58 graus na sombra: pesquisador da Ufal avalia desconforto nas barracas dos desabrigados


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Dona Rosineide Celina, de 35 anos, sente dores de cabeça, tontura e sensação de desmaios, sintomas de quem é submetido a fortes temperaturas (Foto: Marco Antônio)
Dona Rosineide Celina, de 35 anos, sente dores de cabeça, tontura e sensação de desmaios, sintomas de quem é submetido a fortes temperaturas (Foto: Marco Antônio)

Valdete Calheiros – repórter (publicado em O Jornal)

A dona de casa Rosineide Celina da Silva, de 35 anos, está sofrendo com fortes dores de cabeça, tonturas e desmaios. Ela é uma das desabrigadas da enchente que praticamente destruiu o município de Branquinha, há quase sete meses, e passou a apresentar tais sintomas há alguns meses. A explicação do mal estar apresentado pela dona de casa pode estar no calor que os desabrigados estão sentindo dentro das barracas em que vivem temporariamente.

A população desabrigada ou desalojada tem que enfrentar, além de todos os problemas comuns à condição em que estão vivendo, um calor de até 46,5ºC.

A temperatura enfrentada pelos moradores dentro das barracas é alvo de estudos por parte de um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). O professor do Instituto de Meteorologia da Ufal, Manoel Toledo, está à frente das pesquisas que avaliam as condições de desconforto causadas pelo calor.

O professor ficou surpreso ao fazer a medição e constatar uma temperatura ambiente de 40ºC e, no teto da barraca atingiu 46,5ºC. Segundo o professor, a sensação que se tem é de que as barracas estão montadas no deserto.

Por isso, a dona de casa Rosineide Celina da Silva tem reclamado muito do calor ultimamente. “Nem ventilador está dando conta. A vida da gente já está ruim por causa de muitas coisas. Mas o pior aqui não é a barraca, nem a falta de esperança das coisas melhorarem. O pior aqui é o calor”, reclamou.

Ainda conforme Manoel Toledo, quem sai da barraca por causa do calor e na tentativa de escapar de insolação ou risco iminente de Acidente Vascular Cerebral (AVC) pode ser vítima também de um câncer de pele.

Em outra medição feita pelo grupo de pesquisadores, os índices ultrapassaram os limites suportáveis, segundo parâmetros do Instituto Nacional de Meteorologia e da Organização Mundial da Saúde. Em uma das barracas, a cama, por exemplo, chegou a 44°C e o solo a 58°C. A primeira medição foi feita às 9 horas e a segunda às 11 horas.

As lonas das barracas são feitas de um material antitérmico, uma tecnologia inglesa, mas não tem mostrado resultado. Em todo o Estado, 13 dos 19 municípios atingidos pelas enchentes abrigam quem perdeu suas casas em 2200 barracas.

Os desabrigados e desalojados terão que enfrentar o calor por mais alguns meses. As prefeituras dos municípios atingidos alegam que não têm alternativa. A prefeita de Braquinha, Renata Moraes, afirmou que “infelizmente, a população tem que ficar nas barracas até as casas serem construídas. Não temos opção. A prefeitura não tem um lugar para alojá-los até que as casas sejam entregues em definitivo”, lamentou.