Secretário de Ciência e Tecnologia critica qualidade da internet em Alagoas


- Atualizado em
Setton sendo empossado pelo governador
Setton sendo empossado pelo governador

Patrícia Machado - Tribuna Independente

Surpreso. Foi assim que o professor de Engenharia Estrutural da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Eduardo Setton Sampaio da Silveira, ficou diante do convite feito pelo governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) para fazer parte da equipe executiva do Estado pelos próximos quatro anos.

A missão é coordenar as ações da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior. Apesar do pouco tempo na nova função, o secretário se diz empolgado com os projetos que podem ser viabilizados por meio de parcerias entre o governo federal, o Estado e os municípios alagoanos.

Alegando que jamais poderia negar o convite de Vilela, Setton considera que recebeu a oportunidade de tentar difundir políticas por meio de projetos que conectem os municípios mais distantes com o resto do país, descobrindo o que é possível fazer com a tecnologia, melhorando a vida das pessoas.

O professor também é responsável pelo Laboratório de Computação Cientifica e visualização (LCCV), implantado na Ufal há pouco mais de três anos e que é um dos mais avançados no estudo de soluções para plataformas petrolíferas do Brasil.

Tribuna Independente - O senhor sabia que estava na "lista" do governador?

Eduardo Setton - Vivo muito dentro da universidade e por isso tinha pouco contato com os políticos de uma forma geral. Não sabia, por exemplo, que o convite tinha sido feito inicialmente ao Sérgio Moreira, ex-secretário de Planejamento. Tanto que, quando fui chamado, achava que iria trabalhar com Luiz Otávio Gomes, secretário de Desenvolvimento Econômico e o Sérgio Moreira. Disse ao governador que era uma honra trabalhar numa equipe que estivesse com eles. Mas não sabia que se ele não tivesse desistido eu talvez não estivesse aqui.

T. I - Já deu para fazer o diagnóstico da secretaria?

Setton - Quando cheguei, reuni todo mundo para conversar. Contei sobre minha chegada na Ufal, que já tinha alguns projetos, mas, dinheiro, nenhum. É fácil a quem não acompanhou a história, chega à universidade, olha para o laboratório e diz: 'Que luxo, que coisa maravilhosa. Isso é em Alagoas? Só que as pessoas que fazem esses comentários pejorativos não imaginam como tudo começou. Eu comecei lá com um grupo numa condição muito pior do que está a secretaria. É um desafio, claro, mas estou determinado a tentar fazer alguma coisa. Não posso prometer nada e não tenho a menor intenção de seguir a carreira política. Estou aqui para ajudar o Estado e quando terminar minha missão, voltar para a universidade. Quem trabalha nos projetos do laboratório são pessoas que tiveram sucesso em gerenciar suas próprias convicções. Disse ao grupo que trabalha aqui que a secretaria é pequena, mas é forte e que só vai prosperar se os funcionários quiserem fazer dela um projeto de sucesso.

T. I - Mas e os projetos?

Setton - Confesso que ainda não estudei tudo. Foram poucos dias para me orientar. O Estado, de uma forma geral, possui uma imagem muito negativa externamente. É preciso melhorar dando notícia de coisa boa. É preciso ir atrás dos recursos do governo federal, fundamentais para implantação de projetos, especialmente os grandes. Tenho algumas metas firmadas e a função de implantar o Pólo Agroalimentar em Arapiraca e Batalha, que é um projeto que já existe graças ao esforço da Kátia Born [ex-secretária, atualmente na pasta da Mulher] junto ao ministro de Ciência e Tecnologia. O recurso de oito milhões do governo federal e a contrapartida de quatro milhões do Estado já está em caixa. Outro projeto é o Cais Tecnológico, que pretende incentivar a vinda de empresas para Alagoas. Há ainda os projetos que estão em execução pela secretaria e temos a obrigação de concluir todos.

T.I - Quais são as condições desses projetos?

Setton - Excelentes iniciativas, interessantíssimas, mas é um projeto pequeno ali, outro  ali, é um de cinquenta mil, cem, duzentos mil. Não estou de forma alguma desmerecendo o valor financeiro ou do trabalho, todos são grandiosos na alma, mas Alagoas tem um déficit muito grande em relação a todos os outros estados. O governador se encontrou com o ministro Aloísio Mercadante e ele se comprometeu em ajudar nosso Estado, e eu já conversei com o governador para a nossa secretaria implementar projetos de grande impacto, que envolvam muitas pessoas. O governador se comprometeu em me levar para conversar com o ministro sobre as nossas necessidades.

T.I - Como estão os recursos da secretaria?

Setton - Dei uma olhada e vi que são baixos. A maioria da verba é do governo federal. Estou para pleitear mais recursos. O governo tem reservado dinheiro para oferecer como contrapartida, o que impulsionará a vinda de mais ações.

T.I - E os seus projetos?

Setton - Uma das coisas que eu pretendo trabalhar é a integração das secretarias numa coisa que a gente precisa resolver definitivamente, que a internet em Alagoas. Não se concebe a qualidade do serviço que está sendo ofertado, não só no interior, mas em todo o Estado. Fala-se muito em inclusão digital, mas não só comprar computador. Para boa parte da população ainda está inacessível, mas não como era antigamente e nada adianta um projeto para levar computadores para um local sem ter internet. Em Pernambuco há uma internet de alta velocidade no Estado inteiro. Já marquei um encontro para saber mais detalhes.

XI - Existem profissionais capacitados?

Setton - Aqui no Estado existem pessoas capacitadas, e bons profissionais. Uma das diretrizes da secretaria é envolver as universidades, professores e alunos. Na situação em que o Estado se encontra, os professores e alunos têm um potencial muito grande de nos ajudar. A gente tem uma situação hoje mais confortável, que é a universidade espalhada em vários municípios centrais. Com isso, elas se tomam um braço da secretaria no interior. O que acontece é que as instituições reclamam muito da falta de estrutura física. Mas os professores precisam de mais envolvimento, O LCCV é o meu exemplo. Um laboratório daquele pode ser construído em Arapiraca, basta que os professores coloquem para fazer, sem esquecer de reclamar, mas trabalhando para mudar.

T. I - Assumindo a secretaria, o professor deixa o LCCV?

Setton - Essa pergunta está sendo feita a mim por muita gente. O pessoal da Petrobras, da Braskem e de empresas importantes vieram me perguntar. Se hoje estou aqui é porque o laboratório tem uma equipe de cem pessoas que me permite deixá-los assumindo essa responsabilidade. O LCCV mostra o potencial do Estado para as pessoas de fora. Estarei na secretaria, mas sempre que puder estarei acompanhando as atrvidades e projetos de lá.

T.I - A secretaria passou a coordenar o ensino superior. Como vai ficar organizada essa subordinação?

Setton - Na minha conversa com Vilela, eu questionei qual o objetivo de colocar o ensino superior na pasta. Ele, de forma franca, disse que o governo federal, por meio do Ministério da o ensino superior. O governador me disse que tentou a federalização, mas não deu certo porque o MEC não reconhece o ensino superior como atribuição dos Estados e por isso ele transferiu para a secretaria. A proposta agora é buscar soluções, procurando a melhor forma de resolver os problemas das universidades.

T.I - O senhor já prevê projetos junto ao Estaleiro Eisa?

Setton - O Estado tem um planejamento. O estaleiro é um trabalho de negociação, mas ele é só uma empresa Tem outras coisas que ainda devem acontecer no Estado. Eu preciso ter uma conversa com o secretário de Planejamento para saber não só desse, mas de outros projetos que podem contribuir com a entrada e a chegada de novas indústrias. Uma das ideias é a criação do Parque Tecnológico, um projeto mais amplo, mas eu preciso estudar mais sobre APLs [Arranjos Produtivos Locais], e ver de que forma a secretaria e esse parque podem contribuir.

T.I - Qual sua opinião sobre os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo receberem mais royalties do pré-sal do que o restante dos estados que não são produtores?

Setton - O pré-sal fica a muitos quilômetros da costa Então dizer que ele é do Rio de Janeiro. Mesmo que fosse, os três estados são riquíssimos e essa distribuição deve ser feita de uma forma mais racional. Mas isso vai aumentar a diferença entre os outros estados da Nação. Um candidato carioca usou os trinta segundos para dizer que a divisão dos royalties deveria ser feita de acordo com os mais baixos índices de desenvolvimento humano. Quanto mais baixo, maior a fatia a receber. Esse comentário é tão lógico que uma das propostas que a gente pretende implantar é trabalhar nos municípios, voltando-se para a solução de problemas nos lugares mais pobres do Estado. Já existem projetos na secretaria e a gente vai executá-los tal qual está no projeto, mas uma das diretrizes é de trabalhar outros projetos observando o índice de desenvolvimento humano do município, começando pelo mais pobre, porque os problemas são grandes e o número de habitantes é pequeno. Então dá para servir até mesmo de piloto, aprendendo com as dificuldades e depois estendendo para cidades maiores.