Com direito a estar seguro

Projeto de lei prevê seguro a preço baixo para população carente


- Atualizado em

Jacqueline Freire - jornalista

Quando a mãe da universitária Carol Santos*, 25 anos, faleceu em dezembro de 2009, a situação financeira da jovem, que já era difícil devido aos problemas renais de dona Irene* que a mantinham constantemente hospitalizada, ficaram ainda mais complicados. Sem pai e irmãos, ela teve que cortar gastos e tentar sobreviver com a bolsa de estudos da Universidade. Com mais de 24 anos ela não teve direito ao benefício do governo pela morte da mãe.

A situação seria outra se dona Irene tivesse um seguro de vida. O problema é que o preço dos pacotes costuma ser além do alcance financeiro da maior parte da população. Mas a tendência é que isso mude. O projeto de Lei 3266/2008 trata da criação de uma regulamentação específica para o segmento de Microsseguros no país, e estabelece critérios para autorização de seguradoras e corretores de seguros especializados. Isso quer dizer que pessoas como a estudante Carol e tantas outras no país, logo vão poder pagar pouco e manter seguros seus bens, objetos de valor e até fazer seguro de vida e deixar a família resguardada de possíveis acidentes ou mesmo em caso de morte prematura.

Segundo o presidente do Sindicato dos Corretores de Seguros de Alagoas (Sincor-AL), Nelson Feijó, quando o provedor de uma família de baixa renda morre há um grande impacto financeiro e social na família, já que geralmente as dívidas ficam para os filhos – sejam dívidas efetivas ou os custos com funeral. “Enquanto as microfinanças ajudam as pessoas a progredirem, os microsseguros protegem os ganhos e o patrimônio para que o cidadão continue melhorando sua condição financeira, mas com segurança”, explica Nelson Feijó ao falar da importância do seguro para a população de baixa renda.

 O objetivo do seguro é proteger o patrimônio das pessoas e assegurar sua qualidade de vida. “Sabemos que ter o carro roubado é um risco. Podemos arcar com este prejuízo sozinho ou dividir com uma seguradora, que é uma empresa especializada em assumir riscos. O seguro garante que caso seu carro seja roubado, a seguradora pagará parte da perda”, diz Nelson Feijó. Ainda segundo o corretor, os seguros de empresas são essenciais para evitar que, por exemplo, um incêndio destrua todos os equipamentos e materiais e leve uma empresa à falência. O dinheiro da indenização permitirá a compra de novos equipamentos e a reconstrução do espaço.

Mercado alagoano

Tradicionalmente, os seguros mais comercializados no mercado de Alagoas são os de automóveis (englobando os ramos de acidentes pessoais de passageiro, auto e responsabilidade de civil facultativa) e o seguro VGBL- Vida Gerador de Benefício Livre, que funciona como um plano de previdência. Comparando o primeiro quadrimestre de 2010 com 2009, houve um crescimento total do setor de seguros, no estados, da ordem de 38%. Para o seguro de automóveis as receitas aumentaram em 40,7%, o VGBL alcançou 51%. Mas os ramos que vem despontando no mercado como o prestamista (seguro contra perda de renda) e o empresarial tiveram um crescimento fantástico da ordem de124% e de 117%, respectivamente.

Para se ter uma idéia de quanto isso movimenta, o total da receita de seguros, em 2010, no estado de Alagoas foi de R$ 101.880.767 e o total da receita de seguros, em 2009, girou em torno de R$ 73.869.896.

Atingindo o público

Mesmo com todas as vantagens, convencer a população de baixa renda, que já não possui apoio financeiro para as necessidades básicas, a gastar mais um pouco na compra de um seguro não é tarefa das mais simples. Há toda uma preocupação com a abordagem da linguagem e de comercialização dos Microsseguros e da regulamentação de que produtos serão vendidos ao consumidor.

“O produto tem que ser muito simples. A apólice deverá ser mais clara e menos burocrática. É importante que os corretores envolvidos na atividade de Microsseguro estejam motivados e sejam, necessariamente, treinados para dar informações suficientes que habilitem o cliente a tomar uma decisão fundamentada. A habilitação de um corretor especializado em microsseguros, com qualificação mínima, mas suficiente ao exercício da atividade e que opere nas pontas de comercialização, pode ter efeitos muito benéficos para todo o processo”, explica Nelson Feijó.

O Microsseguro promete ser uma das apostas mais promissoras do mercado atual. Com potencial de atendimento de 80 a 100 milhões de brasileiros, que atualmente estão fora do mercado, este novo segmento significará novos negócios em grande escala. Por outro lado, não há ainda regulamentação no país para este tipo de seguro e por isso não há oferta no mercado até o momento.

Segundo o Sincor-AL, o tíquete médio do seguro deve ficar em torno de R$ 10,00, mas vai depender do tipo de seguro e o valor da indenização. Poderá representar, em longo prazo, a inserção de até 100 milhões de novos segurados que atualmente estão fora do mercado.

Para o Sindicato dos Corretores, a diferença entre seguro popular e microsseguro é grande.  O primeiro é voltado para a massa, as classes mais baixas, mas qualquer um pode ter acesso. Uma pessoa da classe média, por exemplo, pode contratar um seguro popular, caso queira. O microsseguro terá um público específico: a população de baixa renda. Apenas quem se enquadrar nos requisitos definidos pelo Governo poderá contratar o microsseguro.

Fale com o corretor

Para contratar um seguro, o consumidor deve, preferencialmente, procurar um corretor autorizado pela Superintendência de Seguros Privados (Susep). Nos sites www.susep.gov.br e www.fenacor.com.br, é possível verificar o cadastro dos profissionais. Geralmente, o primeiro contato com o corretor é feito por uma indicação de um amigo, mas mesmo nessas situações, solicite que o profissional mostre a carteira de habilitação. Dê preferência aos corretores que são associados ao Sincor-AL, porque a entidade promove continuamente treinamentos de qualificação e atualização para a categoria. Veja se o corretor aderiu ao Código Nacional de Ética dos Corretores de Seguros. O Código visa a um melhor disciplinamento profissional da categoria. A adesão do corretor de seguros pessoa física ou da empresa corretora de seguros é voluntária. Contudo, quem adere ao regulamento recebe um selo de qualidade, que reforça o bom conceito que o corretor tem com o consumidor brasileiro.

"O corretor de seguros trabalha a favor do segurado, buscando no mercado as melhores condições de coberturas adequadas ao perfil de cada cliente. O corretor evita que um segurado contrate coberturas desnecessárias ou deixe de contratar uma cobertura que ele esteja exposto", afirma Feijó.

O Sincor-AL foi fundado em 1990 e oferece serviços para ajudar os consumidores, tirando dúvidas sobre seguros e fornecendo informações sobre o seguro DPVAT. A sede do Sindicato em Maceió fica na Rua Goiás, nº 12, Farol – CEP:57050-090.

Telefones: (82) 3326-1724/1029 e 3221-4284. E-mail: sincoral@sincoral.com.br

*Os nomes foram trocados para preservar a identidade da entrevistada.