Anvisa alerta sobre o uso irracional de medicamentos
Professores da Faculdade de Medicina participaram nesta quinta-feira, 10, de um debate com Patrícia Toledo, coordenadora de Vigilância em Serviços Sentinela da Anvisa. O objetivo dessa conversa e de outras sensibilizações que ainda vão acontecer é divulgar as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o uso racional de medicamentos.
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Lenilda Luna - jornalista
Segundo Patrícia, o problema é grave e deve ser enfrentado por profissionais de saúde e por toda a sociedade. “As consequências do uso irracional de medicamentos podem ser individuais e coletivas. Pacientes podem acabar hospitalizados ou morrendo por conta de prescrições inadequadas. Além disso, toda a sociedade perde, porque estamos produzindo bactérias resistentes às substâncias que deveriam funcionar para restabelecer a saúde”, alertou a coordenadora.
A coordenadora explicou que é necessária uma mudança de cultura em toda a sociedade. “É o médico que prescreve a medicação sem explicar detalhadamente como deve ser utilizada pelo paciente, o paciente que se automedica, o farmacêutico que realiza consulta na farmácia e até o balconista que acredita ter experiência suficiente para receitar remédios”, disse Patrícia.
Uma pesquisa realizada pela OMS revela que 75% das prescrições médicas são inadequadas. Ou seja, o paciente não precisaria tomar a medicação ou está tomando em doses erradas. “Esses são erros da forma como o medicamento é prescrito por um profissional. Imagine a quantidade de medicamentos que nem é receitada, mas que o paciente decide tomar por conta própria”, alertou a coordenadora da Anvisa.
A cultura da medicalização não é um problema só do Brasil, mas nos países em desenvolvimento; as pessoas acreditam mais que todos os medicamentos só fazem bem, e se esquecem das reações adversas de certas substâncias. Além disso, a coordenadora da Anvisa diz que o estímulo comercial é muito forte. “A indústria farmacêutica não é maléfica, mas a publicidade excessiva dos medicamentos induz a um consumo irracional”, critica Patrícia.
Antibiótico com receita
Foi para conter esse uso irracional, principalmente de antibióticos, que a Anvisa regulamentou a venda desses produtos. Desde outubro de 2010, essas substâncias devem ser vendidas nas farmácias, drogarias e farmácias de manipulação com a retenção da segunda via da receita. Mas a Anvisa ainda não tem como controlar a aplicação da norma, por isso, a partir do dia 25 de abril, os estabelecimentos que vendem medicação vão ser obrigadas a alimentar o sistema sobre a venda de 116 tipos de substâncias; o mesmo esquema que já é utilizando com medicamentos tarja preta.
“Dessa forma, quando houver uma fiscalização, vamos poder comparar as notas fiscais sobre a venda destas substâncias com os dados informados no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados, assim saberemos se a farmácia ou drogaria está vendendo antibióticos sem receita médica”, informou a coordenadora da Anvisa.
Parceria com a Ufal
A parceria da Ufal com a Anvisa, para capacitação de profissionais, já existe desde a reformulação do currículo de Medicina, há seis anos. Mas agora estão sendo planejadas as atividades para o próximo biênio. “Temos a proposta de realizar uma sensibilização sobre uso racional de medicamentos a cada seis meses, com isso, queremos atingir a todos os professores, que vão se tornar multiplicadores destas estratégias junto aos seus alunos”, explica Patrícia.
A coordenadora diz que essa é uma atividade fundamental, já que todos os anos, novos profissionais de saúde são lançados no mercado e acabam reproduzindo a prática equivocada de receitar medicamentos. “Dados do Ministério da Educação informam que de 1991 a 2004 foram graduados nas universidades brasileiras cerca de 300 mil novos profissionais. Por isso, as estratégias de sensibilização precisam começar pelos professores, para surtir efeito a médio e longo prazos”, ressalta Patrícia.
A coordenadora explica que, desde que foi instituído o Sistema de Notificação e Investigação em Vigilância Sanitária, como parte integrante do Sistema Único de Saúde (SUS), em 2009, devem ser notificadas: todas as suspeitas de reações adversas não descritas na bula, mesmo que não sejam graves; todas as suspeitas de aumento da frequência de batimentos cardíacos; todas as suspeitas de reações adversas a medicamentos novos (menos de cinco anos no mercado), mesmo que não sejam graves e todas as suspeitas de reações adversas a medicamentos fitoterápicos e de venda livre.
“Só com a participação dos profissionais de saúde e de toda a sociedade, vamos garantir que os medicamentos nos tragam saúde, ao invés de provocar mais problemas”, concluiu a coordenadora de Vigilância em Serviços Sentinela da Anvisa.
Confira orientação importante para os usuários de medicamentos.