Reitora Ana Dayse: estudante à época do Regime Militar
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O ano em que o navio Hope chegou a Maceió marcou também a vida da atual reitora da Ufal, Ana Dayse Resende Dorea. Foi em 1973 que a professora começou a trabalhar na universidade e que nasceu sua primeira filha. No começo da carreira como professora da Ufal, Ana Dayse foi um dos profissionais da Saúde que se beneficiaram com a chegada do Hope.
"Tive a oportunidade de fazer um curso de especialização em Clínica Médica, oferecido pela equipe do Hope. Até hoje, muita coisa do funcionamento do HU é herança da capacitação dos profissionais do navio", disse a reitora. Em 1967, Ana Dayse entrou na Ufal para fazer o curso de Medicina. Antes, chegou a cursar um ano de Odontologia porque havia perdido o vestibular de Medicina. "Embora estivesse bem aclimatada com Odontologia, algumas amigas insistiram para eu fazer o vestibular novamente, fiz e passei em Medicina. Teve uma coisa boa nesse retardo. Entrei na Ufal, uma estudante mais madura, pude ter uma compreensão diferente", revela.
O trote de Medicina foi um evento desse período que marcou a vida de Ana Dayse. "Era diferente do que acontece hoje. Como a gente tinha necessidade de protestar, o trote era um desfile. Nós passamos por várias ruas do Centro, com o policiamento acompanhando o tempo todo. Saímos da Praça da Faculdade e andamos todo o comércio. Era um orgulho desfilar, tendo passado no vestibular de Medicina. A Ufal era e ainda é o sonho de todo estudante do ensino médio", afirma.
A reitora conta que, na sua época de estudante, o curso de Medicina funcionava onde hoje é o ICBS (na Praça da Faculdade); a parte prática era realizada na Santa Casa. "Todo o curso foi feito entre a Praça da Faculdade e a Santa Casa. O HU já estava sendo construído, mas só começou a funcionar com a presença do Hope", explicou.
Era pleno Regime Militar quando Ana Dayse começou o curso de Medicina. "As coisas eram mórbidas. Foi uma época difícil. A turma era unida, mas o regime era forte. Tivemos colegas universitários desaparecidos", recorda.
Quando Ana Dayse começou a lecionar na Ufal, no ano seguinte ao da sua formatura, era só o início da carreira acadêmica: fez Residência em Saúde Pública, em São Paulo, e mestrado nessa mesma área; foi chefe de Departamento cinco vezes, em períodos diferentes; diretora do Centro de Ciências da Saúde; vice-reitora e, por fim, reitora, atualmente em seu segundo mandato. "Não imaginava que seria professora de Medicina. Comecei a despertar para a carreira acadêmica como monitora, quando era estudante. Meu primeiro emprego foi na Ufal. Tudo que conquistei, devo a universidade; tudo que sou e aonde cheguei. Tive a oportunidade de me qualificar, conhecer instituições, pessoas diferentes, aprender a ser pesquisadora", destaca.
Entre 2001 e 2003, Ana Dayse teve uma experiência profissional fora da Ufal, que, segundo ela, foi decisiva para melhor avaliar o papel da universidade.
"Fui secretária de Educação do Município. Nesse cargo, pude ver de perto a educação do seu início, enxergar a Ufal de fora. Passei a ter um olhar externo. Comecei a perceber que a universidade tinha uma grande dívida com a educação do Estado. A Ufal forma professores para atuar na sociedade e no mercado de trabalho. Esse foi um momento que me motivou a ser reitora para contribuir com a educação de Alagoas", ressalta.
De acordo com Ana Dayse, essa experiência na Secretaria de Educação permitiu um olhar sobre o que a universidade deve fazer pela Educação Básica do Estado. "Eu não tive dúvidas quando a Ufal aderiu ao Processo de Expansão, de Educação à Distância e de Cotas", disse.
Liberdade: uma luta do Diretório dos Estudantes
Assim como aconteceu com a reitora Ana Dayse Dorea, a Ufal começou a fazer parte da vida do professor Radjalma Cavalcante quando ainda era estudante. Atualmente, ele é aposentado, mas continua lecionando na Ufal, como voluntário. Era 1965 quando o professor entrou para a faculdade de Economia. O curso ficava instalado em um casarão antigo, na Praça dos Martírios. Nesse mesmo ano, o inquieto jovem de 19 anos foi eleito presidente do Diretorio Central dos Estudantes (DCE). Como representante dos estudantes, Radjalma passou a fazer parte do Conselho Universitário.
O professor recorda de fatos curiosos ocorridos durante o período em que esteve à frente da presidência do DCE. Um deles foi a apresentação do espetáculo teatral "Liberdade liberdade", com o ator Paulo Autran, no Teatro Deodoro, em 1967. "A apresentação dessa peça foi resultado de uma luta do DCE, contrariando o Regime Militar, que não queria esse espetáculo aqui porque era considerado subversivo. Não me conformei, fui a Recife, esperei Paulo Autran acabar o espetáculo que apresentou lá e contei a verdadeira razão da proibição. Ele havia sido informado que o motivo do cancelamento era falta de espaço na agenda do teatro. Depois, fui ao Diário de Pernambuco, que na época era muito lido aqui em Alagoas, para sugerir uma pauta sobre a proibição da peça".
De acordo com o professor, o jornal publicou a manchete: "Governador proibiu exibição de 'Liberdade, liberdade' em Maceió. Estudantes farão hoje uma grande passeata". De volta a Alagoas, Radjalma pretendia organizar a passeata, mas não foi preciso.
"Ao saber da publicação, o governador ordenou que o delegado liberasse a peça", lembra. Depois da apresentação, Radjalma colocou uma placa no Teatro Deodoro com os dizeres: "Neste teatro, Paulo Autran cantou a liberdade. Homenagem dos universitários. 11/01/1967". A placa foi inaugurada por Paulo Autran e pelo reitor Aristóteles Calazans Simões, o A.C, Simões - cujo nome intitula o campus atualmente.
Ligação com Arte e Política - Outra façanha do jovem universitário também foi ligada às artes e à política.
Ainda em 1967, retornou a Recife, representando o DCE, para solicitar que o Grupo Severiano Ribeiro liberasse uma programação especial para a sessão matinal de sábado no Cinema São Luiz. Assim, foi criado o Cinema de Arte de Maceió, no qual era realizada uma programação especial, organizada por uma comissão composta por Radjalma e outras personalidades atuantes no meio cultural alagoano à época.
Os filmes selecionados tinham temática política/social. "Todos os sábados, o cinema ficava lotado de estudantes da universidade e, após a exibição, havia debates com a plateia sobre o filme. Foram exibidas centenas de fitas, até que, em 1976, dez anos depois, por pressão do Governo Militar, o cinema de arte foi desativado", conta.
O professor lembra que, na época de estudante, as faculdades eram todas instaladas no Centro: onde hoje é o ICBS, era a faculdade de Medicina; no Espaço Cultural, funcionava o curso de Engenharia; na Praça Monte Pio, onde hoje é localizada a OAB, ficava a Faculdade de Direito; o curso de Filosofia era no Colégio Guido;
Odontologia era localizado onde atualmente funciona o Museu de História Natural, no Farol; e a Reitoria, na Avenida da Paz.
De acordo com o professor, nos dez primeiros anos da universidade - de 1961 a 1971 -, algumas faculdades funcionavam em prédios alugados. Por isso, a primeira grande preocupação do reitor A.C. Simões foi comprar um terreno para fazer um campus universitário, que começou a ser construído em 1965.
Em 1968, o primeiro prédio ficou pronto. A Faculdade de Economia foi a primeira a funcionar no campus, no prédio onde atualmente está localizado o ICHCA. O professor Radjalma recorda desse momento histórico.
"O reitor A. C. Simões pediu aos alunos e professores de Economia que fossem os pioneiros a inaugurar o Campus. Fomos transferidos para lá em julho e a formatura aconteceu em dezembro do mesmo ano. Foi o primeiro curso a se formar no campus A. C. Simões", recorda.