“A expansão da universidade vem se dando não somente na interiorização, mas na graduação e pós-graduação”
Em sua segunda gestão como reitora da Universidade Federal de Alagoas, Ana Dayse Rezende Dorea, atual vice-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), fala sobre o crescimento da Universidade, a inserção no processo de internacionalização, os concursos previstos e as perspectivas para 2010 e 2011, quando a Ufal completa 50 anos e a gestão Ufal Mais Viva encerra sua atuação.
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Rose Ferreira - jornalista
Ana Dayse Rezende Dorea é graduada em Medicina pela Universidade Federal de Alagoas e mestra em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP).
Ascom: A Ufal tem se destacado no Estado de Alagoas pelo número de vagas que tem aberto em concursos públicos. Como a senhora avalia a universidade nesse sentido e qual a previsão para os próximos anos?
Ana Dayse Dorea: Os concursos ocorridos entre junho de 2008 e dezembro de 2009 realizaram-se sobre duas vertentes: a criação do banco de professores equivalentes, que é a reposição do quadro de docentes das universidades em virtude das aposentadorias, exonerações e falecimentos de servidores; e o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades (Reuni). Dentro do Reuni, a Ufal tem até 2011 a previsão de 235 novas vagas, das quais já concursamos algumas e estamos com concursos em andamento.
No dia 30 de dezembro de 2009, recebemos autorização para nomear mais 101 servidores, dentre professores e técnicos-administrativos, para todos os nossos Campi (Maceió, Arapiraca e Sertão). A posse desses novos servidores acontecerá na terça-feira, 26 de janeiro.
A Ufal tem, nesse um ano e meio, mais de 600 novos professores e técnicos concursados e contratados. Em 2010, apesar de ser um ano eleitoral, novas vagas deverão ser liberadas por conta do Reuni. Para 2011, temos uma grande expectativa, porque ofereceremos novos cursos previstos no Reuni e consequentemente teremos novas vagas.
Ascom: Quais as metas para os dois próximos anos de gestão?
Ana Dayse Dorea: Concluiremos essa gestão em dezembro de 2011 e acredito que o marco será a expansão da universidade, que vem se dando não somente na interiorização, mas também através do aumento de vagas na graduação e na pós-graduação. Desde que assumimos a gestão, demos um salto de 12 para 23 programas de pós-graduação, oferecendo atualmente 21 cursos de Mestrado e 6 Doutorados. Esse aumento no número de pós-graduações faz parte de uma de nossas metas que é a expansão com qualidade.
Ainda em 2011, deveremos ter novos cursos sendo oferecidos no nosso vestibular para os Campi Maceió e Arapiraca, como Design e mais cursos na área de Tecnologia, a exemplo de Engenharia de Computação.
Ascom: Com a expansão e o aumento do número de estudantes, o que tem sido feito a fim de mantê-los na universidade e proporcionar condições para que eles concluam os cursos?
Ana Dayse Dorea: A Ufal hoje apresenta um baixo índice de evasão, em torno de 2%, e eu acredito que esse dado seja consequência da ida da universidade para o interior e da assistência estudantil, também oriunda de um programa novo do governo federal, que é o Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes). Esse Programa criou possibilidades através da oferta de bolsas de permanência para os estudantes que se encontram em estado de vulnerabilidade social e econômica. Essas bolsas também já estão sendo ofertadas no interior, favorecendo a permanência dos alunos na universidade e, consequentemente, a conclusão do curso.
Ascom: Quais os planos para 2010 em relação às obras nos Campi e expansão da Ufal para o interior?
Ana Dayse Dorea: Os investimentos terão continuidade neste novo ano. No Campus Arapiraca, serão realizadas obras destinadas à prática de esporte (ginásio de esportes, piscina olímpica e pistas), mais blocos de laboratórios e salas de aula, como o que inauguramos em dezembro último, além de outro bloco que já está sendo construído. O Campus do Sertão está sendo construído e estará funcionando a partir do mês de março, em Delmiro Gouveia, e no meio do ano de 2010 será inaugurado também o prédio do Polo em Santana do Ipanema, onde funcionarão os cursos de Ciências Econômicas e Ciências Contábeis.
Em dezembro de 2009, foram concluídas as obras do Núcleo de Processos Seletivos (Neps), antiga Copeve, e de um prédio para salas de aula e apoio administrativo da Faculdade de Medicina no Campus Maceió. Também iniciaremos a construção da Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis (Feac), da Faculdade de Letras e da Residência Universitária, cuja localização será dentro do Campus Maceió. Até o final de 2010, inauguraremos o Instituto de Ciências Biológicas (ICBS), que já está 60% pronto, com três blocos; e em março, deveremos inaugurar novos blocos de laboratório da Matemática, Física e Química.
Ascom: O que será feito com o prédio onde atualmente funciona a Residência Universitária?
Ana Dayse Dorea: Há várias propostas, no entanto a mais provável é que ali possa ser o nosso Centro de Formação e Capacitação de Recursos Humanos. Com a ampliação do quadro de servidores e a ênfase na capacitação e formação continuada deles, a universidade tem necessidade de um espaço físico próprio para o desenvolvimento dessas atividades.
Está prevista também a construção do espaço físico do que será futuramente o Instituto de Artes, a fim de que o complexo que a universidade possui na praça Sinimbú torne-se um espaço destinado à cultura de forma geral.
Ascom: Com o pleno funcionamento do Campus do Sertão, qual o próximo passo?
Ana Dayse Dorea: Temos uma grande expectativa que até 2011 consigamos implantar o Campus do Litoral Norte, que vai abranger todo litoral norte e zona da mata. Assim, concluiremos o projeto de interiorização e atingiremos a grande meta dessa gestão, que é expandir a universidade, com inovação e inclusão, oportunizando o acesso de todos ao ensino superior público e de qualidade.
Para esse novo Campus, estamos buscando apoio junto ao Mec, à nossa bancada federal, que tem condições de apoiar, e aos prefeitos da região Norte, com os quais já temos uma reunião prevista. O nosso projeto é deixá-lo criado, em funcionamento e já incluso no vestibular em 2011. Este, sem dúvida, é um grande desafio, porque o problema de criar um novo Campus não é somente o orçamento para a construção do espaço físico, mas garantir vagas para concursos de professores e técnicos, afinal um Campus só funciona com recursos humanos.
Ascom: Em 2011 a Ufal completará 50 anos. Quais os projetos que sua gestão apresenta para comemorar esta data?
Ana Dayse Dorea: Tenho tido muita satisfação como reitora da Ufal e por ter uma equipe que entendeu o papel da Universidade e tem conseguido sensibilizar não só a comunidade acadêmica, mas a sociedade.
Nosso próximo passo é formar a comissão para trabalhar a programação de comemoração dos 50 anos, que será responsável pela celebração desse grande marco que foi a criação da Universidade Federal de Alagoas no dia 25 de janeiro de 1961. O ano de 2011 será marcante pela realização de eventos já consolidados na Universidade, a exemplo da Bienal Internacional do Livro, o maior evento cultural de Alagoas.
Ascom: Como está o andamento do projeto de criação do Memorial da Ufal?
Ana Dayse Dorea: A vinda do ICBS, localizado no Centro da cidade, para o Campus A.C. Simões é urgente justamente pela deliberação do Conselho Universitário que decidiu pela criação naquele local, onde inicialmente funcionava a Faculdade de Medicina, do Memorial da Universidade. O projeto já foi concebido e a parte arquitetônica já está sendo trabalhada.
Em 2011, esperamos deixar pelo menos iniciado o restauro daquele prédio que abrigará toda a memória da universidade. Um grupo, composto por 15 pessoas e coordenado pelos professores Niraldo Farias e Sílvia Cardeal, já está discutindo e elaborando o projeto. Bibliotecários, historiadores, arquivistas, artistas, arquitetos, restauradores e bolsistas estão trabalhando no levantamento de dados.
Ascom: Como a senhora vê o processo de internacionalização das universidades brasileiras e, em especial, da Ufal?
Ana Dayse Dorea: A internacionalização hoje representa o quarto vetor do desenvolvimento das universidades. A gente costuma dizer que a universidade tem um tripé – ensino, pesquisa e extensão –, eu colocaria o quarto como a internacionalização, porque o mundo mudou muito. Nesses últimos vinte anos, a globalização chegou e se instalou definitivamente. A internacionalização está presente nas universidades não somente por termos alunos fazendo intercâmbios em outros países, mas por uma necessidade de desenvolver o conhecimento e atender essa necessidade de mundo que é a globalização.
A Ufal se inseriu nesse novo contexto e hoje estamos conectados com o mundo. Temos uma assessoria que cuida mais de perto desse assunto; projetos em vários países, professores sendo capacitados com formação no exterior; um programa, com o apoio do Banco Santander Universidades, pelo qual encaminhamos dez alunos, pelo terceiro ano consecutivo, para universidades portuguesas e deveremos ter esse projeto também ampliado para a Espanha; em 2009, tivemos duas alunas que participaram de um intercâmbio na China, através do Programa Top China, e a Ufal foi a única universidade federal a enviar alunos para esse programa. Além disso, temos também cursos de relações internacionais sendo oferecidos a docentes e técnicos; e a participação de professores estrangeiros nessa cooperação em atividades da graduação e da pós-graduação. Isso tudo evidencia que há hoje uma grande abertura. Este é o novo mundo que surge a nossa frente e as universidades não poderiam estar de fora dessa proposta.
Ascom: Por falar em internacionalização, a senhora recebeu um convite especial do Universia para proferir uma palestra no II Encontro de Reitores em Guadalajara, no México, no mês de maio. O que irá tratar ao falar sobre as universidades ibero-americanas?
Ana Dayse Dorea: Eu não pude participar do I Encontro de Reitores na Espanha, mas vou ter a oportunidade de participar desse II Encontro. Para mim foi uma surpresa ser convidada para esse evento, onde vamos falar sobre “os desafios das universidades ibero-americanas diante de um mundo em mudança”. Eu aceitei o convite não só como uma honra, mas como um grande desafio. Espero estar lá participando não só como Ufal, mas como Andifes, afinal estaremos em uma discussão entre continentes. Tenho certeza que o Brasil será muito bem representado pelas várias Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) que estarão nesse Encontro.
Ascom: A Andifes tem encaminhado vários projetos para o Mec e o Governo Federal. Como vice-presidente da Associação, quais as metas para 2010?
Ana Dayse Dorea: A Andifes é uma grande associação: hoje temos 58 Ifes e somos muito respeitados nacional e internacionalmente. Participar da diretoria da Andifes nesse momento de expansão do sistema federal de educação superior é o maior desafio que tenho enfrentado, porque é um desafio muito mais político, no sentido de política pública, de gestão do ensino superior do país.
2009 foi um ano de muitas demandas, mas temos trabalhado muito junto ao Governo Federal e ministérios. Essa liberação de vagas no final de 2009, por exemplo, foi um esforço grande da Andifes junto aos Ministérios da Educação e do Planejamento, Orçamento e Gestão, que é quem libera o orçamento para garantir as contratações.
A Andifes cuida da política macro das 58 universidades e isso envolve hospitais universitários; autonomia; contratação de pessoas; educação a distância, que cada vez mais tem expandido a oferta de cursos; e toda a parte da pós-graduação. Em relação a essa área, temos um grande projeto hoje junto principalmente à Capes e ao Ministério da Ciência e Tecnologia: o Programa de Apoio à Pós-graduação (PAPG/Ifes), que visa a expansão da pós-graduação no Brasil. O Brasil já é responsável por 2% das pesquisas feitas no mundo, imagine se as universidades forem apoiadas nesse sentido com um investimento a exemplo do que foi o Reuni!
Outra grande questão que estamos resolvendo, dessa vez com o Tribunal de Contas da União, diz respeito à relação das universidades com as fundações de apoio.
Ascom: Como a Andifes tem tentado solucionar o problema dos hospitais universitários?
Ana Dayse Dorea: A questão dos Hospitais Universitários é uma pauta que estamos cuidando diretamente com o presidente Lula, porque a nossa rede de 46 HUs disponibilizam 10 mil leitos ao Sistema Único de Saúde (Sus). O nosso Hospital aqui em Alagoas é uma referência para o Sistema no cuidado de casos de média e alta complexidade, apesar da grande dificuldade e necessidade de realizar concurso público. Os HUs precisam criar cargos para resolver a situação das contratações precárias que existem em todos os hospitais.
Os hospitais universitários estão sendo tratados à parte em relação aos concursos, tanto pelo que eles representam, quanto pelo que precisa ser investido para sua expansão e reestruturação. Por isso, a exemplo do Reuni, eles terão o Programa Nacional de Reestruturação e Expansão dos Hospitais Universitários (Rehuf). Temos trabalhado arduamente, enquanto Andifes, junto ao Ministério da Educação, da Saúde e do próprio presidente Lula, que está empenhado em resolver a questão dos hospitais universitários.
Ascom: Os feras aprovados no PSS 2010 acabaram de fazer suas matrículas, o que a senhora tem a dizer a eles? E sobre o Enem, o que a Ufal definirá para seu processo seletivo nos próximos anos?
Ana Dayse Dorea: Aos novos feras, primeiramente, queremos dar os parabéns, desejar que sejam muito bem-vindos à Ufal, e parabenizar também as famílias. Entrar em uma universidade federal é uma competição enorme, então é uma grande conquista ser aprovado aqui na capital e acredito que muito mais no interior. Estou muito feliz porque nesse ano tivemos pela primeira vez a comemoração do resultado do vestibular no alto Sertão, onde só se via pedra e caatinga... Foi uma grande festa! Mas eu também quero dizer que os feras vão precisar estudar muito, porque a universidade não se restringe à sala de aula. Como eu costumo dizer, a grande sala de aula é o convívio aqui dentro, a frequência aos laboratórios, à biblioteca, o envolvimento com pesquisa e a disseminação do conhecimento através das atividades de extensão.
Em relação ao Enem, considero-o uma grande oportunidade. A Ufal tomou a decisão de migrar para o Enem somente em 2012, porque tínhamos um processo de avaliação seriada que era o PSS 1, 2 e 3. Sendo assim, o Conselho Universitário, que é quem define a política da universidade, definiu que não ofereceríamos mais PSS 1 em 2010; em 2011 não terá o PSS 2; e em 2012, se tudo correr bem, deveremos participar do vestibular unificado. Mas a Ufal teve o cuidado de criar uma comissão de acompanhamento e avaliação do processo do Enem.
Aos novos feras, mais uma vez, parabéns e boas vindas à Universidade Federal de Alagoas!