Irrigação dobra produtividade em usina

Coruripe investe R$ 23 milhões em sistema subterrâneo e eleva colheita de cana-de-açúcar para até 170 toneladas por hectare


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Maikel Marques – Gazeta de Alagoas, em 5 de dezembro

"Cana-de-açúcar não bebe qualquer tipo de água". A inusitada afirmação do operário Wesley Miguel da Silva chama a atenção de quem visita uma das centrais de bombeamento de água tratada para o computadorizado sistema subterrâneo de irrigação por gotejamento em que a Usina Coruripe fez investimento de R$ 23 milhões.

Fruto de estudo conduzido por pesquisadores do curso de Agronomia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o sistema mescla experiências bem-sucedidas no Oriente Médio com adaptações locais e tem resultado em produção de até 170 toneladas do vegetal por hectare, 100% superior à média estadual que oscila entre 70 e 80 ton/ha.

O moderno sistema de irrigação, também implantado de forma exitosa nas usinas Seresta e Porto Rico, reduz em até 15% os custos com captação, transporte e aplicação de água à lavoura onde a planta será colhida no fim de safra, entre setembro e fevereiro, quando o solo demanda mais líquido para gerar frutos.

"Com o novo sistema, usamos menos recursos e atingimos resultados muito mais satisfatórios porque conseguimos colocar a água na raiz da planta. Não temos perda do líquido com o processo de evaporação, o que ocorreria se o líquido fosse aplicado sobre o solo", explica o agrônomo Pedro Carnaúba, coordenador do Departamento de Irrigação e Topografia da empresa.

Matar a sede

O sistema, revolucionário para os seculares padrões de cultivo de cana-de-açúcar nas Alagoas, funciona a partir da barragem Vitor Montenegro Wanderley, que abriga 60 milhões de metros cúbicos de água. Por meio de três dutos, na ponta dos quais há bombas submersas, o líquido chega à estação de distribuição. Esta, por sua vez, não funciona em sua plenitude.

Isso porque o maquinário, inaugurado há alguns meses, dependia de ampliação da rede da Eletrobrás Distribuição Alagoas. Como tem pressa, a direção da empresa também precisou investir mais R$1 milhão na construção de pequena subestação de rebaixamento de tensão, requisito indispensável ao processo de distribuição do líquido.

"Até que eles resolvam a questão da energia, não posso ligar as dez bombas de uma só vez. Se fizer isso, vamos ter problema no painel de comando da estação", explica Claudemir Matias, bombeiro de 27 anos, cuja vida profissional mudou depois da promoção funcional. "Cortava cana. Passei no teste e hoje estou aqui no conforto", conta o operário.

Claudemir precisa de muita atenção para controlar o fluxo de água que percorre um quilômetro e meio até desaguar na primeira estação de tratamento onde a reportagem da Gazeta de Alagoas encontrou Wesley Michel da Silva, 21, e Elisnaldo dos Santos Reis, 24. Estavam responsáveis, na manhã da última terça-feira (30), pelo serviço de purificação da água, que seria misturada aos adubos antes de percorrer alguns quilômetros até gotejar na raiz dos vegetais.

"A gente mata a sede da planta pela raiz. Só que não podemos fazê-la receber água suja, cheia de areia. Tem que estar tratada e misturada aos fertilizantes. Pelo menos aqui, meu amigo, cana não bebe qualquer tipo de água", explica o "bombeiro" Wesley Miguel da Silva.

A irrigação por meio da raiz, enterrada numa profundidade de 30cm, só é possível graças à pressão com que o líquido sai dos orifícios ao longo dos milhares de quilômetros de mangueiras distribuídas pelos 2.400 hectares onde há gotejamento subterrâneo.

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