Agenda Cultural: sessão Consciência Negra
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O Barracão Cine Clube, em parceria com o Coletivo AfroCaeté e o SESC, realiza duas exibições do documentário nacional Terra Deu, Terra Come, de Rodrigo Siqueira, nos dias 14 e 19 de novembro. Sempre com entrada franca.
Para celebrar o Mês da Consciência Negra, neste domingo, dia 14 de novembro, o Barracão visita a sede do Coletivo AfroCaeté, em Jaraguá, e convida a todos para a partir das 15h prestigiar o ensaio aberto do Coletivo, seguido da exibição do documentário as 17h30. Já na sexta-feira dia 19 de novembro, o Barracão visita o SESC Centro, reexebindo Terra Deu, Terra Come, a partir das 19h.
A Coordenação do Cine Mais Cultura junto com a 7 Estrelo Filmes demonstram satisfação com o volume de pessoas que já assistiram Terra Deu, Terra Come através das exibições pelos cineclubes da rede Cine Mais de todo Brasil. O longa-metragem nacional de Rodrigo Siqueira foi premiado como o melhor documentário brasileiro no festival É Tudo Verdade 2010, e vencedor do prêmio de melhor filme na Mostra Panorâmica, no Festival de Gramado 2010.
Sobre o Filme
Pedro de Almeida, garimpeiro de 81 anos de idade, comanda como mestre de cerimônias o velório, o cortejo fúnebre e o enterro de João Batista, que morreu com 120 anos. O ritual sucede-se no quilombo Quartel do Indaiá, distrito de Diamantina, Minas Gerais. Com uma canequinha esmaltada, ele joga as últimas gotas de cachaça sobre o cadáver já assentado na cova: “O que você queria taí! Nós não bebeu ela não, a sua taí. Vai e não volta pra me atentar por causa disso não. Faz sua viagem em paz”.
Dessa maneira acaba o sepultamento de João Batista, após 17h de velório, choro, riso, farra, reza, silêncios, tristeza. No cortejo, muita cantoria com os versos dos vissungos, tradição herdada da áfrica. Descendente de escravos que trabalhavam na extração de diamantes, nas Minas Gerais do tempo do Brasil Império, Pedro é um dos últimos conhecedores dos vissungos, as cantigas em dialeto banguela cantadas durante os rituais fúnebres da região, que eram muito comuns nos séculos 18 e 19.
Garimpeiro de muita sorte, Pedro já encontrou diamantes de tesouros enterrados pelos antigos escravos, na região de Diamantina. Mas, o primeiro diamante que encontrou, há 70 anos, o tio com quem trabalhava o enterrou e morreu sem dizer onde. Depois disso, vive sempre em uma sinuca: para reencontrar o diamante só se invocar a alma de seu tio João dos Santos. “É um diamante e tanto, você precisa ver que botão de mágoa.” Ao conduzir o funeral de João Batista, Pedro desfia histórias carregadas de poesia e significados metafísicos, que nos põem em dúvida o tempo inteiro: João Batista tinha pacto com o Diabo?; O Diabo existe?; estamos sozinhos, ou as almas também estão entre nós?; como Deus inventou a Morte?
A atuação de Pedro e seus familiares frente à câmera nos provoca pela sua dramaturgia espontânea, uma auto-mise-en-scène instigante. No filme, não se sabe o que é fato e o que é representação, o que é verdade e o que é um conto, documentário ou ficção, o que é cinema e o que é vida, o que é africano e o que é mineiro, brasileiro.