HU utiliza laser para curar lesões bucais e amenizar dor em pacientes oncológicos
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Tamara Albuquerque - jornalista
A quimioterapia e a radioterapia são grandes aliadas do paciente na guerra contra o câncer. É graças a essas duas modalidades de tratamento que um percentual significativo de pessoas com neoplasia chega à cura. No entanto, como qualquer outro procedimento médico ou medicamentoso, os dois tratamentos podem apresentar certos efeitos colaterais, como vômitos, náuseas, contagem baixa de células sanguíneas e queda de cabelo, entre outros. Embora esse último efeito colateral seja o mais conhecido pela população em geral, o que proporciona maior desconforto e dor ao paciente é a mucosite, considerada uma das mais temidas complicações orais do tratamento oncológico.
Mucosite é uma reação inflamatória das mucosas bucal, cujo primeiro sintoma é a sensação de queimação, o aumento da sensibilidade a comidas quentes e condimentadas e que pode evoluir para ulceração. As sequelas potenciais da mucosite incluem dor severa, sangramentos e aumento do risco de infecção local e sistêmica, além do comprometimento das mucosas e das funções bucais. Devido a dor, muitos pacientes com mucosites sentem dificuldade em alimentar-se e até em engolir a própria saliva, o que pode provocar morbidade, má nutrição, desidratação e também e também desenvolver distúrbios do sono.
“As lesões me impediam até de falar, pois o movimento da língua na boca provocava dor intensa, como se minha boca tivesse sido tomada por uma grande afta. Nada me dava alívio” revela o paciente M.I.T, em tratamento no Centro de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes.
Se a redução dos efeitos colaterais é um aspecto importante da terapia oncológica, em se tratando da mucosite, pode ser determinante para seu sucesso. No ano passado, os pacientes do Cacon ganharam um poderoso instrumento para o enfrentamento das lesões de mucosites: o laser de baixa frequência, também chamado de laser de baixa intensidade. A responsável pela introdução dessa terapia no hospital, a professora Maria de Fátima Lima Ferreira, pós-doutoranda em Laserterapia e doutora em Estomatologia, enfatiza que, o uso do equipamento nos pacientes do Cacon apresentou uma solução de prevenção e tratamento para as mucosites com resultados excelentes, graças a seus três principais efeitos: analgésico, antinflamatório e cicatrizante.
“É um importante auxiliar terapêutico, sem efeitos térmicos, que funciona emitindo radiações com ação analgésica, antiinflamatória e de bioestimulação, reduzindo a severidade das lesões na mucosa bucal, assim como acelerando a velocidade de reparação do tecido, após tratamento oncológico por radioterapia ou quimioterapia” explica.
A professora Fátima Lima, que tem trabalho sobre esse tema publicado na revista científica Laser In Medical Science (volume 24/novembro de 2009), acrescenta que os laseres de baixa frequência também podem ser utilizados em outras doenças, como estomatites aftosas recorrentes, úlceras traumáticas, lesões herpéticas, pericoronarites, herpes simples e síndrome de ardência bucal, entre outras, em virtude das baixas intensidades de energia e comprimento de onda capaz de penetrar nos tecidos.
No Cacon, um caso que exemplifica a versatilidade no uso do laser de baixa frequência é o da doméstica Alaíde de Lima Barbosa, de 73 anos. Ela percorreu ao longo de três sofridos anos os consultórios de vários médicos e hospitais do Estado em busca da cura para uma dor crônica no rosto, na região do ouvido, que a impedia inclusive de falar.
“Apelei para todos os médicos, fiz inúmeros exames, tomei muitos medicamentos e chás. Nada resolveu meu problema. Cada profissional suspeitava que eu tivesse uma doença, inclusive câncer, mas ninguém me dava um diagnóstico. Cheguei a pensar em morrer de tanta dor que sentia” conta. Numa consulta ao dentista, o profissional encaminhou dona Alaíde à professora Fátima Lima, no Hospital Universitário. Depois de uma criteriosa anamnese, a idosa foi diagnosticada como portadora de nevralgia do trigêmeo e distúrbio temporomandibular, responsáveis pelas dores de cabeça, dores próximas ao ouvido, zumbidos, tonturas e até torcicolos.
Bastaram três sessões com o laser de baixa frequência para dona Alaíde começar a sentir alívio das dores e voltar a mastigar, segundo ela própria relata. “Já sai do consultório com esperança que tinha achado o lugar certo para me curar. Na primeira aplicação já senti a dor reduzir” diz. Hoje, completamente curada, a doméstica é uma das propagadoras dos benefícios do tratamento a laser entre seus conhecidos e vizinhos, em Fernão Velho. “Quando sei de alguém sofrendo com dor, digo pra procurar a doutora Fátima no hospital”.
O Hospital Universitário da Ufal é o único da rede pública a ofertar esse tratamento aos pacientes oncológicos no Estado com resultados eficazes. “Os pacientes trocam informações e descobrem os efeitos benéficos do tratamento com o laser de baixa frequência. Eles chamam o equipamento de ´luzinha mágica`. Aos primeiros sintomas de mucosite e dor correm ao meu consultório. O tratamento melhora a qualidade de vida dessas pessoas” conta a professora. No Cacon, quem está em tratamento quimioterápico e radioterápico faz sessões com o laser não só para tratar as lesões de mucosite, mas como medida de prevenção. Nesses casos, a aplicação é realizada com antecedência às sessões das duas modalidades do tratamento.
O equipamento utilizado no Cacon é o laser da MM Optics Ltda TWIN, com canetas de dois comprimentos de onda vermelho de 660nm e infravermelho de 780nm. A professora explica que a luz vermelha é usada com a finalidade de fazer drenagem linfática local ao redor da lesão, na bioestimulação para reparo dos tecidos moles, além de efeito antiinflamatório nos tecidos musculares. Já o infravermelho é efetivo no controle da dor, no reparo dos tecidos duros e neurais, além de drenagem sobre os linfonodos.
“O alívio é imediato. Dá a sensação de analgesia e a lesão desaparece com uma rapidez impressionante. Pra mim foi muito importante contar com esse equipamento para suportar os efeitos do tratamento quimioterápico”, afirma o paciente M.I.T.