Exemplo de perseverança e de vida
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Rose Ferreira - jornalista
José Antonio Albuquerque, primeiro formando do Campus Arapiraca, tem apenas 23 anos. Ainda com ar de menino, mas já pronto para iniciar sua vida profissional, ouve tudo com muita atenção e isso lhe permite fazer considerações relevantes e amparadas no empirismo de quem, desde criança, aprendeu a lidar com as dificuldades que não só a visão lhe impunha, mas o próprio sistema educacional e midiático, que ainda está longe de ter padrões universais de acessibilidade, garantindo igualdade de acesso e permanência a todos.
Natural de Arapiraca, José vive na zona rural de Arapiraca juntamente com seus pais e dois irmãos. Todos os dias encarava a estrada, indo para Palmeira e voltando para casa, em prol de realizar seu grande objetivo – concluir o ensino superior. Segundo levantamentos de professores, mais de 50% do alunado do Polo Palmeira é proveniente de Arapiraca.
O professor Elthon Oliveira, atualmente professor de Computação do Campus Arapiraca, foi professor de José no tronco inicial no Polo Palmeira. “Quando eu o vi pela primeira vez fiquei receoso, nunca tinha dado aula a um deficiente visual, não sabia como fazer. Mas, para minha surpresa, ele me deu menos trabalho do que 50% da turma. Ele é um aluno brilhante e é merecedor de tudo o que já conseguiu”, elogiou.
Sobre o assunto do seu Trabalho de Conclusão de Curso – a inserção e permanência de um deficiente visual na educação –, José Antonio chama a atenção para a importância da tecnologia. “Eu costumo dizer que a tecnologia para as pessoas sem deficiência torna a vida mais fácil, no entanto para as pessoas com deficiência torna a vida possível”, diz José, que usa essa mesma frase como rodapé do seu e-mail.
No entanto, apesar de reconhecer e admirar a tecnologia, José Antonio tem bem claro em sua mente o quanto as novidades virtuais custam caro e, por isso, tornam-se inacessíveis a maioria dos deficientes. Hoje, de acordo com informações de José, já existem celulares com o Talks – um software de leitura de tela de celulares para pessoas cegas –, mas a licença para o uso do programa gira em torno de R$500,00. Outro recurso fundamental para a acessibilidade é o Symbian, um sistema operacional para celular, que custa em torno de R$300,00. Ou seja, para um deficiente visual se comunicar de maneira satisfatória através de um celular precisa dispor de R$800,00, mais o custo do próprio aparelho, que não pode ser qualquer um, já que nem todas as marcas oferecem suportes para esses softwares. “Socialmente, a tecnologia não está nem um pouco acessível aos deficientes visuais”, enfatiza José.
Já como assistente social, José Antonio Albuquerque tomou posse na última quinta-feira, 29 de abril, na Secretaria de Assistência Social da Prefeitura de Aracaju-SE, e se prepara para um novo desafio. “Não sei ainda como vai ser lá em Aracaju, nem como vou desempenhar minhas atividades, mas sei que vou precisar reconstruir a acessibilidade para desenvolver bem meu trabalho. Estou começando uma nova fase na minha vida e estou animado com o que vem pela frente”, finaliza.
Parabéns, José, você é a primeira vitória concreta, de muitas que estão por vir, da Ufal no interior de Alagoas!