Projeto cultural implementa turismo de base comunitária em Riacho Doce


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Uma das grandes tendências do turismo mundial, o de base comunitária, vem sendo implementado pelo Instituto Magna Mater (IMM) - dedicado a promover ações nas áreas de turismo, cultura e meio ambiente - numa comunidade de uma das mais belas praias de Alagoas. O projeto Tramas em Riacho Doce tem por objetivo capacitar a comunidade para o atendimento e um melhor aproveitamento da oferta turística; a criação de serviços associados; a venda dos seus produtos; o planejamento do uso sustentável de seu território; a promoção da sustentabilidade econômica e cultural local e o enriquecimento do destino turístico, com um roteiro diferenciado.

O “Tramas” é um projeto que nasceu de uma iniciativa pioneira do Ministério do Turismo (MTur), por meio do Departamento de Qualificação, Certificação e de Produção Associada ao Turismo (DCPAT), da Secretaria Nacional de Programas de Desenvolvimento de Turismo (SNPDTur), e em Alagoas é o único projeto, dos 50 selecionados no Brasil, em desenvolvimento.

“O edital de seleção de projetos de base comunitária foi um grande sucesso, com 518 propostas recebidas e mais de sete mil acessos ao edital”, disse a diretora do Departamento de Qualificação, Certificação e Produção Associada ao Turismo, Regina Cavalcanti. “Isso mostra um duplo acerto. Primeiro: as iniciativas de organizar a produção, distribuição e consumo das atividades turísticas de forma associativa têm crescido e estão em consonância com a diretriz de desenvolvimento local com inclusão social do Plano Nacional de Turismo. O segundo acerto é que as chamadas públicas resultam em maior visibilidade e democratizam as formas de acesso aos recursos públicos”, acrescentou Cavalcanti.

O turismo de base comunitária, turismo comunitário solidário de conservação entre outras denominações, possui elementos comuns a tais iniciativas e busca a construção de um modelo alternativo de desenvolvimento turístico, baseado na autogestão, no associativismo/cooperativismo, na valorização da cultura local e, principalmente, no protagonismo das comunidades locais, visando à apropriação por parte destas dos benefícios advindos do desenvolvimento da atividade turística.

As experiências de vários países como o Equador, o Peru e, principalmente a rede TUSOCO da Bolívia, apontam a possibilidade de desenvolver-se a atividade turística em um modelo em que as comunidades locais participam ativamente do planejamento, da execução e do monitoramento das atividades turísticas e conseguem gerar renda complementar e desenvolvimento socio econômico. A atuação de operadores turísticos especializados, com destaque aos europeus, também demonstra o potencial deste nicho turístico.

No Brasil, há casos considerados de turismo comunitário em estados como Ceará, Amazonas, Pará, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Algumas destas iniciativas estão reunidas em uma rede informal denominada TuriSol - Rede Brasileira de Turismo Solidário e Comunitário.

A atividade turística possui reconhecida importância econômica, conforme levantamento realizado pela Organização Mundial do Turismo, que apontou o setor como o terceiro no mundo em termos de geração de divisas. Espera-se que em 2010, um em cada dez empregos seja criado no setor que é o quinto maior gerador de divisas do Brasil. No entanto, se por um lado as atividades relacionadas ao turismo têm potencial de promover o crescimento, por outro são conhecidos os impactos causados principalmente no que diz respeito à cultura local e preservação do meio ambiente.

 A comunidade de Riacho Doce já possuía uma certa experiência com associativismo e desenvolvimento de projetos, mas não com o conceito de economia solidária e com a preocupação da inserção no mercado. Assim, em parceria com a Associação de Pescadores e Marisqueiros de Riacho Doce e o Instituto da Melhor Idade (IMI), o Tramas em Riacho Doce vem garantindo a participação da comunidade no planejamento, na execução e na administração do mesmo.

Tudo isso tornou Riacho Doce interessante para o desenvolvimento de um projeto de Turismo de Base Comunitária, onde o modo de vida da comunidade é um dos atrativos, por apresentar práticas e técnicas artesanais, passadas de geração em geração, seja na gastronomia, no bordado ou na pesca e que são generosamente disponibilizados aos visitantes. São histórias e saberes que só a tradição oral e o contato com a natureza ensinam. “Esse projeto é muito mais do que capacitar “mão de obra”. Ele vai proporcionar uma interação entre o turista e a comunidade de uma forma diferenciada, que hoje atrai cada vez mais adeptos no mundo, criando novas alternativas de geração de renda para as rendeiras, as quituteiras, os pescadores e os jovens de Riacho Doce, explicou Patrícia Mourão, diretora executiva do IMM.

O “Tramas” é realizado pelo Instituto Magna Mater com o apoio do Ministério do Turismo, e conta com parcerias do Sebrae/AL, da Associação dos Pescadores e Marisqueiros de Riacho Doce  e Instituto da Melhor Idade Doce Vida (IMI) e funciona da seguinte forma:  junto com os pescadores, rendeiras, quituteiras e jovens informantes turísticos, através de oficinas, cursos, palestras e visitas em campo, a comunidade está se preparando para oferecer vivências em pesca, artesanato e gastronomia, promovendo uma integração sociocultural com o turista, que poderá ter um roteiro que incluirá opções de visitas a uma casa de farinha acompanhando todo o processo de preparação dos doces; às casas das bordadeiras, onde o visitante terá a oportunidade de conhecer e aprender como bordar o tradicional filé de Riacho Doce; além de passeios de jangada para pescar.

As visitas devem ser agendadas com antecedência de pelo menos 24 horas, a partir do mês de julho, pelos telefones : (82) 9654-0040 ou 9654-0039.

Riacho Doce

Riacho Doce está inserido na APA Costa dos Corais distante cerca de 10 km do centro de Maceió, margeandoa rodovia AL-101 e nasceu de um arraial de pescadores, que até hoje exercem essa atividade. As mulheres, em torno de 40 anos, seguem o ditado popular “onde tem rede, tem renda” e são famosas pelo seu artesanato e pelos quitutes que produzem e vendem à beira da estrada que liga a capital a Maragogi, principalmente nos finais de semana, quando o movimento é mais intenso. Elas se desdobram na casa-de-farinha, fazendo beiju, tapioca, pé-de-moleque e outras guloseimas, numa arte centenária, herdada de mãe para filha.

Além de localizado perto da orla de Maceió, onde há a maior concentração de hotéis e restaurantes do Estado (além de todos os outros serviços turísticos), Riacho Doce possui vários restaurantes, onde são oferecidos pratos típicos da culinária alagoana, além de várias pousadas e hotéis à beira-mar. Na parte alta, está a casa onde nasceu o ex-presidente Floriano Peixoto. Entre as festas estão a da padroeira Nossa Senhora da Conceição, em dezembro, nas qual os fiéis saem em procissão, com a imagem da Virgem Imaculada Conceição.

Nos anos de 1930, o escritor paraibano, José Lins do Rego, encantado com toda beleza, escreveu Riacho Doce, um dos maiores best sallers do país, que levou a TV Globo a produzir um seriado em 1990.