Do Campus Tamandaré ao A. C. Simões


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Fernando Cardoso Gama esteve à frente da Ufal como reitor nos períodos ditatorial e democrático
Fernando Cardoso Gama esteve à frente da Ufal como reitor nos períodos ditatorial e democrático

O professor conta que, logo no ano seguinte, em 1969, ele co­meçou a lecionar na universida­de. Em 1976, um fato curioso na história da Ufal foi vivenciado por Radjalma. Três anos antes, o Ministério da Marinha cedeu à universidade as antigas instala­ções da Escola de Aprendizes-Marinheiros, onde hoje fica lo­calizado o Detran. Lá passou a funcionar o Campus Tamandaré, no qual foram instalados os cur­sos da área III da Ufal.

Nessa época em que o pro­fessor Radjalma dirigia o CHLA e o professor Carlos Mendonça, o CCSA, no Campus Tamanda­ré, aconteceu o inesperado. Os diretores foram representar o então reitor Manuel Ramalho em uma reunião com a direção da Salgema. Radjalma conta que, além dos dois professores da Ufal, estavam presentes à reunião os comandantes do Exército, da polícia, do Corpo de Bombeiros e o diretor da Salgema. O professor conta que o comandante do Exército disse: "Senhores representantes da Ufal, dentro de quatro meses, a fábrica Salgema vai começar a funcionar. Havendo um vaza­mento de cloro, este vai direto à direção do Campus Taman­daré. Então, os senhores têm que comprar três mil máscaras contra gases, três ambulâncias 24 horas e construir um prédio 100x100, totalmente oxigena­do''.

O professor descreve o final dessa história. "Eu argumentei que a universidade mal tinha di­nheiro para se manter e pergun­tei que tipo de convênio a Salgema poderia fazer para nos ajudar a comprar o material, mas o comandante respondeu que isso era um problema nosso. Relatamos a reunião ao reitor, que resolveu transferir, no prazo de quatro meses, todos os cur­sos do Campus Tamandaré para o Campus A.C. Simões", contou Radjalma.

Ainda no Campus Tamanda­ré, em agosto de 1975, o profes­sor assistiu à abertura do Museu Théo Brandão, "Em uma das casas do Campus, a professora Carmem Lúcia, aproveitando o material cultural cedido por Théo Brandão, resolveu abrir o museu. A inauguração foi marcada, a princípio, para o dia 18 de agos­to, mas, quando o professor Théo Brandão me comunicou a data, eu sorrindo, sugeri que ele fizes­se no dia 20, que é o meu ani­versário. Na mesma hora, o pro­fessor Théo Brandão declarou que, em minha homenagem, a abertura aconteceria no dia 20 de agosto".

Gama vivenciou o nascimento da institução

Antes mesmo de a Ufal existir, o ex-reitor e professor aposentado Fernando Car­doso Gama já ensinava na Escola de Engenharia de Alagoas, que, à época, era uma faculdade particular, mas depois passou a integrar a universidade. Quando a Ufal foi criada, ele permane­ceu como professor. Gama vivenciou de perto o surgi­mento da instituição de ensino superior e tem na me­mória fatos dos bastidores dessa história.

"O professor A.C.Simões era bem organizado e econô­mico, chegava a ter um com­portamento folclórico. Só co­meçava uma obra quando já tinha todo o dinheiro sepa­rado para o término. Na construção do Campus da Ufal, A.C.Simões catava os pregos do chão e entregava ao mestre-de-obras para que nada fosse desperdiçado", lembra.

 Gama foi reitor em duas ocasiões: a primeira entre 1983 e 1987 e a segunda, entre 1991 e 1995. O primeiro mandato, ainda na época da Ditadura, foi obtido por eleição indireta. "Havia um anseio, principalmente da classe estudantil, de que houvesse eleição direta. A votação do primeiro mandato foi bastante tumul­tuada. Os estudantes invadi­ram as salas adjacentes à Reitoria, gritando palavras de ordem para exigir eleições diretas. Um coronel da ASI (As-sessoria de Informação do Go­verno Militar) conteve os alu­nos e manteve a ordem", lem­bra o ex-reitor.

Vencidos pelo cansaço, alunos não protestam em posse do reitor Gama

No dia da posse do novo reitor, houve um aconteci­mento que alterou os rumos da história. Gama conta que o senador Teotônio Vilela morreu dois dias antes de sua posse. "Os alunos estavam preparando um grande pro­testo para o dia da minha posse, mas não houve por causa da morte de Teotônio. Ele era idolatrado pelos alu­nos, pois simbolizava o com­bate à Ditadura. Os estudan­tes acompanharam o corpo até o cemitério a pé e ficaram muito cansados. Esse foi um fato que contribuiu para que a posse se desse pacificamen­te".

Ainda no primeiro man­dato, Gama conta que acabou se envolvendo em uma das manifestações dos estudan­tes do DCE, que resolveram incendiar um ônibus dentro do Campus para protestar contra o número reduzido de coletivos com destino à Ufal. "Em reunião com eles, eu disse que não fizessem isso porque a universidade seria responsabilizada e teria que pagar o prejuízo. Sugeri, de brincadeira, que eles fizessem algo diferente, por exemplo, sequestrassem um ônibus. Assim eles fizeram. Em uma manhã, logo cedo, fui avisa­do do sequestro. Eles não per­mitiram que um dos ônibus coletivo saísse do Campus. Das 10h da manhã às 14h fi­quei negociando com os estu­dantes e a polícia para que esta não entrasse no Campus e para que os estudantes não quebrassem o ônibus. Estava tudo sob controle até a hora em que os  estudantes de Jornalismo chegaram e não quiseram mais acordo, queriam quebrar tudo. O combinado era não depredar o ônibus para a polícia não entrar. Foi mais difícil negociar com a chegada dos estudantes de Jornalismo, eles não queriam saber de conversa. Então, eu entrei no ônibus e, depois de um bom tempo, consegui contê-los através de muita argumentação. Eles liberaram ônibus e, a partir daí, os estudantes passaram a negociar com a empresa de ônibus", lembra.

Gama afirma que o seu primeiro mandato foi carac­terizado por construções. Na época, existia um projeto do governo federal chamado MEC/BID III. O ex-reitor conta que, através dessa ini­ciativa foi possível construir muitos dos prédios que exis­tem na Ufal. Entretanto, ex­plica que o projeto tinha suas contrapartidas. O MEC/BID era uma espécie de acordo entre o governo federal e o governo ameri­cano. Uma das exigências era o regime de crédito, que foi instaurado na época desse projeto. "

O regime de crédito quebrava a unidade estudantil.  O aluno não tinha turma, que era o centro da resistência. " Era um regime que não visa­va à melhoria do ensino, mas sim a quebra da resistência estudantil. A universidade, entretanto, só recebia o dinheiro do MEC/BID se fizes­se reformas universitárias nos moldes recomendados pelo projeto. A implantação do sis­tema de crédito era apenas uma das exigências", revela o ex-reitor.

Cantar o Hino Nacional: exigência de Nabuco Lopes

Há 37 anos, o servidor Givanildo Lopes, conhecido como Gil, entrou na Ufal. Começou trabalhando no Departamento de Matemática no cargo de agente de porta­ria. "Quando eu entrei na Ufal, o reitor era o professor Nabuco Lopes. Na posse, eu tive que cantar o Hino Nacional. Era uma das exigências do reitor. Quem não soubesse, tinha que voltar para casa para apren­der. O reitor não admitia que um servidor público não sou­besse o Hino Nacional. Cada servidor empossado cantava uma parte. Quando ele me chamou, fiquei com medo de não saber cantar, mas a sorte é que eu sabia a parte que ele pediu", recorda Gil.

O servidor permaneceu 11 anos no Departamento de Matemática. Quando entrou na Ufal, muitas das salas de aula do Campus A.C.Simões ainda estavam sendo monta­das. "Eu fui um dos que tra­balharam nessa primeira montagem das salas, levan­do as carteiras dos alunos", recorda. Após alguns anos, Gil ascendeu ao cargo de de­corador.

Do Departamento de Matemática, o servidor foi transferido para a Pró-Reitoria de Extensão (Proex), que, na época, ficava localizada pró­ximo ao Mercado Público. Lá, trabalhou com as professoras Hélia Pontes e Maria José Carrascosa. As duas coorde­navam o grupo folclórico Professor Théo Brandão. A professora Maria José era quem coordenava os ensaios.

"Passei a desenhar os figurinos dos brincantes dos folguedos do grupo, além de auxiliar os ensaios. Quando comecei, tinha apenas noções primárias das danças. Com Carrascosa, aprendi os passos verdadei­ros, autênticos de cada folgue­do. Ela era muito exigente, sempre queria a perfeição dos alunos", conta.

Nesse período, o grupo viajou a Brasília para repre­sentar Alagoas na Feira dos Estados. "Fui o único funcio­nário da Ufal que participou desse momento. Na época, o Collor era o presidente e nós fizemos a apresentação na Casa da Dinda. Eu dancei den­tro do boi de guerreiro. Fiquei tão empolgado, rodei tanto, que fiquei tonto, e, ao invés de seguir na direção certa, fui em direção ao presidente. O Mateu (um dos figurantes do Guerreiro) foi quem me orien­tou a ir para o outro lado para seguir o desfile com os ou­tros", lembra.

O grupo folclórico passou um período parado até retor­nar suas atividades no Museu Théo Brandão, na mesma oca­sião em que Gil foi trabalhar lá. "No MTB fui o coordenador-geral do grupo folcló­rico. Aproveitei os próprios ex-alunos para ensaiar os no­vatos. Os ensaios ainda eram coordenados pela professora Carrascosa. Fizemos várias apresentações em eventos, ex­posições, hotéis e cidades do interior alagoano", lembra Gil.