Concurso: o sonho da estabilidade

Mais de dez milhões de brasileiros se preparam para disputar uma das 80 mil vagas que já foram abertas este ano nos serviços públicos federal, estadual e municipal


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Capa da Revista Isto É de 03 de fevereiro
Capa da Revista Isto É de 03 de fevereiro

                   Fonte: Isto É     

Wilson Aquino, Adriana Nicacio e Fabiana Guedes

 

Depois de quase três décadas de sucateamento, baixos salários e contínuo desprestígio, o serviço público bra­sileiro renasceu. Antes ignorado pela classe média, que via como sinônimo de sucesso uma vida profissional forjada na iniciativa privada, em especial em grandes multinacionais, hoje os empregos estatais transformaram-se em objeto de cobiça dos melhores cérebros do País. A razão para esse cres­cente interesse em trabalhar para o Estado não encontra mais explicação no velho estereótipo do Barnabé, o funcionário que pouco trabalha, muito toma da nação e por décadas foi a representação do servidor público. O que move milhões de  brasileiros é a promessa de polpudos salários, uma valori­zação cada vez maior da carrei­ra pública e, claro, a certeza de estabilidade e uma aposentado­ria difícil de ser equiparada no setor privado.

A estimativa é de que nesse momento dez milhões de brasileiros estejam estudando para prestar algum concurso público nos próximos 12 meses. O le­vantamento, com base em da­dos da Pesquisa Nacional de Amostragem de Domicílios, o PNAD, realizada pelo IBGE, leva em conta tanto aqueles que estão matriculados nos incontáveis cursinhos preparatórios espalhados pelo País como também aqueles que se dedicam a estudar em casa. O número absoluto impressiona, mas impressiona ainda mais quando olhado em perspectiva em relação ao número de habitantes do País: na prática, 5% da população brasileira não apenas quer como também se prepara para conquistar uma vaga no serviço público.

E vagas não faltam. este ano estão abertas mais de 80 mil delas nos serviços públicos fede­ral, estadual e municipal. Outras 220 mil serão oferecidas para aqueles que quiserem trabalhar por apenas um ano como recenseadores do IBGE, que fará um novo censo. Existem ainda outros 100 mil postos que estão programados para ser abertos apenas no âmbito federal, mas ainda não foram aprovados por conta de restri­ções orçamentarias. Ao todo, entre abertas, temporárias e programadas, são quase 400 mil vagas de emprego no serviço público, com sa­lários iniciais variando entre o mínimo e os desejados R$ 20,9 mil oferecidos a juizes subs­titutos dos Tribunais Regionais do Trabalho. Hoje em dia, em média, um servidor público federal ganha o dobro dos seus congêneres na iniciativa privada", diz o professor de relações do trabalho da Universidade de São Paulo, José Pastore, deixando claro por que os concursos públicos têm atraído tantos candidatos. "Nos últimos oito anos os salários públicos da União tiveram um aumento real de 75%, enquanto os do setor privado, de apenas 9%."

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