nunca conseguiram calá-lo, apesar de ser preso e ameaça de morte por diversas vezes. É de sua mulher, Élvia, a melhor definição sobre o “homem” Castelo, reproduzida no livro: “Era muito espirituoso, irônico, cheio de verve (...) Mas tinha também seus defeitos: era impaciente, não tolerava impontualidade e burrice, não dava bom dia, nem boa tarde”.

Igualmente polêmico e temido era Joel Silveira, tema do capítulo “Joel Silveira – Correspondente de Guerra”, escrito pelo jornalista Fernando Albuquerque Miranda, mestre em Letras pela UFSJ. Conhecido como “ A Víbora”, Joel é talvez, ao lado de Samuel Wainer e David Nasser, o mais brilhante repórter de sua geração. Ao ser escalado por Assis Chateaubriand para fazer a cobertura jornalística da Segunda Guerra Mundial pelos Diários Associados, abriu sua primeira reportagem como correspondente com a seguinte frase: “Bem, meu nome é Joel Silveira, jornalista de 26 anos, e estou indo para a guerra. Voltarei?”. Voltou e fez história, tornando-se um dos precursores do jornalismo literário no Brasil. O livro reproduz uma das últimas grandes entrevistas de Joel, concedida no dia 14 de dezembro de 2006, praticamente um ano antes de sua morte, em agosto de 2007. Entre muitas histórias e revelações, uma rápida aula de jornalismo: “Bom, o mau repórter é aquele que quer inventar, quer enfeitar a notícia. Eu acho a notícia uma coisa muito sagrada. A notícia é a notícia, o fato é o fato, você não pode acrescentar nenhuma coisa ao fato”.

Nelson Rodrigues dispensa apresentações. Sua contribuição para a imprensa brasileira é gigantesca, perene, e talvez por isso Daisi Irmagard Vogel, doutor em Literatura e o autor do capítulo “As crônicas de Nelson Rodrigues em Manchete Esportiva”, tenha escolhido um determinado período da fase do jornalista e dramaturgo para desenvolver seu texto. Período, aliás, escreve Vogel, determinante para definir uma identidade duradoura de Nelson: o cronista de esportes. Na Manchete Esportiva, a popular revista da Bloch Editores, do Rio de Janeiro, que circulou semanalmente entre novembro de 1955 e maio de 1959, publicou 156 crônicas de Nelson. Um privilégio e tanto – ninguém, até hoje, conseguiu reproduzir a força dramáticas de suas crônicas esportivas. Ou há alguma dúvida: Naquele tempo (em 1911) tudo era diferente. Por exemplo: - a torcida tinha uma ênfase, uma grandiloqüência de ópera. E acontecia o sublime: - quando havia um gol, as mulheres rolavam em ataques. Eis o que empobrece liricamente o futebol atual: - a inexistência do histerismo feminino.

Leia também: Bienal expandiu oferta de conteúdo