Homem de estudos e de família
Pesquisador que se dedicou a produção científica mesmo nas horas de lazer, Ivan Fernandes Lima é descrito pelo filho como um ser humano simples, humilde e extrovertido
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Mesmo respeitado em todo o Estado - inclusive com a pompa de ter sido efetivado como sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas em 1968 e de ter atuado como presidente do Rotary Club -, Ivan Fernandes Lima não perdeu a humildade e o humanismo adquiridos na cidade natal, Murici, na zona da mata alagoana, onde nasceu em 27 de dezembro de 1927.
Casado com Zuleide Cavalcanti, o papa da geografia alagoana teve cinco filhos: Antônio, Ivan José, Francisco, Delvane e Vanleide. Antônio foi quem esteve mais próximo do trabalho do pai. Com habilidade artística para o desenho, foi logo cooptado para fazer a arte final de seus mapas. Durante 15 anos, Antônio desenhou mapas e acompanhou o geógrafo em suas viagens.
"A vida dele era estar conhecendo os lugares, andar pelas serras", lembra. "Ele foi um pai participativo, sempre incentivou a gente a estudar e a ser honesto. Foi um homem bom. Era humilde, bom pai e um bom marido", conta o filho.
Quando em casa, "era extrovertido, mas gostava mesmo era de estudar". Após diagnosticar o câncer decorrente de um tumor no braço, passou um ano fazendo tratamento, mas não resistiu e nos deixou aos 67 anos. "Cheguei a ir com ele para o Recife, mas não deu. Era a hora de descansar", lamenta Antônio.
Já aposentado pela Ufal, Ivan Fernandes Lima continuava a trabalhar para o governo estadual. A família se ressente da falta de reconhecimento. "Lembro que ele queria publicar, mas tinha dificuldade de encontrar apoio. Eu acho que ele não teve o reconhecimento que deveria".
Ex-alunos e colegas falam sobre o mestre
Nem mesmo no curso de Geografia da Ufal o nome de Ivan Fernandes Lima recebe o devido reconhecimento". "Eu comecei a pesquisar e não encontrava nada", diz o geógrafo David de Amorim. "Na Ufal, o que você vai encontrar é o Geografia de Alagoas. No curso não tem nada, se você procurar uma dissertação, TCC, tese, nada". Para se ter uma ideia, somente agora uma aluna pretende se debruçar numa pesquisa sobre a vida e a obra do dentista. "Eu acho esquisito as pessoas não terem estudado a sua contribuição", fala o professor Lindemberg Medeiros.
Mesmo em Geografia: Espaço, Tempo e Planejamento (Edufal, 2004) - livro que comemora os 50 anos do curso de Geografia da Ufal, organizado pelo próprio Lindemberg e com artigos de professores e pesquisadores do curso -, o nome de Ivan Fernandes Lima é apenas brevemente citado. "Ele trabalhou muito pelo Estado. A falta de reconhecimento é uma das mágoas da esposa dele", acredita a ex-professora Jovesi de Almeida Costa, que foi sua aluna e depois colega no curso de Geografia da Ufal. "Eu fiz algumas viagens com ele, e quando ele conversava só falava de geografia. No Sertão, ele divagava sobre a paisagem. Ele tinha isso. Na realidade, ele era um cientista".
Se Jovesi o descreve como uma pessoa "boa, brincalhona", Lindemberg, que foi seu aluno na disciplina Climatologia e, posteriormente, colega de curso, o considerava "um humanista". "Ele se preocupava com os homens e com as pessoas. Eu fiz uma disciplina com ele e, nas aulas, de vez em quando ele saia do foco temático para abordar coisas que tinham a ver com o homem", recorda.
Marcos Damasceno, 40, que ingressou na turma que estreava o curso noturno de Geografia em 1991, diz que, junto com Góes e Lindemberg, Ivan Fernandes Lima foi o melhor professor de todo o curso. "Ele deu Geografia Física Geral e tinha o maior carisma. As aulas dele eram legais, bem tranquilas, não era na linguagem academicista", lembra. "Ele só tinha a graduação. Eu tive aula com doutores e certamente a aula dele era melhor do que a de muitos doutores".
Numa disciplina relativamente difícil, Fernandes Lima conseguia prender a atenção da turma. "Ele era profissional de pegar o garoto que está entrando no curso e mostrar a importância da geografia. Fascinar o aluno pelo aspecto físico não é fácil. A formação da rocha ou do terreno, apresentar a ciência para você, isso é que era encantador", afirma Damasceno, ao falar do homem que diariamente media a direção do vento, a temperatura e era capaz de sair de casa para seguir uma nuvem.