Em Alagoas, geógrafo é um ilustre desconhecido


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Há exatos 15 anos, Ivan Fernandes Lima perdeu a batalha contra um câncer no braço. Hoje, infelizmente, nem a Ufal - universidade da qual foi um dos mais renomados professores, no curso de Geografia -, nem o Estado - a quem prestou inúmeros serviços - lhes concedem o devido reconhecimento.

Sudene, Petrobras, IBGE, Ceai e Secretaria Estadual de Planejamento (Seplan) foram instituições que fizeram uso dos conhecimentos do geógrafo. "Como assessor técnico do governo [na Seplan], ele fez muitos estudos para orientar políticas públicas do Estado. Ele deu uma contribuição ao poder público", exemplifica o professor Lindemberg Medeiros. "Além disso, é ele o autor dos únicos mapas de Alagoas, inclusive já colocando áreas de proteção ambiental".

"A despeito da relevância de sua obra, Ivan não alcançou a repercussão que merecia. Alagoas tem a obrigação de perpetuar as suas obras. Esses títulos devem ser reeditados com as atualizações necessárias", aponta o pesquisador e geógrafo David de Amorim. "A Ufal esqueceu dele. É uma opinião minha", observa. Para Lindemberg, é preciso conhecer mais sobre ele. "Ele é mais conhecido pelo pessoal da academia e pelas pessoas mais velhas".

De fato, em Alagoas, Ivan Fernandes Lima é um ilustre desconhecido. Com exceção de uma escola na cidade de Piranhas, da biblioteca do Instituto do Meio-Ambiente (IMA) e de uma rua no conjunto Jardim Petrópolis, seu nome consta apenas dos livros de sua autoria, todos fora de catálogo e disponíveis apenas nos acervos da Academia Alagoana de Letras (AAL), da Biblioteca Pública Estadual (BPE) e do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL).

Com bacharelado em Geografia, Jillyane Rouse Pauferro Silva, 26, voltou ao curso para obter o diploma em licenciatura. Numa pesquisa, descobriu a obra de Ivan Fer­nandes Lima e se encantou. Agora, ela segue com a mis­são de levantar tudo o que foi publicado pelo mestre. O objetivo? Produzir seu Tra­balho de Conclusão de Cur­so (TCC) e realizar uma ex­posição iconográfica sobre o geógrafo. Ainda este mês, ela parte para o XVI Encon­tro Nacional de Geógrafos, em Porto Alegre (RS), onde vai apresentar um artigo so­bre Fernandes Lima. "Um dos motivos para a minha pes­quisa ser sobre o Ivan é a per­cepção da falta de reconhe­cimento por parte da acade­mia de sua figura e de sua obra", explica.

A seguir, a Gazeta mos­tra a opinião de pesquisado­res, professores, ex-alunos e do filho Antônio Cavalcan­ti sobre essa figura tão fun­damental para a compreen­são do espaço que habita­mos. Um erudito da geo­grafia alagoana, como outrora foi chamado, que merece ser mais conhecido e alçado à relevância de sua produ­ção pedagógica e científica. E mais: você vai saber por que um livro inédito do pesquisa­dor está na Gráfica do Sena­do Federal há mais de cinco anos à espera de ser publica­do. Não perca.